'É o Senna!': o dia em que o piloto bateu no carro de uma família de fãs

Era janeiro de 1989 e Ayrton Senna estava de férias no Brasil, pilotando sua Mercedes TL 1110 pela zona norte de São Paulo, onde nasceu e cresceu. Mas seu descanso foi interrompido depois que ele tentou fazer uma curva no sinal vermelho, acertando em cheio um carro que seguia reto. Com um detalhe: a família dentro dele era sua fã.

Rosa Avilez estava acompanhada do marido Dorival e da filha Daniela. Muito religiosa, ela conta que sonhava em encontrar com o piloto e que chegou a orar para que isso acontecesse algum dia.

Eu queria muito falar com ele, mas pensei que era impossível. Eu tinha uma boutique, mas atendia fora também e fui visitar uma cliente em um horário fora do esperado. Estava indo pra casa dela quando ele bateu - foi ele que bateu no meu carro, afirma Rosa ao UOL, rindo ao lembrar da situação inusitada.

A primeira a notar quem era o motorista foi Daniela, que tinha apenas 13 anos na época.

"Minha filha gritou: 'mãe, é o Ayrton Senna'. Na hora, olhei para o outro lado da rua e ele estava lá. Ele nos deu o cartão de um hotel na França com o número de telefone anotado e disse: 'vou sair daqui porque a TV tá vindo e eu bati no seu carro, fica chato, né?'."

Recorte da Revista Placar de 27 de janeiro de 1989, com Dorival Santana, Rosa Avilez e a filha Daniela
Recorte da Revista Placar de 27 de janeiro de 1989, com Dorival Santana, Rosa Avilez e a filha Daniela Imagem: Reprodução/Acervo Placar

No impacto, o carro da família levou a pior — e precisaria de mais reparos. A Mercedes de Senna ficou apenas com alguns amassados no capô e no para-choque, segundo matéria da revista Placar, publicada na época.

Essa foi a primeira e única vez que Rosa viu o piloto pessoalmente. Mas, segundo ela, os dois se "reencontraram" por telefone, quando ele ligou para falar sobre o conserto do Corcel II, ano 1978, dirigido por Dorival.

Evangélica, a lojista conta que pôde falar com ele sobre religião - parte da família do piloto, como sua irmã Viviane, praticam o mesmo culto.

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Eu falei tanto tempo com ele, não sei como ele não desligou. Mas eu falei pra ele cuidar de quem estava com ele, sobre como temos pouco tempo nessa vida e que ele podia morrer em uma batida dessas, que ele tinha que parar um pouco com isso.

A história terminou no conserto do carro da família, que ficou "zero": "lindo, lindo, até mais do que era."

Senna morreu há exatos 30 anos, pouco mais de cinco depois do encontro com a família de Rosa. Ele sofreu um acidente durante o GP de San Marino, em uma pista em que acumulava recordes.

Rosa, que o admirava mais como pessoa do que como piloto, lamenta que ele tenha morrido em "uma daquelas corridas doidas."

Sempre gostei dele e da família também, que é muito boa. Ele era muito educado, sofri quando ele morreu porque era um homem sensacional.

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