Jovem de 18 anos enganou organização do futebol brasileiro de 2023 a 2025


O nome de Luana Teixeira Santos começou a pipocar em grupos de WhatsApp de jornalistas esportivas brasileiras na terça-feira: "Alguém conhece?".
Horas depois, a descoberta: uma jovem se apresentou como repórter da ESPN, frequentou a área destinada à imprensa em dezenas de jogos de futebol organizados pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e enganou as entidades que organizam o futebol brasileiro por dois anos. Ela tinha apenas 17 anos quando começou a farsa.
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A reportagem do UOL apurou que Luana utilizava dados da ESPN para pedir o credenciamento em jogos de futebol de campeonatos femininos e masculinos desde 2023. Todo profissional da imprensa faz a solicitação para trabalhar em eventos esportivos com e-mail e senha das respectivas empresas cadastradas e aprovadas pelas entidades.
Luana teve o credenciamento reprovado em diversos eventos. O último, quando pediu para trabalhar na partida entre Corinthians e Cruzeiro, pela Supercopa feminina, ontem.
Mas essa não era a regra. Em jogos de menor demanda de imprensa, a credencial da garota costumava ser aprovada. Aconteceu no duelo entre Red Bull Bragantino e São José, pela Copa do Brasil, na terça-feira — não há confirmação se ela foi ou não ao jogo.
Apesar de nunca ter trabalhado na ESPN, ninguém percebeu, em dois anos, que ela não produzia conteúdo para nenhum dos canais da emissora. Sua presença não chamava atenção e integrantes do grupo de jornalistas esportivas em que a farsa foi descoberta a conheciam.
Elas encontraram Luana em diversos eventos e algumas até construíram amizade com ela - sem nunca questionar as mentiras. A falsa repórter chegou a frequentar festas de aniversário de colegas. Solícita, era a primeira a explicar a jornalistas inexperientes como fazer credenciamento em jogos - também dizia que as indicariam quando vagas na ESPN fossem abertas.
Luana circulava com um crachá da ESPN que era visualmente diferente aos que os reais repórteres do veículo usam. Ela não possuía microfone e agia como uma influencer nos gramados, gravando apenas vídeos selfies e pedindo fotos com atletas. Em entrevistas coletivas, não fazia perguntas, apesar de espalhar que era amiga pessoal de algumas jogadoras do Corinthians.
Mesmo assim, passava credibilidade. Até participou do podcast "Papo Reto Esportes". Ela se apresentou como repórter e assessora de imprensa da ESPN, setorista do Red Bull Bragantino e disse que trabalhava, também, como assessora no marketing do Corinthians.
O clube disse que não a conhecia.
Os responsáveis pelo "Papo Reto Esportes" dizem ter sofrido um golpe.
Nas redes sociais, Luana publicava imagens nos gramados dos estádios, em área restrita a profissionais de televisão, além de fotos da redação da ESPN Brasil, em São Paulo. Em seu perfil, se descrevia como profissional do canal do Grupo Disney.
A CBF começou a desconfiar da falsa jornalista por causa de um comportamento incomum. Sempre que solicitava o credenciamento, Luana fazia de forma individual. Na ESPN, o comum é o credenciamento conjunto de toda a equipe que vai cobrir uma partida, formada por repórter, cinegrafista e produtor.
A entidade, então, entrou em contato com a ESPN para alertar sobre o ocorrido. Nenhum profissional da emissora a identificou. A história caiu em um grupo de WhatsApp com mulheres da imprensa feminina paulista. Foram elas que acabaram desmantelando a farsa.
Uma profissional da ESPN enviou mensagens a Luana na própria terça-feira para questionar em qual área da emissora ela trabalhava. A garota respondeu que fazia reportagem e produção. Quando percebeu que foi descoberta, bloqueou o número de telefone da jornalista.
Após a movimentação na tarde de terça, a jovem mudou sua bio do perfil no Instagram para "ex-ESPN" e, posteriormente, apagou a conta.
O UOL tentou contato com Luana, mas ela cancelou o número de telefone. O texto será atualizado em caso de manifestação da jovem.
A reportagem também procurou a ESPN. Em nota, a emissora disse: "Estamos cientes da situação e estamos investigando os fatos para tomar as medidas apropriadas."
A Associação de Cronistas Esportivos de São Paulo (Aceesp) alegou ao UOL a inexistência do cadastro de Luana no sistema. Todo o profissional da imprensa necessita de uma carteirinha da entidade para frequentar áreas restritas em estádios paulistas, mas o acesso é controlado pelos organizadores do evento.