Acelerar sem medo e andar de lado são regras para pilotar na Mitsubishi Cup
Vitor Matsubara
Colaboração para o UOL, em São Paulo
03/08/2024 05h30
Passava do meio-dia quando o engenheiro da Spinelli Racing, empresa responsável pela preparação de todos os carros da Mitsubishi Cup, me chama com certa pressa. "A gente precisa ir o quanto antes".
Foram poucos minutos para vestir macacão, luva, sapatilha e balaclava antes de entrar na L200 Triton Sport R reservada para convidados que participam da quarta etapa da temporada 2024 da prova de rali, realizada em Termas de Ibirá (SP).
Esta seria minha segunda experiência pilotando um carro de rali - coincidentemente, a primeira foi em um veículo da Mitsubishi e também para o UOL. Mas posso garantir que foi tudo diferente de antes.
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Últimas dicas antes da largada
Enquanto colocava o capacete e o Hans, ouvi as instruções do engenheiro. "É um carro muito fácil de pilotar, só lembre de pisar na embreagem até o fundo e fazer o movimento de "H" antes de trocar as marchas".
A largada seria em menos de 10 minutos, que pareceram uma eternidade para mim. Por sorte estava bem acompanhado por Matheus Mazzei, navegador campeão do Rally dos Sertões, a prova mais tradicional e desafiadora do Brasil. Neste tempo tive uma aula básica com direito a alguns macetes. "Parece estranho, mas, quanto mais você acelerar, menos a picape vai pular".
A L200 Triton usa um motor 2.4 turbodiesel, que entrega 225 cv. Como todos os veículos da categoria, ela foi produzida na própria linha de montagem da Mitsubishi, em Catalão (GO), onde deixa de ser uma picape de rua e recebe as mudanças necessárias para virar um carro de rali.
Aqui não tem nada de câmbio sequencial, mas a transmissão tem engates bem fáceis. Curiosamente (e para minha sorte), a picape tinha ar-condicionado, o que aliviava um pouco o calor na cabine.
Fazendo a curva (quase) de lado
Com o tempo comecei a pegar alguns macetes da pilotagem. Antes de cada curva fechada, Mateus pedia para pisar no pedal do freio com toda a força possível para forçar uma saída de traseira.
A partir daí, é "só" contornar a curva (acelerando, é claro) e contra esterçar — manobra que consiste em virar o volante para o lado oposto à curva — na hora certa para retomar o prumo. Dominar essa manobra é essencial para impedir que você veja o mundo de ponta cabeça, já que, no meio da curva, qualquer desnível no caminho pode fazer o carro capotar.
É preciso cautela no acelerador até em linha reta. Como a traseira é extremamente leve, o condutor precisa estar sempre atento para fazer a picape retomar seu rumo, sobretudo em pisos com pouca aderência, como areia fofa.
Mesmo com capacete e a voz do Matheus ecoando na minha cabeça (piloto e navegador se falam por um intercomunicador), o nível de ruído na cabine beira o ensurdecedor, mesmo andando a menos de 40 km/h. Além disso, todas as pedras que batem na lataria são ouvidos, já que todo o isolamento acústico é retirado para aliviar peso.
Acelerando no matagal
Logo ganhei confiança para acelerar um pouco mais. Nos trechos planos ou com curvas mais suaves consegui chegar a 80 km/h. Parece pouco, mas não quando se está no meio de um matagal cheio de pedras e desníveis. A sensação de velocidade e a adrenalina são enormes.
Só que a ideia não era competir, e sim viver a experiência de pilotar um carro de rali — tanto é que minha volta nem foi cronometrada para não estimular a competitividade antes que algo desse errado. Feliz de voltar com a L200 inteira para os boxes, tirei o capacete com a certeza de que pilotos e navegadores de rali são seres sobrenaturais - ou então algo muito perto disso.
A próxima etapa da Mitsubishi Cup acontece em 28 de setembro, em Ribeirão Preto (SP). Se quiserem me convidar, já estou lá.