Frustração em 2004 virou motivação de Natália Falavigna pelo bronze em 2008
Logo em sua primeira participação em Olimpíadas, nos Jogos de Atenas-2004, Natália Falavigna fez uma campanha memorável, mas acabou batendo na trave na disputa pelo bronze. Quatro anos depois, a brasileira transformou a frustração em motivação para, finalmente, levar a primeira medalha olímpica do taekwondo brasileiro, em Pequim-2008.
Em conversa com o UOL, Natália detalhou o processo de oito anos em busca da medalha. Enquanto esperava para entrar no tatame para a disputa do bronze, a atleta viu o filme de Atenas passar pela sua cabeça.
"Foi uma frustração muito grande que eu só resolvi trabalhando muito, colocando todos os dias o compromisso de fazer o meu melhor. Acho que foi muito legal, porque ter vivenciado o processo de não ter tido sucesso ou estar muito próxima me trouxe uma experiência na minha formação, na minha carreira e até no meu trabalho hoje", comentou.
"Lidei com um peso emocional grande até durante outro ciclo. Naquela época, eu já fazia trabalho psicológico, eu procurei auxílio, ajuda e montei uma equipe que me desse suporte para que eu, caso estivesse na mesma situação — e aconteceu —, conseguisse reverter e ter um resultado positivo", acrescentou.
Todo esse trabalho multidisciplinar, com suporte em saúde mental, funcionou. Em 2008, durante as Olimpíadas de Pequim, Natália também entrou na disputa pelo bronze. A brasileira chegou a perder a semifinal e o revés de 2004 veio à cabeça, porém a página foi virada para a construção de um capítulo novinho em folha: a conquista da primeira medalha olímpica do taekwondo nacional com uma vitória por 5 a 2 sobre a sueca Karolina Kedzierska.
"Passou um filme na minha cabeça. Quando eu saí do tatame, fui sentar numa salinha sozinha. Lembrei que eu trabalhei quatro anos para entregar o meu melhor, era o meu foco naqueles Jogos Olímpicos. Podia ser a primeira luta, podia ser a última, eu tinha que sair de lá de cabeça erguida. Realizamos treinos para o corpo, mente e espírito", relatou Natália.
O pensamento de Natália, então, esnobou a derrota e focou em todo o trabalho de anos pelo esporte. Ela sabia que era um processo longo e difícil, porém muito prazeroso. A brasileira entendeu que teria que gastar energia com aquilo que conseguiria controlar.
"O destino, então, me colocou na mesma posição, e a maneira com que eu entrei, até brinco, fiz algumas escolhas táticas até parecidas. Todo esse processo veio num clique, e eu acho que tudo se conectou. Foi um momento mágico, porque todo o trabalho se encaixou sem eu gastar energia. Naquele dia, todo aquele compromisso que eu tive durante quatro anos, eu realmente consegui colocar à prova, e eu vi que eu me venci, todas aquelas batalhas durante quatro anos valeram a pena", contou.
Compartilhar a experiência
Natália Falavigna é, hoje, gestora esportiva do Comitê Olímpico do Brasil. Com isso, a brasileira compartilha experiências que viveu no esporte aos atletas olímpicos e às novas gerações.
"É um projeto de vida, não tem como. Esse processo começa muito antes, na primeira faixa, no primeiro jogo. Ter passado esse processo de entender o tamanho da responsabilidade que a gente tem quando a gente cuida das carreiras esportivas, desse processo de chegar até os Jogos Olímpicos, cria essa empatia entre todos. A gente sabe o quanto é importante para cada atleta, o quanto isso representa na vida de cada pessoa", destacou.