Ele bombou ao correr da Neo Química ao Allianz. Agora, fará 42 km 'em casa'

Pedro Paulo era um professor de educação física anônimo até o ano passado, quando viu sua vida mudar despretensiosamente após uma corrida rotineira pelas ruas do Rio de Janeiro — a cidade, aliás, será palco de um grande desafio: ele vai fazer 42 km na Maratona do Rio.

Correr é bom demais!

Conhecido como "Treinador PP", o carioca passou a utilizar a corrida como válvula de escape na pandemia. Morador do bairro Maria da Graça, zona norte do Rio, ele deixava sua casa ainda na madrugada e percorria diferentes trechos — quase nunca planejados — da cidade antes de trabalhar, de fato, já na parte da manhã.

Em um desses dias, já no ano passado, ele levou o celular e decidiu mostrar a atividade aos seus seguidores. O vídeo bombou e o sucesso foi instantâneo: o que era uma simples publicação virou parte de sua vida.

Com o bordão "Correr é bom demais, tá maluco!", Pedro já acumula 440 mil seguidores no Instagram e milhões de visualizações no TikTok. As corridas extrapolaram o Rio, e ele produz conteúdos em diferentes estados do país.

No meio de 2023, minha esposa estava grávida e, em uma dessas saídas de casa às 3h para correr, acabei levando o celular. Muito estressado, pouco sono... Levei o celular, que era algo que nunca fazia. Aproveitei para filmar e postar, aí as coisas se desenrolaram. Eu tive muito mais visualização do que de costume e comecei a produzir conteúdos do tipo. Toda vez que eu saía para treinar, filmava, e a coisa viralizou em um nível absurdo. Continuo treinando para me divertir. Não quero performar, mas correr de modo com que eu me sinta feliz e ser o mais longevo. Eu só passei a filmar. Treinador PP, ao UOL

Da Neo Química ao Allianz

No mês passado, Pedro desembarcou em São Paulo com uma missão que envolve outra paixão, o futebol. A viagem, inclusive, serviu para o botafoguense conhecer o estado vizinho pela primeira vez ao ganhar a passagem de uma aluna.

O objetivo era ousado: iniciar uma corrida na Neo Química Arena, casa do Corinthians, e chegar até o Allianz Parque, estádio do Palmeiras. Os locais estão separados por quase 30 km — e por toda a linha vermelha, a mais cheia do metrô paulistano.

A saga começou às 7h15 (de Brasília) em Itaquera e durou cerca de 2h30, com direito a corrida em viadutos, tensão com caminho errado e perguntas sem respostas de paulistanos sobre localização.

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Vi que do Morumbi para o Palmeiras era relativamente perto, e o distante seria Corinthians-Palmeiras. Perguntei para o cara da própria pousada: 'lá de Itaquera para o Palmeiras, demora muito?'. Ele falou: 'pega o metrô e tal...'. Falei: 'e para ir a pé?'. Ele falou: 'cara, não tem como, não dá'. Na hora bateu o estalo e falei: 'vou fazer esse'. Acordei no outro dia, pedi um Uber e arrebentei. Zero planejamento Treinador PP, ao UOL

Desafio "em casa"

Pedro Paulo, mais conhecido como "Treinador PP", correrá 42 km no Rio
Pedro Paulo, mais conhecido como "Treinador PP", correrá 42 km no Rio Imagem: Divulgação/Adidas

Pedro tem pela frente uma prova bastante especial: a Maratona do Rio. Ele foi convidado pela Adidas e fará o trajeto mais longo da tradicional prova de corrida de rua.

A distância de 42 km, aliás, é inédita. O carioca, acostumado a correr 21 km com frequência, já chegou a superar a marca de 35 km, mas ainda não engatou uma sequência como a que vai passar no próximo dia 2 de junho.

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O objetivo, como ele sempre diz, é "se divertir" na etapa, mas há também uma meta: fazer o percurso em menos de quatro horas.

Essa prova é praticamente plana. O corredor pode esperar vistas espetaculares: o tempo todo, você estará rodeado de água salgada do mar do Rio em um percurso praticamente plano. Vai ser, com certeza, uma prova rápida. Não tem como não imaginar que vai ser algo perfeito. Estou muito animado para chegar nesta prova. Treinador PP, ao UOL

Conheça mais sobre o Treinador PP

Começo. "O gosto pela corrida foi natural, sempre pratiquei esportes, principalmente futebol, então tem que saber correr. Foi daí que começou o amor pela corrida."

Primeira prova. "Eu já tinha 23 anos. Fui convidado por um amigo que falou para eu correr 5 km. Eu não entendia muito e topei. Fiquei exausto porque não me preparava. Uma coisa é correr jogando bola, outra é correr em uma prova, que você precisa ter uma constância maior. Fiquei exausto, mas senti um clima muito diferente.

