Paralímpico mais rápido do mundo, Petrúcio mantém a hegemonia mundial
Luís Augusto Símon (Menon)
Colaboração para o UOL
02/06/2024 04h00
O paralimpismo brasileiro tem reconhecimento mundial e algumas estrelas que causam burburinho aonde chegam. É o caso de Petrúcio Ferreira dos Santos, o velocista mais rápido do mundo na categoria T47 para amputados de braço.
"Muitos atletas me conhecem, pedem para tirar selfie comigo. Em Londres, eu era reconhecido na rua, é uma alegria muito grande", diz o multimedalhista, que venceu o campeonato mundial pela quinta vez seguida, em Kobe, no mês de maio. Antes, havia ganhado em Londres-17 (100m e 200m) e Dubai-19 (100m e 400m).
É bicampeão olímpico nos 100m, no Rio-16 e em Tóquio-20. No Rio, foi prata nos 400m e revezamento 4x100m e em Tóquio, foi bronze nos 400m.
Não para por aí. São cinco ouros em três jogos Parapan-americanos, de 2015 a 2019.
O mundo é pequeno para Petrúcio, mas São José do Brejo da Cruz, onde nasceu e viveu ate os 15 anos é infinitamente menor. Tem 1800 habitantes e fica a 400 quilômetros de João Pessoa, na Paraíba.
Em 1998, com dois anos, o acidente. Uma máquina de moer capim moeu seu braço esquerdo até perto do cotovelo. "Não tenho memória, era muito novo, só lembranças contadas pelos outros".
Se não se lembra do acidente, faz questão de esquecer o bulling que sofria na escola. "Existia, é claro, mas eu não ligava, sempre me aceitei como era, nunca me achei inferior a ninguém."
Petrúcio era jogador de futsal e se destacava mais pela velocidade do que por alguma habilidade. O professor Pedrinho, lá da cidade, o aconselhou a pensar no atletismo. A ideia ganhou força quando ele viu, pela televisão, as Paralimpíadas de Londres e se identificou com os velocistas. Encontrou sua turma, queria ser igual a eles.
Dois anos depois, foi convocado para a seleção de jovens e a partir daí, as medalhas contam a história.
Os treinos são duros. De segunda a sábado. Pela manhã, há um revezamento entre academia e fisioterapia. E à tarde, sempre na pista. A luta é para diminuir os efeitos da perda do braço. "Meu lado direito, com antebraço, é mais pesado. Então cria um desequilíbrio, principalmente nas curvas, mas na reta também. A tendência é o corpo ser puxado pelo lado direito. É nosso foco diminuir esse efeito".
Na pista, a meta é simples e ambiciosa. "Quero diminuir os meus tempos nos 100m e 400m. Assim, as medalhas chegam".
Petrúcio sonha em disputar uma Olimpíada, talvez no revezamento 4x400m. Seria um reconhecimento a mais. "Gosto de ser considerado um exemplo de atleta e de superação, mas não apenas de velocidade. Superação de vida mesmo, ter saído do interior, conquistado medalhas para o Brasil e dado bens materiais para minha família".
Uma mudança pautada pelo esporte, claro. "Ele mudou minha vida. Me tornou uma pessoa mais sociável, mais aberta. O esporte me abraçou e consegui enfrentar o mundo".
Enfrentar e derrotar, claro.