Narradoras de futebol no Mundial desafiam sexismo nas redes sociais
Berlim, 28 Jun 2018 (AFP) - Cada vez mais as mulheres narram e comentam ao vivo as partidas do Mundial da Rússia-2018, e muitas delas têm de enfrentar os preconceitos e insultos sexistas.
Se apresentadoras e especialistas foram ganhando aos poucos seu espaço nas transmissões esportivas em grande parte do mundo, a narração ao vivo dos jogos é um terreno tradicionalmente reservado aos homens nos principais meios de comunicação.
Claudia Neumann na televisão ZDF alemã, Vicki Sparks na BBC britânica, Hanna Marklund na TV4 sueca, Lise Klavenesess na NRK norueguesa e Aly Wagner na Fox americana quebraram o teto de vidro graças ao Mundial da Rússia, mas nas redes sociais tiveram que pagar um certo preço.
"Não quero mulheres como comentaristas de futebol! Isso está claro!", afirmou no Twitter um torcedor contrário à decisão. "Vicki Sparks na BBC é horrível. A igualdade a marchas forçadas me irrita", se lê em outro tuíte.
"Imagino que Neumann não é sequer capaz de fazer uma boa sopa de batata", afirma outro internauta.
Ante essa tempestade de mensagens sexistas nas redes sociais, colegas, instâncias esportivas e outros usuários dessas redes reagiram para defender as pioneiras.
"Lise Klaveness está blindada (...) Informou-se de modo excepcional e teve de superar muitos obstáculos. Lise merece reconhecimento", afirmou ao jornal Aftenposten Egil Sundvor, diretor de Esportes da NRK, a rede pública norueguesa.
- "Todos os limites" -Na Alemanha, Claudia Neumann, que já narrou jogos da Eurocopa-2016 e da Liga dos Campeões, recebeu o apoio da Confederação Olímpica e Esportiva Alemã.
Bibiana Steinhaus, primeira mulher a arbitrar partidas da Bundesliga masculina este ano, teve que lutar contra preconceitos similares, o que lhe fez ser especialmente solidária com ela.
"Claro que aceitamos as críticas, incluindo as que vão contra os comentaristas, mas no caso de Claudia Neumann ultrapassaram todos os limites", se queixa o chefe de Esportes da ZDF, Thomas Fuhrmann.
"Parece que tocamos um ponto sensível: uma mulher comentando uma partida de um Mundial masculino. Isso faz alguns na internet enlouquecerem", acrescentou.
Mas não só usuários anônimos se deixam levar por seus preconceitos, também nomes de destaque como o ex-internacional inglês John Terry, que havia insinuado que tinha problemas para acompanhar um jogo narrado por uma voz feminina.
No Instagram havia dito que tinha que "desligar o som" dos jogos comentados por Vicki Sparks. Após uma chuva de críticas, se defendeu aludindo a "um problema técnico".
A professora de Jornalismo Jana Wiske lembrou ao semanário alemão Spiegel que dos 419 jornalistas alemães que trabalham na cobertura do Mundial-2018, apenas 49 são mulheres.
"Continua sendo incomum ouvir uma mulher" comentando uma partida, escreve Wiske. "O futebol é um mundo de homens, não só na Alemanha, de modo que não são uma surpresa essas críticas humilhantes contra a comentarista", lamenta.
- Mais mulheres -A Confederação Olímpica e Esportiva Alemã encontrou a solução para melhorar isso em seu país: "Pôr mais comentaristas em disciplinas pretensamente masculinas e, sobretudo, vozes femininas no futebol durante o Mundial, a Eurocopa ou a Liga dos Campeões".
Alguns meios mostraram sua vontade de avançar nessa tendência. A televisão pública alemã ARD anunciou que busca "no médio prazo" uma comentarista para os jogos masculinos.
"Me dou conta de que poucas mulheres desejam tomar o caminho de ser comentaristas", argumenta Axel Balkausky, chefe de Esportes da rede. Na Alemanha, mais de 90% dos jornalistas esportivos são homens.
Por isso se faz necessário também atrair para a profissão candidatas capazes de resistir a um início que provavelmente será hostil.
Na Rússia-2018 foram muito comentados também vários episódios de mulheres jornalistas que foram agredidas, tocadas ou beijadas à força por torcedores de futebol.
