Casagrande diz que Telê não gostou de votação contra corte na seleção

Walter Casagrande disse que Telê Santana ficou insatisfeito com a "postura democrática" adotada pelos jogadores da seleção brasileira de 1986. Em entrevista ao Alt Tabet, do Canal UOL, o ex-atacante contou que, na ocasião, foi feita uma votação para decidir se dois atletas que o técnico queria cortar de fato mereciam ser tirados do time.

Casagrande recordou que Telê precisaria cortar cinco nomes dos 28 convocados que ele levaria para a Copa do Mundo de 86. "Aquilo criou um clima de tensão, porque tinha um grupo grande batalhando para não ser cortado. O Telê ficava testando os jogadores. Eu acho que ele pensou: 'Em 82 o time foi bem, um dos melhores da história, e não ganhou'. Para 86 ele colocou na cabeça o seguinte: 'Vou fazer do jeito que eu quero, porque se perder a bomba vai cair na minha mão'. Então ele ficou muito rude, as relações foram muito difíceis, ele começou a se irritar com brincadeiras que na preparação de 85 ele não se irritava".

Para a parte de cortes, Telê teria adotado um critério que desagradou os atletas, sobretudo com Renato Gaúcho e Leandro, o que motivou a votação interna. "Em 86 ele cortou o Éder porque deu cotovelada no jogador da seleção peruana. Ele poderia ter sido punido, mas não daquela maneira. [Já] Renato e o Leandro chegaram atrasados na concentração, ele queria cortar o Renato, mas não o Leandro. Nós jogadores nos reunimos e falamos: 'Vamos fazer uma votação para ver se a gente acha que tem que cortar ou não'. A maioria votou para eles ficarem, mas o Telê não gostou porque ele queria cortar [o Renato], ele não gostou do nosso comportamento democrático naquele momento".

Apesar da votação, Santana deixou Renato Gaúcho fora da lista de convocados, o que provocou a ira de Leandro, recordou Casagrande. "Quando chegou no último corte, ele cortou o Renato, mas não o Leandro. Ele cortou porque já tinha bronca pelo jeito do Renato, não pela bola, e o Renato estava no auge, seria importantíssimo. Aí o Leandro não quis ir. Numa tacada só nós perdemos um dos melhores laterais direito da história do futebol e um dos grandes pontas direitas daquele momento, por questões pessoais do Telê".

Casagrande lembrou ainda que sua relação com o técnico ficou complicada. "A nossa relação pessoal começou a pesar e eu pensei: 'Ele está me engolindo. Não é que ele me queria lá, mas eu estava bem na preparação, fui artilheiro das eliminatórias em 85'. Mas eu não era preferência como comportamento e nós tivemos uma relação muito difícil antes da Copa".

A seleção brasileira de 1986 foi eliminada nas quartas de final nos pênaltis para a França. O time canarinho deixou a competição sem perder uma única partida no tempo regulamentar.

Casagrande relembra amizade com Sócrates: 'O amor da minha vida'

O ex-atacante afirmou que sua relação com Sócrates era de entrosamento dentro e fora dos gramados. "A minha relação [era] de amor com o Magrão, nossa união como pessoas, jogadores. Dois caras que se entrosaram muito bem dentro do campo e foram percebendo aos poucos que fora do campo tinham quase tudo em comum e se apaixonaram".

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Ele destacou que o ídolo corintiano foi sua "alma gêmea". "O Magrão é o amor da minha vida. A cara metade nem sempre é homem e mulher. Não tem essa mentalidade de o homem com pensamento machista procurar uma mulher que seja sua cara metade, alma gêmea. As coisas acontecem naturalmente e a minha alma gêmea é o Magrão. O amor da minha vida, ponto. Não tem mais o que dizer. Cada um interprete como quiser".

'Coloquei a camisa do Palmeiras e fui linchado por corintianos nas redes'

Casagrande explicou que usou camisa do Palmeiras para se exercitar, mas foi criticado nas redes sociais. "Eu gosto de ir no Parque do Ibirapuera caminhar. Eu sou corintiano, mas coloquei a camisa do Palmeiras e fui linchado nas redes sociais. Não estou nem aí. Eu gosto do futebol. Tenho admiração pelo Palmeiras. Joguei no São Paulo, adoro [o clube]. O Santos do Pelé, eu amo. E assim por diante".

O ex-jogador destacou que seu amor pelo esporte se sobrepõe às críticas. "Não me preocupo com isso. Coloco minha paixão pelo futebol para fora independente do que os torcedores de hoje vão achar de mim. Eu coloco a camisa que eu quiser porque eu tenho admiração pelos clubes".

Ele ressaltou que antigamente não tinha essa rivalidade de hoje entre as torcidas, com xingamentos, ameaças mútuas e represálias contra os atletas. "As redes sociais deram voz para um monte de gente violenta, racista, homofóbica, machista. Não generalizo, mas tem um grupo que faz esse tipo de coisa. Os torcedores passaram de rivais para inimigos, e alguns clubes também. Eu não concordo quando um jogador ganha e tira sarro com o outro clube, isso passa para o torcedor e coloca os torcedores em guerra".

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Alt Tabet no UOL

Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Walter Casagrande:

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