Mais de dez anos se passaram desde o dia em que Jéssica "Bate-Estaca" Andrade fez a sua estreia no UFC, em 2013. De lá para cá, a lutadora de Uruarama (PR) subiu 27 vezes no octógono da principal organização de MMA no mundo, tornou-se referência no esporte e continua querendo mais. Muito mais.
Neste sábado (7), no UFC Vegas 97, ela faz o seu 28º combate na história da organização em duelo do peso-mosca (57 kg) contra a promissora Natália Silva, no octógono do UFC Apex. As brasileiras fazem a co-luta principal do evento que tem Gilbert "Durinho" Burns x Sean Brady como combate final.
Aos 32 anos, "Bate-Estaca", para a alegria de seus fãs, ainda está longe de deixar o octógono. A meta é chegar a 40 lutas no UFC, o que a colocaria no topo da lista dos brasileiros com mais lutas na organização. O recordista é Rafael dos Anjos, com 35 combates.
Mulher com mais lutas no UFC e única lutadora com vitórias em três divisões de peso, a ex-campeã do peso-palha também está entre os brasileiros que mais venceram no UFC: são 17 vitórias, cinco a menos que Demian Maia e Charles Oliveira, os líderes deste ranking com 22.
Quero continuar lutando dentro do UFC, pelo menos terminar minha carreira com umas 40 lutas. Já tenho 28, então logo chega. Quem sabe mais uns dez anos? Mentira [risos]. Acho que mais dez anos não aguento, mas acredito que até uns 38 quero estar lutando, continuar esse legado, e continuar sendo a maior lutadora, com mais lutas e mais vitórias dentro do UFC. E quero também ter a oportunidade de botar o cinturão de novo. São coisas que venho almejando para minha carreira já faz um tempo, e espero conseguir concluir a partir do ano que vem
Saudade do Brasil
Nos Estados Unidos desde 2020, Jéssica Andrade está com saudades do Brasil e planeja voltar ao país natal depois da luta deste sábado ou, no mais tardar, no começo do ano que vem. A ideia é montar uma academia e ajudar os novos talentos a alcançarem uma carreira tão vitoriosa quanto a que ela conseguiu no MMA.
Hoje eu já tenho uma mente mais formada do que quero. Venho fazendo história, muitos anos dentro do UFC, acho que eu sou uma grande referência pra muitas mulheres, para outros atletas que vem agora, então isso me deixa muito feliz. Às vezes não consigo enxergar tudo isso que as pessoas enxergam em mim, mas acho que isso é uma qualidade que tenho, porque eu sempre quero evoluir, sempre quero melhorar
O que tenho em mente agora é voltar para o Brasil, montar minha academia e ficar lá, com o Tiago Kamura [empresário], ter um projeto social. Quero estar perto da minha mãe, da minha família, e começar essa nova fase. A gente quer poder dar oportunidade para os atletas que estão vindo, para que eles possam também treinar junto com a gente
O que mais ela disse
Luta contra brasileiras. "Por mais que a gente entenda que chega um momento dentro do UFC e na nossa carreira que não tem pra onde correr, porque as brasileiras estão virando grandes prospectos dentro do Ultimate e a gente vai acabar se encontrando, mesmo assim é muito ruim ter que lutar com outras brasileiras. A gente sabe que alguém vai ficar pra trás e a gente quer ver todos os brasileiros andando no topo, mas pra mim vai ser uma luta muito boa".
Mais fácil lutar com gringos. "Primeiro tem a questão do corner, porque como a luta vai ser na Apex, não tem muita torcida, o teu adversário consegue escutar o que o treinador está falando, então, lutando com outro brasileiro, ele vai entender tudo que o meu corner vai estar falando, e eu tudo que o corner dela está falando, então, assim, vamos ter que colocar uns codinomes [risos], umas coisas diferentes para chegar lá na hora e um não ver o que o outro vai fazer. E contra um americano, você não precisa disso, você pode falar na tua linguagem, a pessoa não está entendendo nada, então vai que vai [risos]".
