Hortência vê retrocesso em tentativa de reeleição no COB: 'Defender a lei'
A eleição do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que ocorre na próxima quinta-feira, está tirando o sono de alguns dos principais nomes do esporte. O motivo é a possível reeleição de Paulo Wanderley Teixeira que, se concretizada, poderá se configurar no terceiro mandato na visão deles.
A preocupação de uma série de atletas e de entidades como o Pacto pelo Esporte é o descumprimento do Artigo 18 da Lei Pelé, que garante melhores práticas de governança e transparência nos Comitês e Confederações de esporte ao prever que um dirigente deve comandar por no máximo oito anos consecutivos. O descumprimento pode culminar no cancelamento de recursos federais, inclusive o de loterias.
"Há muitos anos a gente vem lutando para que tenha transparência, alternância. Quando a gente consegue fazer com que os protagonistas do esporte, que são os atletas, tenham direito a voto, corremos um risco de ter um retrocesso. Não é uma coisa pessoal contra o Paulo Wanderley, nem contra a gestão dele. Só pedimos que respeitem a legislação. Não podemos ficar abrindo mão por causa de uma vírgula, por causa de uma coisa ou outra. Estamos aqui para defender a lei", disse Hortência, que é integrante da Comissão de Atletas e do Pacto pelo Esporte.
Paulo Wanderley assumiu a presidência do COB em outubro de 2017 após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, de quem era vice-presidente, e terminou o primeiro mandato em 2020. No ano seguinte, ele partiu para o segundo mandato que vai até o fim de 2024 após ser eleito.
Procurado, ele não respondeu às críticas dos atletas e entidades. O dirigente se apoia na liberação de sua candidatura pela Comissão Eleitoral, que referendou os entendimentos dos comitês de Conformidade e de Ética, que aprovaram sua disputa no pleito para um novo mandato e acreditam que ele está de acordo com o estatuto do COB e as leis Geral do Esporte e Pelé.
"Nada contra nenhum candidato. Nosso único ponto é a questão do terceiro mandato. Para nós, claramente, já está consolidado pelo Ministério do Esporte, pela regulamentação do parecer 52, a impossibilidade de concorrer a um terceiro mandato para quem foi 'vice-tampão', que é o caso do Paulo Wanderley. E isso é a impossibilidade de o COB receber recursos se caso ele for eleito. É um risco ao sistema, desnecessário", disse Daniela Castro, diretora executiva do Pacto pelo Esporte.
"Nós não estamos nos posicionando contra o candidato, mas a favor das regras estabelecidas pela 18A. Se o Paulo Wanderley for eleito vai gerar uma insegurança jurídica muito grande para repasse de recurso e um efeito cascata de tentativas em outras confederações que a gente acha que não tem necessidade, o esporte não precisa disso. E o caminho que o esporte estava trilhando era um caminho da governança", acrescentou Daniela.
Outro ponto levantado é a falta de posicionamento do Ministério do Esporte, que é atualmente comandado por André Fufuca. Ele está de férias e retorna após a eleição do COB.
"Nós procuramos o ministro. Falei com ele quando estava em Paris, nas Paralimpíadas. Ele falou que ia nos receber. O Ministério tem que se posicionar. É o órgão máximo do esporte brasileiro. Queria ir lá dizer para eles a nossa preocupação. Está de férias. Vai falar com a gente depois da eleição. Depois da eleição já era", lamentou Hortência.