Ex-árbitros revelam salário e defendem profissionalização: 'Hoje é um bico'
Colaboração para o UOL, em São Paulo
14/11/2024 05h30
Nadine Basttos e Sávio Spínolla defenderam a regulamentação da profissão de árbitro no Brasil. Ao Alt Tabet, do Canal UOL, os ex-juízes de futebol revelaram que não é possível sobreviver do ofício no país e que é preciso ter outras áreas de atuação para complementar a renda.
Spínolla destacou que apenas os cinco árbitros mais requisitados no Brasil ganham bem, com uma média salarial entre R$ 200 mil e R$ 250 mil por ano. "Os cinco principais árbitros do Brasil ganham por ano R$ 250 mil, os demais não. Não é só a questão financeira, o problema é que isso é seleto, para poucos. O mais importante é a segurança jurídica e financeira. O pior desse cenário é que você perde talentos. Vi várias pessoas competentes que abandonaram o futebol porque não tem segurança [na profissão de árbitro]".
Basttos concordou e ressaltou que a maioria dos árbitros não são convocados para apitarem jogos toda semana. "A grande maioria dos árbitros não consegue sobreviver de arbitragem. A gente exerce uma atividade... Antes de eu começar na arbitragem, já se falava que iam profissionalizar [o ofício]. Trabalhei, saí, estou há quase oito anos como comentarista e nada foi feito em relação a isso. Na minha opinião, é necessário. Acho que melhoraria muito o nível".
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Sávio comparou a profissão de árbitro a um bico e afirmou que é diferente em outros países. "Não tenha dúvidas [de que é melhor profissionalizar]. O árbitro faz um bico e vai apitar um jogo. É importante que não precisa de uma lei pública obrigando a profissionalização, a entidade que tem que ser responsável por fazer isso. Aqui no Brasil nós temos nossa atividade profissional e na hora vaga a gente vai apitar um jogo. No mundo, o árbitro se dedica ao futebol e na hora vaga ele pode ter outra profissão. O motivo disso é que alegam que no Brasil as leis trabalhistas seriam um risco muito grande para uma entidade que fatura R$ 1 bilhão por ano".
O Projeto de Lei 864/2019 pretende regulamentar a profissão do árbitro no Brasil. O texto, em trâmite no Senado, prevê a criação de vínculo empregatício entre árbitros e federações esportivas. O texto, entretanto, está parado no Congresso.
Ex-árbitro lembra ameaça de presidente do Equador
Spínola contou que a partida terminou em 2 a 1 para o Uruguai e, com o resultado, o Equador ficou fora da Copa — a edição disputada não foi revelada. "Já tive na televisão presidente da República falar: 'vou dar pena de morte para esse árbitro, quero saber onde ele está'. Foi um jogo do Equador e Uruguai, e o Equador ia para Copa com o empate, festa no país, [mas] aos 46 minutos de jogo teve um pênalti. O assistente falou para mim: 'torce para o Furlan chutar para fora ou a gente não sai vivo daqui'. Furlan fez o gol, Uruguai vence por 2 a 1, última rodada das eliminatórias e o Equador ficou fora da Copa".
O ex-árbitro recordou que ao fim da partida precisou de auxílio para deixar o Equador. "Para sair do país foi uma loucura. Acionei o Itamaraty, a FIFA, a CBF. Ninguém me deu assistência. Quem me ajudou foi um amigo árbitro do Equador, porque tinham retido meu passaporte".
VAR demora para tomar decisão por medo de errar, diz ex-árbitra
Para Nadine, a demora na análise dos lances é motivada "pela insegurança e o medo de errar" dos árbitros. "É o perfeccionismo. São tantas imagens que eu quero olhar todas, sendo que na primeira imagem você já teria tomado a decisão final. Então esse medo de errar fica um perguntando para o outro, aquela conversa demais. É insegurança mesmo".
Basttos afirmou ser "totalmente a favor do VAR", mas admitiu a necessidade de "melhorias" no recurso. "Principalmente a interferência, qual o critério [adotado] pela arbitragem, mas o futebol ficou mais justo, principalmente nos lances claros. Por exemplo, um lance de expulsão claríssimo, que ninguém viu, um gol que seria impedido. Sou totalmente a favor da tecnologia".