6 indiciados, 1 culpado e nenhum preso: quem foi julgado por morte de Senna
A morte de Senna colocou o mundo do automobilismo de luto há 30 anos. O acidente indiciou seis pessoas na Justiça italiana, com o inglês Patrick Head, ex-sócio e cofundador da Williams, sendo responsabilizado — mas ele não cumpriu a pena.
O que aconteceu
Em 1997, a Justiça italiana indiciou seis pessoas. Frank Williams (fundador da equipe), Patrick Head (ex-sócio e cofundador da Williams), Adrian Newey (projetista), Roland Bruynseraede (inspetor de segurança da FIA), Giorgio Poggi (diretor de Ímola) e Federico Bendinelli (administrador da empresa Sagis, que controlava o circuito).
Todos os envolvidos foram inocentados na primeira e segunda instâncias. O juiz alegou falta de elementos da promotoria para provar a causa do acidente no GP de San Marino, em Ímola.
O Ministério Público da Itália recorreu à Suprema Corte e, em maio de 2005, o tribunal culpou Head por negligência na mudança na coluna de direção da Williams de Senna. A equipe britânica recorreu, mas dois anos depois a corte manteve a decisão, sem absolver Head.
Em 2007, Patrick Head foi o único responsabilizado pelo acidente: homicídio culposo (sem intenção de matar). O diretor técnico da Williams à época, porém, não cumpriu a pena porque a sentença foi anunciada 13 anos após o acidente —a ação prescreveu.
A causa do acidente foi a ruptura da barra de direção, causada pela modificação mal projetada e executada, conduzindo a um comportamento culposo e omisso de Head, já que o acontecido era previsível e evitável, dizia a sentença.
Head deixou a rotina da F1 em 2011. Com a crise da Williams em 2019, ele retornou para assumir o cargo de consultor técnico, mas não acompanha o circuito. Aos 77 anos é uma figura influente no time.
O que motivou o acidente?
A investigação apontou que a quebra da barra de direção (coluna de direção) foi determinante para o acidente trágico. A coluna de direção foi o ponto de debate por conta de um pedido de ajuste de Senna.
O piloto estava incomodado porque suas mãos batiam na borda do cockpit quando virava o volante. A solução encontrada pela Williams, então, foi diminuir a altura da coluna de direção, deixando a direção mais distante do corpo.
A intervenção no carro virou motivo de conflito. A equipe inglesa alegou que a mudança foi feita de forma correta. A investigação dos peritos, no entanto, apontou que a quebra da coluna ocorreu na solda da barra.
O outro lado. Williams e Adrian Newey, em suas defesas, apontaram que ondulações no asfalto provocaram uma queda na pressão dos pneus.
A instabilidade teria feito Senna perder o controle do carro. Para a equipe, a coluna de direção só teria sido afetada no momento do choque do carro com o muro.
A verdade é que ninguém jamais saberá exatamente o que aconteceu. Não há dúvida de que a coluna de direção falhou e a grande questão era se ela falhou no acidente ou foi a causa do acidente. Ela tinha rachaduras por fadiga e teria falhado em algum momento. Não há dúvida de que seu design era muito ruim. No entanto, todas as evidências sugerem que o carro não saiu da pista como resultado de uma falha na coluna de direção.
Adrian Newey, em entrevista ao 'The Guardian' em 2011
Projetista famoso quase abandonou a Fórmula 1. Newey segue em alta e tem o seu nome atrelado ao domínio da Red Bull nos últimos anos. O casamento dura 18 anos e rendeu títulos de construtores e pilotos. Ele falou como a morte de Senna, em 1994, o modificou.
O pouco cabelo que eu tinha caiu depois. Então isso me mudou fisicamente. Foi terrível. Tanto Patrick Head quanto eu nos perguntamos separadamente se queríamos continuar nas corridas. Queríamos estar envolvidos em um esporte onde as pessoas podem morrer em algo que temos criado?
Adrian Newey
Senna conquistou três títulos na Fórmula 1 (1988, 1990 e 1991) e morreu com 34 anos. Ao todo, foram 41 vitórias, 65 poles positions e 80 pódios. O brasileiro disputou 161 GPs durante 11 temporadas (guiando os carros da Toleman, Lotus, McLaren e Williams).
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.