'Gordinha' supera brigas com o pai e a Federação para conquistar Wimbledon
A francesa Marion Bartoli, que conquistou neste sábado o título de Wimbledon ao atropelar a alemã Sabine Lisicki por 6-1 e 6-4 na decisão, escreveu sua história com muita determinação, apesar das gozações sobre seu físico ‘cheinho’, seu jogo atípico e sua relação conturbada com o pai e ex-técnico.
Chamada de 'gordinha' ou de apelidos bem mais ofensivos nas redes sociais, ela nunca teve uma boa imagem no seu país.
Quando iniciou de vez a carreira profissional, ela sempre andava ao lado do pai, o que a impedia de ser abrir aos outros. Por muito tempo, ficou fora da seleção francesa de Fed Cup (versão feminina da Copa Davis) porque Walter não tinha o direito de acompanhá-la.
Seu pai resolveu treiná-la fora de qualquer estrutura da Federação Francesa de Tênis (FFT), o que sempre lhe rendeu problemas com os dirigentes do seu país. No ano passado, ela não pôde participar dos Jogos Olímpicos de Londres, apesar de ser a número um francesa, por causa de um desentendimento com a FFT.
Mesmo depois de chegar ao vice-campeonato em Wimbledon em 2007, sempre teve dificuldades para conseguir patrocínios. "Sou número 11 do mundo, mas vou comprar meu material esportivo na loja", disse a francesa em 2010.
Nas últimas semanas, Bartoli tomou uma decisão drástica. Resolveu parar de treinar com seu pai, deixando claro que a separação foi "por consentimento mútuo".
Em 2011 um desentendimento público com sei pai chamou atenção. Durante um jogo do torneio de Wimbledon contra a italiana Flavia Pennetta, ela gesticulou e acenou ‘freneticamente' para as arquibancadas, ordenando que seu pai deixasse a quadra. Walter Bartoli e sua mulher terminaram de ver a partida pela televisão.
Aos 28 anos, a 'baixinha' que nasceu numa aldeia de 2.700 habitantes no interior da França não é a tenista mais talentosa do circuito, mas sem dúvidas a que conseguiu tirar o melhor do seu potencial.
Com bem menos altura e força física que as adversárias (tem apenas 1,70 m, muito abaixo da média do circuito), ela mesma admite que precisa "fazer mais sacrifícios do que as outras".
Seu pai Walter, médico que levou a filha a dar os primeiros passos na quadra aos seis anos de idade, também reconhece que, pelo porte físico, "ela não era, em teoria, feita para estourar no mais alto nível".
Em Retournac, pequeno povoado da Auvergne, região situada no centro do país e conhecida pelos queijos e pelos vulcões hoje extintos, a pequena Marion começou a treinar em um ginásio tão pequeno que praticamente não tinha recuo atrás da linha de fundo de quadra. Por causa desta instalação precária, ela precisava dar alguns passos à frente para não bater com a raquete na parede.
Foi assim que ela aprendeu a jogar de forma agressiva, sempre para frente, batendo todas as bolas com as duas mãos, tendo como maior inspiração Monica Seles, dona de dez títulos de Grand Slam.
Bartoli demorou para despontar no circuito profissional, devido, segundo ela, à dedicação que teve com os estudos. Ótima aluna, a adolescente perfeccionista costumava achar uma 'catástrofe' tirar 19,5 de um total de 20 numa prova.
"Só comecei a pensar em me tornar jogadora profissional aos 17 anos, quando foi campeã do US Open na categoria juvenil. Tinha mais facilidade na escola do que no tênis", lembrou.
Recentemente, Bartoli voltou à seleção francesa e passou a trabalhar com Amélie Mauresmo, capitã da equipe de Fed Cup, que foi campeã em Wimbledon em 2006. Ela também treina com Thomas Drouet, que ficou famoso no início do mês de maio por ter sido agredido pelo pai do australiano Bernard Tomic, com quem trabalhava como sparring-partner.
Mais solta em quadra, Marion fez história neste sábado na quadra central de Wimbledon. Depois de fechar a partida com um lindo ace, ela caiu de joelhos na grama sagrada antes de subir para a arquibancada para abraçar Walter Bartoli, feliz da vida desempenhando apenas a 'função' de pai.
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