O que sabe sobre a adversária. "Eu já vejo muitas lutas da Natália, a gente já se encontrou várias vezes lá no UFC. Não somos melhores amigas, mas nos conhecemos e eu já tive também algumas lutas dela no Apex, já torci bastante por ela, já gritei, já dei dicas, e agora eu vou ter que lutar com ela, mas eu tô muito feliz de poder fazer essa luta com ela".
Como deve ser a luta. "Sei que o estilo de luta dela é voltado para o taekwondo, então ela gosta de chutar. Se der espaço, ela vai chutar, então eu treinei muito, trabalhei muito em cima disso, de empurrar, de trabalhar os meus golpes, e sei que sou muito forte na trocação, meu jiu-jitsu é muito bom também, tem umas quebras muito diferenciadas que, depois que eu levo lá para o segundo andar, não tem como se defender, então eu estou pronta pra essa luta, estou feliz de lutar com a Natália, e feliz de estar lutando nessa categoria também, que é 125 libras, um peso mais tranquilo, não tem tanto esforço, tanta perda de peso drástica, então eu estou bem feliz de estar lutando e de lutar com a Natália"
O que faz antes das lutas. "Eu gosto de escutar música, de assistir filme, e tenho uma paixão gigantesca: eu monto Lego. Gosto de fazer compras também, de sair, andar? Não gosto muito de ficar muito parada, mas quando eu tô em casa, gosto de jogar videogame também".
Experiência ajuda a diminuir ansiedade. "Acho que faço até muita coisa para quem está esperando para lutar. Como já tenho 32 anos, e essa no caso vai ser a 28ª luta dentro do UFC, isso traz um pouco mais de tranquilidade, um pouco mais de experiência, de calma, então acho que comecei a entender que, quando você fica muito aflita, muito ansiosa, isso atrapalha a perda de peso, atrapalha na hora da luta, então eu tento relaxar o máximo possível, ficar tranquila, fazer minhas coisinhas de boa e, quando chega o dia, aí sim põe essa adrenalina pra fora".
Nervosismo só dentro do octógono. "No começo da minha carreira eu vivia no Brasil, então, quando vinha para os Estados Unidos, não tinha tempo de conhecer nada. Eu ficava a maioria do tempo dentro do hotel, e não saía pra fazer nada, ficava ali: 'Meu Deus, tenho que bater o peso'. Mas depois, com o tempo, eu fui relaxando, falei: 'Ah, quer saber, tem uma semana até a minha luta'. Aí fui conhecer os lugares, ver coisas diferentes, e isso trouxe para mim um relaxamento, uma paz maior, porque a gente tem que ter, sim, esse nervosismo, essa ansiedade e tudo mais, para te manter concentrado, mas isso é lá dentro do octógono. Fora dali, você tem que relaxar, tem que estar normal, porque até isso ajuda na perda de peso. Quanto mais tranquilo você está, quanto mais relaxado você está, melhor é a sua perda de peso. Mas depois que perder o peso, aí sim, bota adrenalina para dentro do corpo e 'vamos que falta pouco tempo para a hora da luta'. Mas isso veio com o tempo, no começo era muito difícil".
'Pressão' por cinturão BMF contra Joanna Jedrzejczyk. "Seria muito bom. Acho que seria como uma nova categoria aberta, com possibilidade de você lutar com todos os atletas de todas as categorias. A Joanna falou que lutaria, mas não em 115 libras, seria uma luta talvez em 57 [kg], para mim também seria muito bom. Acho que isso traz um novo prospecto, uma nova visão para as mulheres dentro do UFC. Ser campeã do cinturão do BMF seria uma coisa totalmente diferenciada para as mulheres. Acho que além do bom trabalho que a gente já faz, a gente ia se sentir mais valorizada, então estou insistindo nisso. Tomara que o Dana White e o UFC aceitem isso. Eu vou esperar o resultado com a luta com a Natália, e aí sim ter essa chance de poder falar ali em cima [do octógono]: 'E aí, Dana White, bora colocar o cinturão do BMF para jogo que nós também queremos ser as sinistras dentro do UFC?"
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