Recordista sul-americana, Mafê mira sucesso agora em Paris: 'Vai dar certo'
O combo de técnica, velocidade e mente saudável é essencial para a corrida contra o tempo na natação. Em menos de dois anos, Maria Fernanda Costa provou isso: ela baixou expressivamente seus tempos nas provas de 200m e 400m livre, bateu recordes sul-americanos e se tornou a principal atleta da seleção brasileira nas piscinas atualmente.
A rápida evolução de uma atleta que começou a competir aos 14 anos — o que é considerado tarde no esporte — tem a ver com uma cadeira vazia à beira da piscina. Nós explicamos. Desde janeiro de 2023, Mafê começou a trabalhar com o técnico Fernando Possenti — multicampeão com Ana Marcela Cunha — e, após lutar muito, se rendeu aos papos pós-treino.
"O Fernando é uma pessoa que transmite muita confiança. Ele tem uma cadeira vazia ao lado da dele. Quando eu estou chateada ou insatisfeita com algo, eu sento lá. E todo final de treino, sempre tem alguém ali para conversar com ele. Por mais que eu lute muito para desabafar, eu sempre acabo cedendo, sento ali, e às vezes eu fico pensando: 'Por que eu não cedi antes?'", contou Mafê ao UOL.
"Em toda conversa que a gente tem, eu saio com mais certeza de que o trabalho está sendo bem feito e que vai dar muito certo. É isso que ele passa para mim com todo o trabalho dele, com tudo que ele tem pra ensinar pra gente, pro grupo inteiro", acrescentou.
Possenti conta que a cadeira surgiu em 2021, mas a ideia inicial era convidar profissionais de outras áreas do complexo Maria Lenk a acompanharem os treinos da natação. No fim, ela ganhou um significado especial para os atletas que já demonstraram ao técnico o quanto valorizam a presença daquele lugarzinho ao lado dele.
"A Natália Almeida — que treina comigo também — falou: 'Você não tem ideia da importância dessa cadeira'. É uma cadeira não só de conversa, mas de feedback imediato, de dizer como você está se sentindo, o que você achou do treino, o que pode ser melhor, como você enxerga a semana... E mais da metade das vezes ela nem é para isso. Às vezes, as atletas querem só conversar, falam da vida pessoal, da família, dos problemas que estão passando", contou Possenti.
Através destas conversas, o técnico consegue afinar o treino de cada atleta da melhor maneira possível e isso, consequentemente, contribui na evolução da equipe.
"Muitas vezes, elas querem só serem ouvidas e trazem coisas muito importantes, porque são informações que te dão capacidade de ajustar o treino e a carga que está sendo dada mediante aquilo que elas estão relatando. É um feedback muito importante. A cadeira vai estar sempre ali, seja para um minuto, dois ou dez, porque às vezes a conversa se resolve em dois minutos, já em outros momentos são dez minutos ali batendo um bom papo", detalhou o treinador.
Match entre xarás
Maria Fernanda e Fernando Possenti não combinam apenas no nome. Eles têm valores muito parecidos e não medem esforços para alcançarem os objetivos. Foi isso que levou ambos a acertarem a parceria em minutos no fim de 2022.
"Quando eu tive a minha reunião com o Fernando para mostrar meu interesse em entrar na equipe, ele simplesmente virou pra mim e perguntou meus objetivos e questionou se eu estava disposta a fazer tudo pra conseguir o que queria. Eu falei que eu estava e ele respondeu que conseguiríamos. Se ele tem essa certeza, por que eu vou duvidar?", contou Mafê.
"Começamos a trabalhar no dia 2 de janeiro e, dali em diante, ela começou a colocar em prática tudo que ela me mostrou desde a primeira conversa, de que ela realmente queria chegar onde ela está chegando e ainda vai longe", projetou Possenti.
Com resiliência e confiança do treinador, Mafê chegou rapidamente ao topo. Finalista de Mundial, recordista sul-americana nos 200m e 400m livre e recordista brasileira nos 800m livre, a nadadora prefere manter os pés no chão e focar no sonho: chegar nas Olimpíadas e ter um bom desempenho.
"Não tenho 100% a dimensão de tudo o que conquistei até agora e dessa evolução. Eu acho que eu também nem quero ter, porque o meu maior objetivo sempre foi a Olimpíada, meu maior sonho sempre foi a Olimpíada. Ter conquistado tudo isso, ter a vaga, me deixa muito feliz e muito grata. Mas eu ainda não fui, eu ainda não cheguei lá em Paris", refletiu Mafê.
"Então, eu estou indo realizar um sonho, né? Parece que está faltando alguma coisa ainda. Eu estou com aquela sensação de que, embora já tenha alcançado muitas coisas legais, ainda não cheguei a conquistar o que eu realmente quero", destacou.
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