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'Bolt é um gênio, não houve ninguém como ele desde Mohamed Ali' (Coe)

19/08/2016 20h00

Rio de Janeiro, 19 Ago 2016 (AFP) - "Bolt é um gênio", considera Sebastian Coe, presidente da Federação Internacional de Atletismo, em uma entrevista exclusiva concedida à AFP nesta sexta-feira.

Pergunta: Qual é a sua opinião sobre o desenvolvimento das provas de atletismo nestes Jogos?

Resposta: Se você olha estes Jogos em termos de performances, são provavelmente os melhores Jogos da história. Tivemos vários recordes mundiais, vários recordes continentais e ainda mais recordes nacionais. Não podemos esperar mais. Mas também existem desafios. O estádio, por exemplo, provavelmente não é o mais cômodo para se chegar (para os espectadores do resto dos locais olímpicos). Houve reflexões e decisões muito complicadas sobre as finais na parte da manhã. Trabalhamos para ajudar o Comitê organizador sobre estas questões, com as práticas locais e as necessidades de adaptação para as transmissões. Para ser honesto, não acho que estes problemas vão se tornar a norma. O sucesso de Londres também não era a norma.

P: Os estádios, muitas vezes pouco cheios, levantam a questão do interesse do público...

R: Não é verdade. O estádio estava cheio para ver o Bolt na quinta-feira. Ok, não foi assim o tempo todo, e algumas séries foram problemáticas, talvez pelo preço das entradas. Mas vamos colocar tudo isso em perspectiva: durante os dois primeiros dias de competição, tivemos mais espectadores que outros 18 esportes olímpicos em 250 sessões. Não foi fácil, nem sempre há paixão no estádio, mas nos grandes momentos sim.

P: Essa paixão não foi, talvez, longe demais em alguns momentos, como com Renaud Lavillenie (atleta francês de salto com vara)?

R: Vi Renaud nesse momento e fui claro ao dizer que me sentia mal por isso. Independente de onde você vem, seja qual for a sua cultura, religião ou trajetória, você merece respeito.

P: O que você acha das performances de Bolt?

R: O que mais posso dizer? Esse rapaz é um gênio. Não tinha havido ninguém como ele desde Mohamed Ali em termos de captar a imaginação dos torcedores. Se tivessem me falado em 2008 que esse menino ia fazer tudo isso, em três Jogos Olímpicos, essa trajetória incrível... A diferença entre o bom e o super atleta é a longevidade. E Bolt tem essa longevidade.

P: Como fazer para preencher o vazio que ele vai deixar?

R: Vai ser um buraco enorme, mas não insuperável. Nos perguntávamos a mesma coisa com Mohammed Ali. Em seguida, apareceram Floyd Mayweather, Marvin Hagler, Manny Pacquiao, Sugar Ray Leonard. Não vamos preencher esse vazio da noite pro dia, mas há grandes atletas e temos que fazer com que o mundo saiba disso.

P: É possível que ofereçam a ele um papel na IAAF?

R: Já falamos disso. Começamos a falar sobre isso há dois ou três anos, e eu disse a ele: "quando você decidir fazer outras coisas, vamos nos assegurar que entre essas coisas a gente não te perca do esporte". Esse é o meu desejo, mas ainda não sei em que papel. Para discutir bem sobre isso, é necessário que tenham se passado vários anos desde o final da carreira do atleta.

P: É realista imaginar a Rússia no próximo Campeonato Mundial de Londres, em 2017?

R: A força-tarefa da IAAF trabalha na reintegração da Rússia. Nossa prioridade é manter o diálogo. Nós estabelecemos critérios. Um deles é acabar com a cultura da trapaça. Não sei quanto tempo isso vai levar. Eu não sou um isolacionista, não podemos ficar assim. Tomamos uma decisão clara e sim, queremos o retorno da Rússia, mas com atletas que tenham seguido um processo claro.

P: Qual é a sua opinião sobre a eleição de Yelena Isinbayeva para a Comissão dos Atletas do COI?

R: Ela se converte na terceira atleta nesta comissão, e isso é uma coisa muito boa para o nosso esporte.

P: E qual foi a sua reação ao anúncio da sua aposentadoria?

R: Ela foi uma atleta fantástica, uma das estrelas do nosso esporte.