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Brasileira elogiada por Magic Johnson fica perto da WNBA: 'Até chorei'

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

15/04/2024 04h00

A menina que deu os primeiros quiques na bola em uma quadra de uma escola pública de Montes Claros, Minas Gerais, cresceu — bastante, literalmente —, e está a um passo de entrar na principal liga feminina de basquete do mundo.

A brasileira Kamilla Cardoso vive a expectativa dos dias que antecedem o draft da WNBA (Women's National Basketball Association), que será realizado na segunda-feira (15).

Estou muito ansiosa. Isso é o que eu sonhei, o motivo de eu ter me mudado para os Estados Unidos: chegar ao draft. Estou muito feliz que esse momento, finalmente, chegou. Vai ser uma realização de um sonho
Kamilla

A atleta, de 22 anos e 2,01m, teve uma agenda cheia na última semana, e não à toa. No domingo ela se sagrou bicampeã universitária nos Estados Unidos e eleita a melhor da decisão.

Kamilla atua pelo South Carolina Gamecocks. A equipe representa a Universidade da Carolina do Sul.

"Tem sido tudo muito emocionante e uma correria, mas aquela correria boa, que traz um calorzinho para o coração, que nos deixa feliz. Foram várias comemorações, e também várias reuniões, ainda mais com o draft agora na segunda-feira. Então, tive reuniões com vários treinadores da WNBA", contou.

O que é o draft?

Draft pode ser lido como "recrutamento". É um processo onde os jogadores amadores são alocados nos clubes da liga, e é comum nos esportes dos Estados Unidos. Há também draft em ligas no Canadá, Austrália e Japão.

No ano passado, a pivô brasileira Stephanie Soares foi escolhida pelo Washington Mistics. Em seguida, ela foi trocada com o Dallas Wings.

Elogio de Magic Johson

Kamilla foi elogiada por Magic Johnson, um dos grandes jogadores da história da NBA. Em uma rede social, ele fez uma postagem enaltecendo a atuação da brasileira.

Foi muito emocionante, eu chorei. Fiquei muito feliz! Ele é um dos melhores armadores da história do basquete, então poder receber um elogio de uma pessoa assim como ele foi muito gratificante

Johnson fez história com a camisa dos Los Angeles Lakers e dos EUA. Ele foi cinco vezes campeão da NBA e três vezes MVP do campeonato, além da medalha de ouro nas Olimpíadas de 1992, com o "dream team" americano.

Como Kamilla chegou aos EUA?

Kamilla nasceu em Montes Claros, Minas Gerais. Ela começou a jogar basquete na escola onde estudava, que pertence à rede pública de ensino.

Desde cedo, chamava a atenção pelo porte físico. Por causa do basquete, conseguiu uma bolsa em um colégio particular.

Depois de uma competição de nível escolar, surgiu a chance de realizar o "sonho americano". Ela embarcou aos 14 anos, para fazer o ensino médio nos Estados Unidos — inclusive, abriu mão de um convite para atuar em Portugal.

"Eu tive um campeonato, se eu não me engano em Poços de Caldas, onde eu recebi a oportunidade de jogar nos Estados Unidos. Conversei bastante com a minha mãe e falei que queria ir. Meu agente [Fabio Jardine] conseguiu uma escola para o high school, no Tennessee", lembra.

A saudade da família é amenizada através de ligações. A pivô conta que fala com a mãe e a irmã quase diariamente. Em um mercadinho próximo à residência, consegue produtos que costumava consumir no Brasil, como achocolatado, leite condensado e guaraná. No som, ritmos como pagode, sertanejo e funk.

Tênis de presente da ídola

Kamilla aponta Érika de Souza como inspiração no basquete. A pivô de 42 anos está no Sesi Araraquara, e teve passagem marcante pela WNBA e seleção brasileira — ela se despediu do time nacional há algumas semanas.

Érika presenteou Kamilla com um tênis quando a jovem dava os primeiros passos no basquete. A pivô do South Carolina Gamecocks ressalta que, sempre que pode, lembra à Érika a admiração que tem por ela.

Meu pé é muito grande e minha mãe não tinha condições de comprar tênis de basquete. Nem tinha meu número também. A Érika foi quem me deu um dos meus primeiros tênis de basquete

Erika Souza e a australiana Elizabeth Cambage Imagem: REUTERS/Sergio Moraes

"Assim que recebi, conversei bastante com ela e sempre falei que ela é a minha inspiração. Quando eu fui com ela para a seleção, sempre assistia à forma que ela treinava e tentava fazer da mesma forma, para sempre melhorar", completou.

Os obstáculos

Um das primeiras barreiras foi a língua. Mas houve outros obstáculos para uma jovem recém-chegada.

"Eu não falava inglês, só sabia "hi", "yes" e "no" (risos). E era uma cultura diferente, uma comida totalmente diferente. Eu estava acostumada com a comida da minha mãe, então isso foi um dos maiores obstáculos. Perdi bastante peso e tive o acompanhamento de uma nutricionista no high school para reequilibrar", conta.

Kamilla também fez treinos extras. "A exigência era outra, foi uma grande diferença. Fazia umas três horas de treinos extras e academia todos os dias, foquei também na nutrição para ganhar massa".

Seleção brasileira e recado

A pivô integra a seleção brasileira e tenta levar um pouco da experiência que adquire nos EUA. A pivô esteve, por exemplo, na campanha vitoriosa no Sul-Americano de 2022, quando foi eleita a melhor jogadora da competição.

"Aqui é muito física, muito forte, então, quando eu vou para a seleção, tento levar isso comigo. Às vezes, converso com os treinadores sobre algumas jogadas que dão certo na faculdade e que, talvez, possam ser legais".

Ela agradeceu pelo carinho que vem recebendo da torcida brasileira. "Muito obrigada por ter me acompanhado. Espero que continuem me acompanhando, independentemente do time que eu for na WNBA. Um recado para todo mundo que está começando no esporte é: não desista dos seus sonhos, invista em você. Para Deus, tudo é possível. Eu saí do Brasil com 14 anos, não falava inglês, não sabia nem para onde eu estava indo direito, e eu cheguei onde eu cheguei. Sou uma prova de os sonhos são possíveis"

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