Quem é a viúva de Maguila? Casal sofreu racismo e viveu junto por 40 anos
Colaboração para o UOL
24/10/2024 17h59
Ídolo do boxe, Maguila morreu nesta quinta (24) aos 66 anos por complicações de encefalopatia traumática crônica (ETC), também conhecida como a demência do pugilista. Ele deixa três filhos e a esposa, Irani Pinheiro, com quem viveu boa parte de sua vida.
A história de Maguila e Irani
A advogada tinha 17 anos quando o sergipano teimou em lhe oferecer pastéis na feira livre da Ponte Rasa, em São Paulo. Professora de datilografia à época, Irani fez jogo duro, mas acabou se deixando levar pelo xaveco de Maguila, então com 25 anos.
Maquila e Irani tiveram que comprar briga para ficarem juntos: o preconceito em relação ao relacionamento dos dois era algo bem próximo e o próprio pai dela não aprovava o namoro. "O velho era racista e não queria que a Irani casasse com um negão feio como eu", contou o lutador na biografia "Maguila - A Saga De Um Cabra Macho Campeão", de Carlos Alencar, lançada em 1997. O sogro teria até ameaçado sacar uma arma contra o lutador. Eles acabaram se casando em uma fazenda e fizeram a entrada de charrete.
Não foi fácil [conquistar a Irani]. Mas para mim o que é difícil é que é bom. Precisava arrumar uma namorada e demorei um ano para ganhar a Irani. Foi a luta mais difícil da minha vida, até porque ela é uma pessoa mais estudada e educada que eu.
— Maguila, ao livro "Maguila - A Saga De Um Cabra Macho Campeão"
Irani acompanhava Maguila por onde fosse em sua carreira de lutador. Ao UOL, em 2020, ela relembrou que costumava preparar para o marido a comida brasileira que lhe fazia falta na temporada nos EUA, quando enfrentou George Foreman. Na época, Irani estava grávida de sete meses do único filho do casal, Adilson Rodrigues Júnior, nascido em 1990.
Quando o Foreman acertou o Adilson e ele caiu, o Júnior se mexeu de uma forma estranha em minha barriga. Senti o pé dele entrando na minha costela. Gritei: 'meu Deus do céu' e o doutor Izzo gritou 'respira, respira, respira' até que tudo voltou ao normal.
— Irani Pinheiro sobre a luta do marido com George Foreman em 1990
Ao longo dos anos, Irani passou a negociar as lutas e projetos do marido e foi tida como centralizadora. "A Irani tem personalidade forte, é vaidosa. Ela acabou assumindo os negócios, cuidou, organizou a vida dele. E as pessoas achavam que ela podia tirar algum proveito da fama e do dinheiro dele. Mas a história deles mostra que não. [...] Ela foi muito importante. Se ele se manteve em evidência é porque ela sempre soube trabalhar isso. Ela poderia ter caído fora há dez anos, ele [era] muito tosco. Culturalmente ela é mais preparada, instruída. Se não gostasse dele, já tinha ido", disse o biógrafo do ex-lutador, Carlos Alencar, ao UOL em 2014.
Irani soube ajudar o boxeador durante a doença, diz amigo. Josmar Bueno Junior, cujo pai era amigo de Maguila e por isso conviveu com o lutador desde sua infância, contou ao UOL que a esposa "leva a sério esse negócio de na saúde e na doença" e soube ajudá-lo especialmente durante o período de descoberta da encefalopatia.
Por muito tempo ela encarou sozinha tudo isso. O começo da doença tem picos na saúde e picos de agressividade, e ela lidou com isso na intimidade deles. Fora que sempre soube puxar o lado positivo dele. Ele é cabeça dura, é teimoso, então, quando precisava, ela dava dura mesmo.
— Josmar Bueno Junior, cineasta e amigo da família
Para ela, relação com Maguila era de "cumplicidade e companheirismo". "A vida é assim, uma roda gigante, um dia está em cima e outro em baixo. E precisa estar junto. É difícil ver uma pessoa que era o Maguila de antes e ver como está hoje, você tem que tomar cuidado para não pirar. Isso abala a família'', lamentou ao UOL em 2014.
Irani era a segunda esposa de Maguila. O pugilista teve dois filhos com sua primeira companheira, irmãos mais velhos de Júnior.