Brasileiro tem 5 anos de espera por sonho no UFC após doping e morte do pai
Antônio Trocoli estava a um passo de estrear no UFC em 2019. O baiano havia acabado de conquistar seu contrato após impressionar o chefe da organização com uma finalização mesmo com o pé fissurado, mas foi flagrado no antidoping. Pegou gancho, perdeu tudo.
Voltou da suspensão, teve duas lutas desmarcadas de última hora e ainda lidou com a perda do pai, morto em uma abordagem policial. A espera pelo sonho chegaria ao fim cinco anos depois, mas foi adiada mais uma vez. O UOL conversou com Trocoli antes de sua luta cair do UFC Vegas 93.
Nova frustração
O brasileiro de 33 anos faria sua estreia neste sábado (15), mas teve a luta cancelada na véspera. Seu adversário, o russo Ikram Aliskerov, foi promovido para o embate principal do UFC Arábia Saudita com a lesão de Khamzat Chimaev e enfrentará Robert Whittaker na semana que vem. Como o estreante ficou sem oponente, o duelo caiu.
Foi a terceira luta desmarcada de Trocoli desde que voltou da suspensão. O lutador encararia Ovince St. Preux em dezembro de 2022, mas teve problemas com seu visto nos EUA; em maio deste ano, ele se lesionou antes de enfrentar Oumar Sy. Agora, mais um contratempo.
Sua tão aguardada estreia no UFC foi postergada e não tem previsão de data. Antes da nova frustração, ele estava com o "coração em paz". Agora, terá que erguer a cabeça novamente enquanto aguarda mais um pouco para enfim pisar no octógono da maior organização de MMA do mundo.
Doping e morte do pai
O baiano esperou por sua chance após cumprir nove meses de gancho por doping. Ele testou positivo para nandrolona (um esteroide anabolizante) após a luta que o credenciou para o UFC, em 2019, e vem lidando com as consequências de seu ato desde então. Sincero, admitiu o uso da substância durante um período fazendo musculação, sem treinar MMA, e disse que se arrepende: "Depois que passei por isso, nem água de academia bebo mais".
Trocoli, que só fez uma exibição oficial desde 2019, nunca desistiu do sonho. Ele ouviu que precisava se provar novamente depois do doping e venceu, em novembro de 2021, a única luta que disputou, pelo Brazilian Fighting Series 3. O lutador afirmou que recusou participar de mais eventos, preferindo ficar fora de ação, para não correr o risco de não chegar mais ao UFC.
Em meio a isso, enfrentou o luto da morte do pai em uma ação policial: "Ele foi assassinado à queima-roupa". O pai do lutador morreu em dezembro de 2021 em Salvador depois de ser abordado por policiais. Trocoli diz que foi uma execução.
Teve essa tragédia do meu pai, em uma abordagem policial ele foi assassinado à queima-roupa. Tenho vídeo do meu pai com a mão na cabeça, ele foi executado. Foi uma loucura. Foi uma fase muito.. Foi muita força de vontade e convicção de que eu ia chegar mesmo. Só segui nesse sonho. Não tenho mais nada além da minha filha e meu sonho do UFC. Antônio Trocoli, ao UOL
Ele se mudou sozinho para os EUA e fez até faxina para se sustentar e não abandonar os treinos. Vendo seu dinheiro acabar e gastando em dólar, precisou se virar com o que conseguia. "É como na luta. A gente perde, mas levanta a cabeça, vai treinar mais e volta mais forte". Tem pela frente outro teste de resiliência.
Vim do Brasil, cheguei aqui com dinheiro na conta, comecei a treinar aqui, a gastar mais dinheiro, vezes cinco, pagando aluguel. Meu dinheiro em real foi acabando. Entrei em aplicativo, trabalhei, fiz até faxina, mas não parei de treinar, de acreditar. A gente é isso, tem que correr atrás. Não pode fazer o errado, roubar, matar.