O que explica a campanha histórica do Brasil no Mundial de handebol
A seleção brasileira masculina de handebol fez história no Campeonato Mundial deste ano, rompendo uma série de barreiras ao conquistar uma vaga inédita nas quartas de final. Na tarde de ontem, o Brasil se despediu do Mundial ao perder para a Dinamarca, atual tricampeã da competição, por 33 a 21. O resultado, porém, não apagou a campanha memorável dos Guerreiros.
Uma das chaves para o sucesso desta geração que superou potências como Noruega, Suécia e Espanha está na defesa, com os goleiros Rangel e Duda fechando as redes brasileiras.
Titular em grande parte dos jogos, Rangel, inclusive, é o terceiro goleiro com mais defesas na competição. Ele segurou 40% dos arremessos e é o melhor arqueiro quando o assunto é cobrança de sete metros.
Buda iniciou na equipe principal no duelo do último domingo (26) contra a Espanha e foi um dos principais responsáveis por garantir a vitória por 26 a 25. Foi a primeira vez que a seleção brasileira superou os espanhóis em torneios oficiais da IHF (Federação Internacional de Handebol).
Por trás do sucesso das muralhas do Brasil está o preparador de goleiros Ali Al-Khedher. Ele é do Kuwait e chegou há um ano na seleção a pedido do técnico Marcus Tatá, que trabalhou no país árabe em 2022, para elevar o nível dos goleiros da equipe nacional.
"Convivi com ele e vi o trabalho fantástico que o Ali fez no Kuwait. Os goleiros que ele treinava sempre tiveram um altíssimo percentual de defesas, altíssimo percentual de scouts. Ele trabalha demais. Precisávamos desta peça importante no nosso time. Além de tudo, Ali é uma excelente pessoa, e excelente profissional. É uma pessoa que está aqui de coração. O trabalho dele foi fantástico e os números mostram", exaltou o técnico Marcus Tatá ao UOL.
Al-Khedher jogava como goleiro e defendeu, inclusive, a seleção do Kuwait. Como treinador, fez sucesso em clubes da Ásia, além dos árabes. Quando recebeu a oferta para trabalhar com o Brasil, o profissional que também é engenheiro civil era alvo de algumas equipes asiáticas, mas decidiu optar pelas cores verde e amarela.
"O Ali é uma pessoa extremamente dedicada. Ele estuda muito, trabalha 24 horas por dia. Isso é fundamental para o sucesso dele e dos nossos goleiros. A gente sempre brinca, porque eles estão lá direto no vídeo, analisando sem parar", acrescentou o treinador destacando a preparação da defesa durante o Mundial.
Língua dos goleiros
Foi uma fatalidade que fez Ali Al-Khedher se aposentar das quadras e começar a vida de preparador de goleiros. Ele machucou o cotovelo e optou por parar de jogar. Já tinha uma boa visibilidade como arqueiro e decidiu levar seu conhecimento, aliado à tecnologia, para aperfeiçoar atletas.
"Eu comecei isso há oito anos. Sabia que toda vez que o jogador vai arremessar, ele faz movimento e transmite emoção. Como para cada ação tem uma reação, comecei a estudar isso, a fim de aprimorar o posicionamento dos goleiros. Fiz seminários em vários países e uso um software como apoio", diz.
Ele diz que estava numa "zona de conforto", até que encontrou o técnico Tatá em clube do Kuwait. "Conquistamos muitas coisas, e ele viu que eu tinha algo especial", explica. Além de seu trabalho em quadra, ele estuda muito os adversários e mostra essas análises para os goleiros. Isso é fundamental durante as partidas, para entender o movimento dos adversários.
Para Ali Al-Khedher, o Brasil tem ótimos goleiros. "O Rangel eu conheci e vi que tinha muita qualidade, com potencial de virar um dos melhores do mundo. Ele é muito inteligente. Já o Buda eu vi algo especial nele, tem uma flexibilidade incrível", elogia.
O idioma era uma dificuldade, mas o esporte ajudou a superar essas barreiras. "O Buda não fala inglês, eu ainda estou aprendendo o português, então falamos a língua dos goleiros. E deu muito certo. O Rangel falou um ano atrás que tinha o sonho de ser top 5 do mundo. Agora ele conseguiu mostrar que é um dos 3 melhores do mundo e o Buda foi incrível e ganhou experiência neste Mundial. Estou muito orgulhoso."
O preparador fez um trabalho para tornar os brasileiros mais completos embaixo das traves e transmitiu sua experiência de enfrentar europeus. Com o excelente resultado no Mundial, ele agora quer seguir em frente com a seleção pensando em voos maiores.
"Me sinto em casa na seleção brasileira. Se não fosse a Dinamarca, chegaríamos à semifinal no mínimo. Sinto que foi uma campanha de sucesso e o trabalho foi excelente. Por causa deles, todos os meninos vão querer ser goleiros agora, vão querer fazer defesas e não gols. Estou amando esse trabalho e quero ouvir o hino do Brasil numa próxima competição."
Preparação física
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Outro ponto importante que levou o Brasil ao resultado inédito no Mundial é a excelência na preparação física. Segundo Tatá, o condicionamento dos jogadores da seleção fizeram diferença na campanha que marcou um início promissor do ciclo olímpico para Los Angeles, em 2028.
"Acabamos o jogo contra a Dinamarca com todos os atletas inteiros. Se tivesse mais dois jogos, eles teriam conseguido atuar bem. A parte física foi impecável nessa competição e hoje o handebol é muito físico. O time cumpriu todos os treinamentos, tudo que tinha que fazer e chegaram muito bem. É impressionante como eles chegaram bem fisicamente para a competição. Essa foi uma grande diferença", analisou Tatá.
O êxito nessa questão é conquista de uma equipe multidisciplinar que cuida da seleção de handebol, segundo o técnico. Além dos profissionais tradicionais, o elenco conta com fisioterapeuta, preparador físico, médicos, analistas de vídeos e assistentes técnicos.
1 comentário
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Fernando Borges Fortes
Sensacional ver o esporte de verdade representar bem o nosso país. Futebol já era!