Como foi luta histórica de Maguila x Foreman: 'Passou uma carreta por cima'
Colaboração para o UOL
24/10/2024 16h45
O ídolo do boxe Adilson Maguila, que morreu nesta quinta (24) aos 66 anos, protagonizou uma luta inesquecível com o americano George Foreman em 1990, em Las Vegas. O brasileiro saiu nocauteado e reclamou: "Parece que passou uma carreta por cima".
Como Maguila foi parar em Las Vegas
Brasileiro percorreu um caminho de superação para chegar ao ringue com o ex-campeão mundial americano. Os críticos de Maguila diziam que ele só sabia nocautear com a direita. Após conquistar o título sul-americano em 1984, ele perdeu sua invencibilidade para o argentino Daniel Falconi e o holandês Andre van der Oetelar.
Por influência de seu patrocinador, Enrico Msisassi, dono da Olivetti, o ex-campeão mundial Miguel de Oliveira começou a treinar Maguila. "Ele parou de treinar socando pneus, que era o que arrebentava suas mãos. Passou a fazer fisioterapia. Eu treinava corrida junto com ele. Fazia os treinos lado a lado. Tudo junto. E quando fazia manopla, minhas mãos doíam, porque ele pegava forte demais. E olha que eu também fui um pegador, hein?!", relembrou Miguel ao UOL em 2020.
Uma vez, participando de um evento em Orlando, eu estava junto com o Maguila e havia uma máquina para medir a potência dos socos. E o Maguila deu uma porrada que deixou os empresários norte-americanos impressionados. Só o Foreman bateu mais forte que ele. Antônio Bernardo, árbitro da maioria das lutas de Maguila, ao UOL
Maguila não só venceu as revanches contra o argentino e o holandês, como passou a encarar outros — e mais desafiadores — lutadores. A estratégia inicialmente deu certo e ele foi alçado aos primeiros lugares do ranking mundial.
Em 1989, Maguila — que a essa altura já era preparado por Angelo Dundee, ex-treinador de Muhammad Ali— encarou Evander Holyfield. Mas o nocaute não só encerrou a luta como quase colocou um ponto final na carreira de Maguila. "Foi um nocaute terrível. Eu o acompanhei até o hospital, fiquei até as três horas da manhã. Quando ele acordou na maca, perguntou: 'Ué, onde é que eu estou?'", relembrou a esposa Irani. Mas ele ainda tinha mais uma luta marcada.
Maguila x Foreman
"Big George", como Foreman era conhecido, só havia caído diante de um lutador: Ali, o ex-pupilo do treinador de Maguila. Dundee pedia a Maguila nos treinos que não ficasse parado diante de George Foreman. O brasileiro tinha três sparrings para se condicionar adequadamente para o novo desafio. O footing era feito pelas ruas de Miami com o amigo David Cardoso.
O americano estava tranquilo e costumava dizer que, àquela altura da carreira, lutava por prazer. Foreman adorava boxe, tanto que mesmo depois de ter se convertido em pastor continuava treinando na academia que montou em sua cidade natal, Marshall, no Texas. Ele continuava forte e um "pegador" incrível.
Miguel de Oliveira e Antônio Bernardo concordaram: ficar parado na frente de Foreman era "suicídio". Ao UOL, o ex-técnico disse acreditar que a melhor estratégia para Maguila seria bailar até cansar o americano, lá pelo sexto ou sétimo round, e só depois partir para os golpes.
Mike Tyson aconselhou Maguila a bater embaixo e o brasileiro foi bem no primeiro assalto. Mas faltou agilidade e Foreman acertou seu famoso cruzado de esquerda definitivo no rosto do brasileiro faltando 30 segundos para o fim do segundo assalto. Quando Irani encontrou com o marido após a luta, constatou que o estrago tinha sido muito menor do que diante de Evander Holyfield. "Ainda assim, ele me disse: 'Passou uma carreta em cima de mim'."
A derrota é histórica, mas muito mais foi a carreira construída por Maguila, que se aposentou dos ringues em 2000. Foram 85 combates: 77 vitórias, 61 delas por nocaute, sete derrotas e um empate. 72% de vitórias por KO.
Seu impacto foi muito além do boxe. Maguila ainda foi comentarista econômico do "Aqui Agora", gravou um CD de pagode, teve uma associação filantrópica, ganhou o título da Federação Mundial de Boxe e virou lenda. Mas acabou nocauteado mesmo pela encefalopatia traumática crônica, doença que era herança de uma vida passada nos ringues.