Casagrande: 'Usei a camisa do Palmeiras e fui linchado por corintianos'
Walter Casagrande refletiu sobre o clima de violência no futebol, que ele afirma ser maior hoje comparado à sua época de jogador. Em entrevista ao Alt Tabet, do Canal UOL, o ex-atleta citou como exemplo a ocasião em que foi "linchado" por corintianos por ter usado camisa do Palmeiras.
Casagrande explicou que usou camisa do Palmeiras para se exercitar, mas foi criticado nas redes sociais. "Gosto de ir no Parque do Ibirapuera caminhar. Eu sou corintiano, mas coloquei a camisa do Palmeiras e fui linchado nas redes sociais. Não estou nem aí. Eu gosto do futebol. Tenho admiração pelo Palmeiras. Joguei no São Paulo, adoro o [clube]. O Santos do Pelé, eu amo. E assim por diante".
O ex-jogador destacou que seu amor pelo esporte se sobrepõe às críticas. "Não me preocupo com isso. Coloco minha paixão pelo futebol para fora independente do que os torcedores de hoje vão achar de mim. Eu coloco a camisa que eu quiser porque eu tenho admiração pelos clubes".
Ele ressaltou que antigamente não via rivalidade como a de hoje entre as torcidas, com xingamentos, ameaças mútuas e represálias contra os atletas. "As redes sociais deram voz para um monte de gente violenta, racista, homofóbica, machista. Não generalizo, mas tem um grupo que faz esse tipo de coisa. Os torcedores passaram de rivais para serem inimigos, e alguns clubes também. Eu não concordo quando um jogador ganha e tira sarro com o outro clube, isso passa para o torcedor e coloca os torcedores em guerra".
Hoje o cara [jogador] não consegue ir ao supermercado se ele estiver mal no time dele. Fazem ameaças nas redes sociais, ameaçam a família [do atleta]. Isso não é normal na sociedade, não faz parte da relação social das pessoas.
Casagrande relembra amizade com Sócrates: 'O amor da minha vida'
O ex-atacante afirmou que sua relação com Sócrates era de entrosamento dentro e fora dos gramados. "A minha relação [era] de amor com o Magrão, a nossa união como pessoas, jogadores. Dois caras que se entrosaram muito bem dentro do campo e foram percebendo aos poucos que fora do campo tinham quase tudo em comum e se apaixonaram".
Ele destacou que o ídolo corintiano foi sua "alma gêmea". "O Magrão é o amor da minha vida. A cara metade nem sempre é homem e mulher. Não tem essa mentalidade de o homem com pensamento machista procurar uma mulher que seja sua cara metade, alma gêmea. As coisas acontecem naturalmente e a minha alma gêmea é o Magrão. O amor da minha vida, ponto. Não tem mais o que dizer. Cada um interprete como quiser".
Casagrande diz que Telê não gostou de votação contra corte na Seleção
Casagrande recordou que Telê precisaria cortar cinco nomes dos 28 convocados que ele levaria para a Copa do Mundo de 1986. "Aquilo criou clima de tensão, porque tinha um grupo grande batalhando para não ser cortado. O Telê ficava testando os jogadores. Eu acho que ele pensou: 'Em 1982 o time foi bem, um dos melhores da história e não ganhou'. Para 1986 ele colocou na cabeça o seguinte: 'vou fazer do jeito que eu quero, porque se perder a bomba vai cair na minha mão'. Então ele ficou muito rude, as relações foram muito difíceis, ele começou se irritar com brincadeiras que na preparação de 1985 ele não se irritava".
Para a parte de cortes, Telê teria adotado critério que desagradou os atletas, sobretudo com Renato e Leandro, o que motivou a votação interna. "Em 1986 ele cortou o Eder porque deu cotovelada no jogador da seleção peruana — ele poderia ter sido punido, mas não daquela maneira. O Renato e o Leandro chegaram atrasados na concentração, e ele queria cortar o Renato, mas não o Leandro. Nós jogadores fizemos uma reunião e falamos 'vamos fazer uma votação para ver se a gente acha se tem que cortar ou não'. A maioria votou para eles ficarem, mas o Telê não gostou porque ele queria cortar [o Renato], ele não gostou do nosso comportamento democrático naquele momento".
Apesar da votação, Santana deixou Renato de fora da lista de convocados, o que provocou a ira de Leandro, recordou Walter. "Quando chegou no último corte, ele cortou o Renato, mas não o Leandro. Ele cortou porque já tinha bronca pelo jeito do Renato, não pela bola, e o Renato estava no auge, seria importantíssimo. Aí o Leandro não quis ir. Numa tacada só nós perdemos um dos melhores laterais direito da história do futebol e nós perdemos um dos grandes pontas direita daquele momento por questões pessoais do Telê".
Alt Tabet no UOL
Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Walter Casagrande:
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