Esses incidentes coincidem com o movimento mundial #MeToo, que encoraja as mulheres a romperem o silêncio sobre as agressões de que são vítimas.
bur-dac/alf/dr/psr/db/mvv
Se apresentadoras e especialistas foram ganhando aos poucos seu espaço nas transmissões esportivas em grande parte do mundo, a narração ao vivo dos jogos é um terreno tradicionalmente reservado aos homens nos principais meios de comunicação.
Claudia Neumann na televisão ZDF alemã, Vicki Sparks na BBC britânica, Hanna Marklund na TV4 sueca, Lise Klavenesess na NRK norueguesa e Aly Wagner na Fox americana quebraram o teto de vidro graças ao Mundial da Rússia, mas nas redes sociais tiveram que pagar um certo preço.
"Não quero mulheres como comentaristas de futebol! Isso está claro!", afirmou no Twitter um torcedor contrário à decisão. "Vicki Sparks na BBC é horrível. A igualdade a marchas forçadas me irrita", se lê em outro tuíte.
"Imagino que Neumann não é sequer capaz de fazer uma boa sopa de batata", afirma outro internauta.
Ante essa tempestade de mensagens sexistas nas redes sociais, colegas, instâncias esportivas e outros usuários dessas redes reagiram para defender as pioneiras.
"Lise Klaveness está blindada (...) Informou-se de modo excepcional e teve de superar muitos obstáculos. Lise merece reconhecimento", afirmou ao jornal Aftenposten Egil Sundvor, diretor de Esportes da NRK, a rede pública norueguesa.
- "Todos os limites" -Na Alemanha, Claudia Neumann, que já narrou jogos da Eurocopa-2016 e da Liga dos Campeões, recebeu o apoio da Confederação Olímpica e Esportiva Alemã.
Bibiana Steinhaus, primeira mulher a arbitrar partidas da Bundesliga masculina este ano, teve que lutar contra preconceitos similares, o que lhe fez ser especialmente solidária com ela.
"Claro que aceitamos as críticas, incluindo as que vão contra os comentaristas, mas no caso de Claudia Neumann ultrapassaram todos os limites", se queixa o chefe de Esportes da ZDF, Thomas Fuhrmann.
"Parece que tocamos um ponto sensível: uma mulher comentando uma partida de um Mundial masculino. Isso faz alguns na internet enlouquecerem", acrescentou.
Mas não só usuários anônimos se deixam levar por seus preconceitos, também nomes de destaque como o ex-internacional inglês John Terry, que havia insinuado que tinha problemas para acompanhar um jogo narrado por uma voz feminina.
No Instagram havia dito que tinha que "desligar o som" dos jogos comentados por Vicki Sparks. Após uma chuva de críticas, se defendeu aludindo a "um problema técnico".
A professora de Jornalismo Jana Wiske lembrou ao semanário alemão Spiegel que dos 419 jornalistas alemães que trabalham na cobertura do Mundial-2018, apenas 49 são mulheres.
"Continua sendo incomum ouvir uma mulher" comentando uma partida, escreve Wiske. "O futebol é um mundo de homens, não só na Alemanha, de modo que não são uma surpresa essas críticas humilhantes contra a comentarista", lamenta.
- Mais mulheres -A Confederação Olímpica e Esportiva Alemã encontrou a solução para melhorar isso em seu país: "Pôr mais comentaristas em disciplinas pretensamente masculinas e, sobretudo, vozes femininas no futebol durante o Mundial, a Eurocopa ou a Liga dos Campeões".
Alguns meios mostraram sua vontade de avançar nessa tendência. A televisão pública alemã ARD anunciou que busca "no médio prazo" uma comentarista para os jogos masculinos.
"Me dou conta de que poucas mulheres desejam tomar o caminho de ser comentaristas", argumenta Axel Balkausky, chefe de Esportes da rede. Na Alemanha, mais de 90% dos jornalistas esportivos são homens.
Por isso se faz necessário também atrair para a profissão candidatas capazes de resistir a um início que provavelmente será hostil.
Na Rússia-2018 foram muito comentados também vários episódios de mulheres jornalistas que foram agredidas, tocadas ou beijadas à força por torcedores de futebol.
Esses incidentes coincidem com o movimento mundial #MeToo, que encoraja as mulheres a romperem o silêncio sobre as agressões de que são vítimas.
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