Clube de remadores mortos em acidente tinha 2 passagens de avião e não usou
A equipe do projeto Remar para o Futuro, que sofreu um acidente na noite de domingo em que nove pessoas morreram, tinha direito a duas passagens de avião para a viagem, que seriam disponibilizadas pelo Comitê Brasileiro de Clubes para uso em competições nacionais. Os bilhetes não foram utilizados.
O que aconteceu
O projeto Remar para Futuro é vinculado ao Centro Português 1º de Dezembro, do Rio Grande do Sul. O clube é integrante do Programa de Formação de Atletas do CBC desde 16 de fevereiro, como Aspirante.
Clubes aspirantes têm direito a usar duas passagens de avião para a participação em campeonatos nacionais interclubes. A equipe do projeto estava em São Paulo para o Brasileiro de Remo, disputado na raia olímpica da USP.
O Centro Português poderia ter manifestado o interesse nas passagens, mas não o fez. Em contato com o UOL, o CBC alegou que "no caso específico deste clube para este CBI (Campeonato Brasileiro Interclubes), não houve solicitação".
Coordenador do projeto Remar para o Futuro, Fabrício Boscolo disse não ter conhecimento sobre o benefício. Segundo ele, o técnico Oguener Tissot - que morreu no acidente - era o responsável pelas informações administrativas e gerenciais.
Lamentavelmente, eu não tenho conhecimento sobre isso. O Oguener tinha todas as informações administrativas e gerenciais. Agora, por favor: com nove atletas em uma delegação, se enviássemos duas pessoas de avião, as outras iriam como?
Fabrício Boscolo
CBC oferece até 8 passagens para clubes
O CBC é a entidade que reúne os clubes formadores de atletas no país e é um dos quatro integrantes do SND (Sistema Nacional do Desporto), que recebem verbas das loterias para fomentar o esporte. Os outros são COB (Comitê Olímpico do Brasil), CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) e CBCP (Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos).
A verba para as passagens vem do repasse das loterias. Cada clube associado pode pedir passagens para sete atletas e um técnico para um CBI por temporada. O Centro Português, porém, tinha status de aspirante, o que diminuiu a oferta de passagens.
Acidente matou sete atletas
Nove pessoas morreram em um acidente na noite de domingo em Guaratuba (PR). A van em que o time de remo estava foi arrastada por uma carreta que perdeu os freios.
Oito atletas e um técnico do projeto gaúcho, além do motorista, estavam no automóvel. Apenas um remador sobreviveu: João Pedro Milgarejo, de 17 anos. Ele foi internado no Hospital São José e recebeu alta na segunda-feira. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o atleta teve ferimentos leves.
O motorista da carreta também sobreviveu. Ele tem 30 anos e não teve a identidade divulgada.
Veja quem são as vítimas de acidente:
Oguener Tissot, 43, técnico. Ele foi um dos idealizadores do projeto Remando para o Futuro. Oguener coordenava a equipe que foi vitimada no acidente e tinha uma academia de remo com o seu sobrenome. O treinador deixa um filho de seis anos.
João Pedro Kerchiner, 17, atleta. Nas redes sociais, o jovem recebeu homenagens de amigos e familiares. "Hoje brilha lá no céu mais uma estrelinha", afirmou a tia de João.
Henry da Fontoura Guimarães, 17, atleta. Henry era estudante do Instituto Federal Sul-rio-grandense. Ele fazia curso técnico em edificações no campus Pelotas da instituição, que declarou luto oficial de três dias.
Samuel Benites Lopes, 15, atleta. Samuel era reservado nas redes sociais, mas a mãe dele, Erica Benites, costumava publicar registros das competições do filho, que sonhava em ser atleta olímpico. "Muito orgulhosa de ti meu filho. Tua dedicação sendo reconhecida.", afirmou em um dos posts.
Vitor Fernandes Camargo, 17, atleta. Vitor voltava de São Paulo com uma medalha de prata e também usava as redes sociais para compartilhar a vida de treinamentos. "O remo é algo que me dá motivação para acordar cedo todos os dias", afirmou em uma das publicações.
Angel Souto Vidal, 16, atleta. Ativa nas redes sociais, Angel fez uma série de publicações com os detalhes da viagem para São Paulo. Ela faria aniversário de 17 anos em duas semanas.
Nicole Colella Rodrigues da Cruz, 15, atleta. Nicole também compartilhava registros das viagens como atleta nas redes sociais. "Sou muito grata pela minha equipe de treino, toda equipe de suporte", afirmou, em uma das publicações.
Helen Belony, 20, atleta. Helen morava na periferia de Pelotas e era considerada uma "promessa no remo brasileiro". Filha mais nova de uma família de cinco irmãos, ela foi selecionada para treinar pelo projeto Remar para o Futuro aos 14 anos, quando ainda não sabia nadar.
Ricardo Leal da Cunha, 52, motorista. Segundo um colega, o motorista da van aceitou o trabalho de última hora. Em entrevista ao jornal Correio do Povo, Athos Tarouco, que dirigiria o veículo, contou que repassou o trabalho para Ricardo, que era vizinho dele, porque a viagem demorou a ser confirmada.
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