Joseph Blatter denuncia "falta de transparência" de Infantino na Fifa
O ex-presidente da Fifa Joseph Blatter, obrigado a entregar o cargo em 2015 envolvido em um escândalo de corrupção na entidade, denunciou em entrevista à AFP "a falta de transparência" de seu sucessor, Gianni Infantino, que deve ser reeleito em 5 de junho durante o Congresso da Fifa em Paris.
Blatter, 83 anos e presidente da Fifa entre 1998 e 2015, responde atualmente a um processo na Suíça por gestão desleal, mais precisamente por um polêmico pagamento de dois milhões de francos suíços a Michel Platini, ex-presidente da Uefa.
- Gianni Infantino desistiu de disputar a Copa do Mundo do Catar-2022 com 48 seleções. Era uma boa ideia?
"A Fifa tentou assumir um papel que não era seu. Na geopolítica, a Fifa pode de vez em quando ser um ator, mas ser 'diretor do show', o que tentou ser com a Copa de 48 seleções e a ampliação do Mundial de Clubes, não tem nada a ver com os princípios básicos da Fifa. Não precisava se meter nisso e dizer: 'Vamos jogar por causa dos amigos da Arábia Saudita, que vão nos garantir alguns bilhões de dólares para o desenvolvimento, não da Fifa, mas do futebol'. Não precisamos disso".
- Qual seu balanço da gestão de Infantino? Desde que foi eleito em 2016, Infantino conseguiu restabelecer a credibilidade da Fifa?
"Onde estava a transparência na proposta da Copa do Mundo de 2022 no Catar? Nessa famosa proposta de 20 bilhões de euros (oriundos de um fundo de investimento anônimo para o Mundial de Clubes) não há transparência, e é isso que ele pregava. Gianni, que eu conheci quando ele era secretário-geral da Uefa, foi um dos que freou o pacotes de reformas parado pelo congresso em 2011. Já tínhamos decidido controlar a integridade dos membros (da Fifa). Quem foi o primeiro a pedir a palavra? Infantino, que disse: 'Nós somos a favor da integridade, mas não na nossa casa, nunca aceitaremos que a Fifa controle a integridade de membros de nossa casa'".
- A Fifa pressiona por um Mundial de Clubes com 24 equipes, já a partir de 2021. É factível diante da oposição da Uefa?
"Tenho que fazer um 'mea culpa', que as competições de clubes não são tema para a Fifa, são das federações nacionais e das confederações, que organizam os torneios. E a primeira competição de clubes, em 2000 no Brasil (com 8 equipes), foi um teste e vimos que não funcionava. Não faz parte dos deveres da Fifa. Esse projeto (de Infantino) é uma ampliação de um calendário internacional já bastante pesado".
- Infantino é acusado de ter relacionamentos próximos a dois procuradores suíços, o que lhe permitira obter informações privilegiadas sobre alguns assuntos. As autoridades suíças, que arquivaram o caso, foram suficientemente firmes nesse caso?
"Sobre os relacionamentos de Infantino com o procurador de Valais (Rinaldo Arnold), um de seus amigos, a Comissão de Ética da Fifa deveria ter aberto uma investigação. O relacionamento foi tão longe que Infantino queria contratá-lo para ser o chefe do serviço jurídico da Fifa. O que aconteceu entre Infantino e o procurador de Valais é uma situação tão evidente, para conseguir algo político em troca. Em relação ao procurador-geral Lauber (alvo de uma investigação disciplinar), o próprio admite ter se reunido com Infantino, mas depois disse: 'Não me lembro'. Resumindo, há uma amnésia generalizada na Suíça. É curioso".
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