Borrachinha acumulou dívida antes do UFC. Hoje, se vê no auge e quer título
Quem vê Paulo Borrachinha como uma das estrelas brasileiras do UFC pode não imaginar que o mineiro de Contagem, hoje com 32 anos, passou por dificuldades financeiras pouco antes de entrar na principal competição do MMA. O brasileiro falou com o UOL e encara, na noite de hoje, o neozelandês Robert Whittaker no card principal do UFC 298.
"Passei perrengue"
O brasileiro iniciou no MMA com 19 anos, depois de dar aulas de informática, trabalhar com telemarketing e atuar como corretor de imóveis.
Nos três anos seguintes, ele engatou uma sequência de vitórias antes de entrar no The Ultimate Fighter 3, reality exibido pela Globo em 2014.
No programa, ele derrotou José Roberto Rocha no primeiro episódio e acabou escolhido para o time de Wanderlei Silva. Na sequência, no entanto, acabou derrotado por Márcio Lyoto, da equipe de Chael Sonnen, por decisão dividida.
Borrachinha não desanimou e seguiu vencendo adversários em lutas tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo.
O problema, nessa altura, era financeiro. O mineiro acumulou dívidas em busca do sonho de ganhar a vida como lutador quando, ainda morando no Brasil, recebeu o convite que mudou sua trajetória.
O convite do UFC mudou tudo, foi um divisor de águas. Eu passava um momento muito difícil e sem condições de me manter treinando. Passava um perrengue muito difícil em que acumulava dívidas para conseguir continuar treinando. Aí, surgiu a oportunidade de lutar no UFC. O UFC abriu as portas. E eu precisava agarrar com unhas e dentes Paulo Borrachinha, ao UOL
Daí para frente, Borrachinha virou estrela mundial: venceu cinco vezes — inclusive com direito a luta da noite contra Yoel Romero — antes de disputar o cinturão com Israel Adesanya.
Em meio à pandemia da covid-19 e as burocracias na pesagem, o mineiro perdeu do nigeriano e ficou sem o título. Em seu retorno, já em 2021, foi superado por Marvin Vettori.
O brasileiro retomou o rumo das vitórias em 2022, quando bateu Luke Rockhold por decisão unânime no que foi, até hoje, sua última luta — uma infecção no cotovelo o tirou de combate durante todo o ano passado.
Na noite de hoje, Borrachinha quer se colocar novamente na briga pelo cinturão. O adversário é o neozelandês Robert Whittaker, e o local traz boas lembranças: o Honda Center, onde o brasileiro superou Yoel Romero.
Borrachinha: da infância ao auge
Infância. "Eu gostava de jogar bola na rua. Na minha casa, tinham dois pés de mangas, e eu vivia subindo neles e fazendo casa na árvore. Vivia pela vizinhança indo nas casas onde tinha pé de algum tipo de fruta e subia: amora, goiaba... coisas normais de criança dos anos 90."
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Quero receberPrimeiro contato com a luta. "Quando fui para a escola, tinha bastante problema porque eu brigava muito. Eu queria saber me defender e como lutar. Aí, tinha uma academia — tem até hoje — na rua de cima da casa minha mãe. Passei lá, vi o pessoal lutando e fui conhecer. Aí eles estavam treinando taekwondo. Me matriculei e comecei."
Conciliação entre esporte e trabalho. "Fui crescendo, e na adolescência, dei aula de informática, trabalhei com telemarketing e fui corretor de imóveis. Sempre conciliando essas coisas com jiu-jitsu e muay thai. Aos 19 anos, resolvi lutar MMA. Já me imaginava um lutador."
Importância do irmão (e treinador). "Meu irmão é muito importante, ele é cinco anos mais velho que eu. Na adolescência, ele não gostava de ficar muito perto porque eu era muito jovem, e adolescente quer fazer coisas de pessoas com mais idade. Mas quando comecei a lutar MMA, por volta dos 19 anos, a gente se aproximou bastante, e ele tem sido meu professor desde que comecei. Somos bem unidos."
Entrada no TUF. "Foi uma experiência legal, e o que me surpreendeu foi estar perto de nomes renomados do esporte, eu estava apenas começando e tinha três lutas. Conheci caras como o Eric Albarracin, que estava no time do Sonnen. Eu fiquei muito amigo deles, mesmo sendo de time oposto. Foi uma experiência muito importante."
Melhor vitória. "A mais impressionante foi a que me levou pro título, contra o Romero, que foi justamente no Honda Center [palco da luta de hoje]. Me traz boas memórias. Esta luta vai ser um novo impulsionamento, como aquela também foi."
Pior derrota. "Foi contra o Adesanya. Eu cometi muitos erros antes da luta. Não estava apto, mas mesmo assim fui. Fui valente e não tive condições ideiais para lutar porque o corte de peso foi muito pesado e estávamos em pandemia, tudo fui muito diferente. Tive que ficar dez dias dentro de um quarto em Londres, depois cheguei em Abu Dhabi e fiquei mais sete dias dentro do hotel. A perda de peso teve que ser modificada, o que atrapalhou bastante. Tive que fazer muito exercício para perder o peso e isso cobrou o preço na noite anterior. Não conseguia dormir e tudo aconteceu."
Cirurgia no cotovelo. "Tive duas lutas canceladas. Fiz três cirurgias, peguei infecção. Os médicos tiveram que abrir para limpar. Mas a gente tem que enfrentar o que a vida oferece, infelizmente há coisas que não fazem parte do nosso controle. É preciso saber lidar. Tem que ser forte e superar."
Qualidades e defeitos de Whittaker. "É um cara experiente, já foi campeão e é muito rápido. O ponto fraco é estar com a mentalidade, acredito eu, um pouco fragilizada. Para vencer a luta, é finalizar ou nocautear ele, acabar com a luta rápido."
Planos futuros. "2024 é o ano de lutar pelo título, chegou o momento. Tenho treinado e evoluído muito. Estou pronto. Vencendo o Whittaker, vou lutar pelo título. Estou no meu auge."
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