'25 anos em casa': como projeto mudou a vida de surfista com autismo
Pedro Scooby conversa com jovens de um projeto social da Rocinha e, em meio aos olhares vidrados, um denunciava um misto de atenção e certa incredulidade. Diante do ídolo, acostumado às ondas gigantes, Fagner Moura conectou-se. Afinal, em cima da prancha deixou temores de lado e viu o horizonte se remodelar.
Foram 25 anos de uma rotina que se dividia entre o lar, na maior comunidade do Brasil, e os atendimentos médicos. Certo dia, no trajeto, olhou o mar e decidiu que queria aprender a deslizar naquelas ondas — mesmo que não soubesse nadar.
Eu fiquei 25 anos em casa e indo aos médicos. Um dia, passei em frente à escolinha de surfe e disse que queria fazer. O [Ricardo] Bocão me chamou e eu fui para dentro do mar, perdi o medo e comecei a surfar. Eu mudei muito, o surfe me transformou.
Fagner
Aos 39 anos, Fagner se prepara para participar de uma etapa do Campeonato Brasileiro de Parasurf. "O médico disse que tenho autismo", relata ele ao justificar o motivo de o surfe que pratica ser "adaptado".
Ele é um dos moradores da Rocinha a integrar o Rocinha Surf Escola, projeto que nasceu em 1994 e já teve patrocínio até do músico Jack Johnson.
Eu nunca sorria, ficava em uma tristeza muito pesada. Quando comecei a surfar, a treinar, o surfe se tornou uma grande meditação para mim. O Bocão é uma pessoa que tenho como um irmão.
Fagner não esconde a animação com o torneio que se aproxima. "Estou focado nos treinos para estar preparado quando chegar o dia. Fiz até uma manobra em que joguei a prancha de lado", narra ele, que cita também Gabriel Medina dentre seus ídolos. E no momento da pose para foto, não perdeu a chance de ficar ao lado de Scooby.
O surfista mora com a família e conta que faz questão de buscar os sobrinhos na escola sempre que possível. Salienta que tem uma rotina "grandona porque é para cima e para baixo, não consigo parar", e se divide entre as atividades no mar, os estudos, teatro e futebol.
Com um sorriso, revela também que gosta de cantar com o parceiro Lucas, com quem ensaia músicas e se arrisca até no Backstreet Boys. "A gente dança e canta, mas estou um pouco enferrujado na dança", brinca.
Scooby visita projeto
Pedro Scooby deu uma breve aula de surfe aos integrantes do Rocinha Surf Escola, na praia de São Conrado, e depois visitou as instalações do projeto. Ele participou de uma ação social da Oakley, que contou com exames de vista e distribuição de óculos aos participantes, de acordo com o grau necessário.
O esporte, no geral, transforma vidas, salva vidas. É muito legal fazer parte desse projeto. Sei o quanto a visão influencia na prática de esportes. Então, estar aqui junto à Oakley, com crianças que, muitas vezes, não tem acesso aos médicos certos, é muito especial.
Scooby
Formou atletas
Daniel Dias e Rafael Silva fizeram parte do Rocinha Surf Escola e hoje são atletas de bodyboard e surfe, respectivamente, além de monitores do projeto.
Para mim, e para a galera da comunidade, é gratificante usar o surfe e o esporte como válvula de escape, poder chegar onde quiser. O esporte muda vidas e salva vidas de pessoas na comunidade. Com o esporte, conseguimos enxergar bem além da bolha. O surfe não tem fronteiras e, quando você menos espera, vê uma realidade que já foi sonhada.
Rafael
O bodyboard mudou a minha vida e, com isso, pude ajudar outros jovens. Eu tento entrar na mente deles para que eles não se percam na comunidade, e muitas vezes encontramos talentos que nem eles mesmo tinham conhecimento.
Daniel
Daniel foi campeão do Carioca Open 2023/24 e quarto no Brasileiro Open 2024. Ele foi personagem de uma produção chamada "Horizonte selvagem". Já Rafael, também conhecido como Caveirinha, já esteve na Indonésia e foi um dos protagonistas de "Onde o surf me levou", um documentário para o Canal Off, da Globosat.
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