Redes sociais ajudam a desromantizar esporte, diz Vitória Gomes em painel
Na última terça-feira (6), a Casa UOL Esporte sediou um painel sobre a importância das redes sociais como ferramenta de difusão do esporte e conexão com o público. Com apresentação de André Hernan, a discussão trouxe Eduardo Brandini, Head de Parcerias no YouTube, o lutador Maurício Ruffy e a triatleta amadora Vitória Gomes para discutir o papel das novas plataformas no mundo esportivo.
Citando dois grandes nomes do futebol, Brandini lembrou que hoje as redes sociais não têm apenas um papel de conexão com o público, mas podem ser usadas como lembrança da evolução dos atletas. "As visualizações que mais tem no canal do Santos é quando o Santos começou o seu canal ali no YouTube, e são as playlists do Neymar. Você tem o seu início de carreira. Então, se um dia você quiser estudar a carreira do Neymar, não existe um local documentado melhor que as playlists do Santos".
"O Vini Jr, quando ele foi jogar na Europa, o canal dele no YouTube era sobre uma vida dele além de atleta. Então, você já conhecia o Vinícius Júnior, uma baita contratação do Real Madrid, nas redes sociais eu acompanho o Vinícius Júnior em vídeo, como é a vida dele de atleta, mas como é o Vinícius Júnior como pessoa? Era a estratégia dele no YouTube especificamente, mostrar o Vinícius Júnior que joga videogame, que frequenta casa, como é que é ele em casa", explicou o executivo, que disse acreditar que o YouTube pode ter dupla serventia para atletas como rede social.
Criadora de conteúdo, Vitória vê as redes sociais como ferramenta importante para atletas olímpicos buscando se manter em destaque após o fim dos jogos. "A gente está nas Olimpíadas, então, o tempo todo, está todo mundo vendo TV e tudo mais, mas uma hora as Olimpíadas vão acabar e só vão acontecer daqui a quatro anos. E uma forma da gente continuar acompanhando a vida dos atletas, se inspirando, admirando e contribuindo também, porque quanto mais público, mais apoio para eles", argumentou a atleta amadora. "A rede social traz isso, de aproximar as pessoas, gerar mais um senso de comunidade."
Quem sentiu o peso da comunidade formada pelas redes foi Ruffy. Depois de uma das estreias mais elogiadas da história do UFC, o atleta teve um salto gigantesco em seu número de seguidores no Instagram, indo de cerca de 3 mil seguidores para a atual contagem de 113 mil. Com a conexão com o público da rede, o lutador anunciou que abrirá seu canal no YouTube para ampliar seu alcance. "Tem sido um transformador. Tenho recebido muitas, muitas mensagens de pessoas me parabenizando, falando que, pô, tem se espelhado e dado o sentido aí da vida da galera. Isso é muito legal".
Para Vitória, esse apoio conquistado através das redes a ajudou em um momento delicado de sua vida e a impulsionaram a focar em objetivos cada vez maiores. "Essa mudança na minha vida também trouxe muita mudança na minha rede social, porque hoje eu me comunico através de um propósito, sabe? Entendo o quanto o esporte fez bem para mim, pra minha vida, como é o caminho pro meu aprimoramento pessoal e por que não compartilhar isso nas redes sociais? Como eu mudei meu estilo de vida? Como é minha rotina? Então, de forma geral, meu conteúdo é muito orgânico, porque realmente eu vivo aquilo ali. Obviamente, quando tem alguma exigência de marca, a gente faz um briefing e pensa num conteúdo mais elaborado, mas de forma geral, até para não impactar os meus treinos, eu tento sempre ter alguém filmando quando tá acontecendo ao vivo, sabe?"
A humanização do atleta na rede
Embora uma maior presença nas redes sociais ajude atletas profissionais a captarem maiores patrocínios em um país em que o apoio ao esporte fora do futebol ainda é raro, os painelistas veem essas plataformas também como uma forma de fazer o público entender o quão pesada é a rotina de um atleta de alto rendimento. "É uma rotina de titãs, de guerreiros", argumentou Vitória. "Não é fácil, não é romantizado. É trabalho. A Rebeca [Andrade, medalhista de ouro na ginástica em Paris] fala muito isso nas entrevistas dela, né? 'É o meu trabalho dando certo, meu trabalho realizado', porque a gente que leva o esporte a sério - por mais que eu seja uma atleta amadora, eu levo muito a sério -, são ali, no meu dia a dia, três horas de treino. Eu imagino que para eles seja muito mais. Essa superexposição [com as Olimpíadas] faz com que a gente tenha a oportunidade de conhecer um pouco mais deles".
Falando na rotina pesada de treinos, Ruffy lembrou que, antes de uma luta, chegou a perder 16kg em 48 horas, algo que alguém fora do esporte poderia considerar impensável. "Foi um super desafio. Mas depois desse evento, eu consegui nocautear o cara muito rápido. 15 segundos de luta, e daí o pessoal começou a me olhar com outros olhos. E eu tive mais tempo pra me preparar [além das 48 horas]. Mas as pessoas que estão do outro lado não sabem dessa realidade, né? Então, as redes sociais, dão a oportunidade para passar essa verdade pras pessoas entenderem que realmente o atleta vive todos os dias ali. E cada pessoa que tá ali eu admiro muito. Porque eu sei da entrega, é um preço muito alto a se pagar, e como eu vejo o pessoal aqui na Olimpíada se entregando, se preparam por tanto tempo para uma competição, é uma entrega, assim, que é surreal."
Para Eduardo, plataformas de transmissão e vídeos sob demanda como o YouTube serão importantes para manter o esporte democratizado quando os esportes olímpicos perderem o espaço das Olimpíadas na TV aberta. Citando a ginástica olímpica e o tênis de mesa, o executivo afirmou que o site se tornou o incentivo que levou atletas a se profissionalizar. "Eu fico muito feliz que no YouTube é onde você pode encontrar esse nicho. Jamais a gente vai conseguir fazer com que o badminton tenha 2 milhões de aparelhos simultâneos, como estava aqui no futebol. Mas se hoje você assistir a Olimpíada e falar assim, cara, badminton, acho que é esse o esporte que eu tenho talento, você não tem mais a barreira de saber mais, ou de assistir, ou de entender mais sobre aquilo."
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Os painéis da Casa UOL Esporte acontecem de segunda a quinta-feira, às 18. As ativações na Octavio House, em São Paulo e têm entrada gratuita.
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