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Conciliação treinos com trabalho. "Eu continuo trabalhando como professor de educação física, mas tenho tido a oportunidade fazer trabalhos pontuais até fora do estado. Neste período, não tem como estar na academia e gravar vídeo ao mesmo tempo. Meu horário em academia diminuiu bastante."

De motivado a motivador. "Isso tem sido bastante interessante para mim, porque eu tinha o hábito de tentar motivar as pessoas, mas motivava de um em um, hoje motivo de milhares em milhares. Me dá uma sensação muito boa. A dica número um é: não esquente a cabeça demais. Às vezes, a gente problematiza coisas que são simples. A corrida tem que ser natural. Veste uma roupa confortável e se diverte um pouquinho, faz um pouquinho em um dia, um pouco no outro e descansa no terceiro. Aí vai aumentando a carga gradualmente. Vai pensando em se divertir, mas não com restrição calórica mirabolante ou pensando em melhorar performance rapidamente. Se você pensar só em se divertir, você vai longe."

Percursos planejados? "No início e até há um mês, o improviso era quase 90% do que acontecia. As falas são 100% improvisadas, mas os percursos nem tanto. Hoje em dia, tenho planejado muito mais, até porque estou correndo fora do meu lugar, então preciso ter algumas ideias antes de começar. Não é nenhum planejamento muito rebuscado, é bem simples: 'eu vou sair daqui e chegar ali, vamos ver quantos quilômetros dá antes de fazer?'. Não tem muito planejamento, mas existe alguma coisa hoje em dia. No início, era sair de casa e decidir se correria para a esquerda ou direita. E eu ia até onde minha pernas e meu tempo permitiam."

Da Neo Química ao Allianz. "Chegou bem perto dos 30 km. Demorei umas 2h30 para concluir o percurso. Perrengue em si, por incrível que pareça, não passei por nenhum, tirando apenas o fato de eu me perder. Tive uma sensação ruim porque estava em uma cidade que nunca tinha ido e ninguém me informava perfeitamente. Uma coisa é você perguntar e a pessoa falar: 'não tenho ideia, mas sei que tem que ir para a esquerda'. Em São Paulo, era: 'pega o metrô, o trem, o ônibus'. Isso me deixou um pouco ansioso durante a corrida. 'Será que não vou chegar?'. Foi a única corrida, de todos os vídeos que postei, que tive que puxar o celular para botar no GPS. Falei: 'não quero ficar perdido aqui no meio, daqui a pouco a energia vai acabar — porque a energia acaba, todo mundo que corre sabe —, vou seguir pelo GPS'. E mesmo com GPS eu me perdi. Não é tão fácil o caminho, não."

Pior e melhor lugar. "O que tive mais dificuldade foi esse de São Paulo por esse problema de ficar perdido. De dificuldade estratégica, por ter sido um treino relativamente perigoso pelas vias que peguei, foi indo para o clube do Nova Iguaçu, que também chegou perto dos 30 km. Tive que pegar a via Dutra e passei por trechos longos. O melhor lugar que já corri? Gosto do meu trajeto Maria da Graça-Maracanã, já fiz tantas vezes..."

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Do Rio para o mundo? "Por mim, iria em cada capital do país treinar. Hoje, estou em Belo Horizonte, fiz um treino divertidíssimo e amanhã farei outro. Eu rodaria todas as capitais do país fazendo treinos. Amo correr, e filmar está sendo divertido. Se eu pudesse ter essa rotina, seria agradabilíssimo. [...] A coisa que mais gosto e nunca tive oportunidade de fazer é viajar. Conhecer novas culturas, idiomas, pessoas. Meu sonho seria poder trabalhar viajando e correndo, poder ter essa vida conhecendo novos lugares."

Perigo durante treinos. "Saio muito confiante e pensando em me divertir. Não penso em ser assaltado, em ver gente dirigindo um carro de forma imprudente... Nunca me aconteceu nada enquanto estava correndo. Como bom carioca, de vez em quando tenho problemas, mas não relacionado à corrida. Algumas ameaças já aconteceram, mas roubo de fato nunca ocorreu. Já teve pessoa totalmente alterada, com uso de droga, que me deu pressionada: 'o que está fazendo aqui?'. E eu respondo de volta: 'o que está fazendo aqui'. Isso já aconteceu algumas vezes. Já aconteceu de carro ou moto passar por mim e retornar. Tenho que estar ligado, até por isso não corro de fone: caso eu precisar me evadir, estou esperto. Eu corro pensando em me divertir, mas ligado."

Correr é bom demais? "A corrida, para quem está começando, tem que ser algo natural. Não force a barra e não queira resultados espetaculares no início. Só vai para a rua. Vamos ocupar nosso espaço, a rua é feita para corredor também."

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