Iraque vence Irã nas eliminatórias da Copa-2022 em meio a clima tenso
Enquanto a bandeira era agitada no estádio de Amã, a vitória do Iraque contra o Irã na Jordânia foi também um triunfo para as multidões que protestam em Bagdá contra o governo iraquiano, apoiado pelo regime islamista de Teerã.
O esperado duelo entre as duas seleções terminou com vitória iraquiana por 2 a 1 com o gol do triunfo nos acréscimos, um final alentador em um dia que começou com quatro manifestantes mortos nos distúrbios na capital iraquiana.
Mas o choque colocava algo a mais em jogo do que o simples resultado, tanto para os expatriados do país na Jordânia quanto para os que assistiam no Iraque.
"Nosso objetivo mais importante é enviar uma mensagem clara para todo o povo iraquiano - os sunitas, os xiitas, os curdos - de que recusamos a ingerência do Irã e de seus agentes em nosso país", afirmou Mustafa Abdulla, um iraquiano que mora em Amã.
"O Irã e seus agentes são a causa dos problemas que atingem o Iraque depois da queda" do ex-ditador Saddam Hussein em 2003, disse ele à AFP durante a partida.
"Viemos não apenas para apoiar nossa seleção contra o Irã no estádio mas também para apoiar os manifestantes em sua maior competição, sua revolta contra o Irã e a injustiça no Iraque", acrescentou.
Os manifestantes iraquianos criticam o Irã por apoiar o governo que querem destituir e por suas ingerências nos assuntos políticos e econômicos do país.
Os dois países estiveram em guerra entre 1980 e 1988, mas se reaproximaram desde a queda do ditador após a invasão dos Estados Unidos em 2003.
Campo neutro
A partida entre as duas seleções ia ser disputada na cidade portuária de Basora.
Mas diante da "situação atual da segurança no Iraque", a Fifa decretou que a partida fosse jogada em campo neutro.
A Jordânia conta com uma comunidade de cerca de 70.000 iraquianos.
Em homenagem aos manifestantes mortos, os torcedores iraquianos vestiram luto, e alguns colocaram máscaras médicas negras como as utilizadas pelos manifestantes na praça Tahrir contra as bombas de gás lacrimogêneo das forças governamentais.
Nessas condições, a partida reuniu um amplo efetivo policial.
"Viemos para cumprir com nossas obrigações, primeiro apoiando nossa equipe, e depois manifestando nosso apoio aos irmãos que se levantaram contra a corrupção e a injustiça no Iraque", afirmou Nawras al-Mashhadani, outra iraquiana que vive em Amã.
Em sua opinião, a partida deu um alívio temporal às "cenas de sangue e fogo" que costumam vir de seu país de origem.
'Heróis'
No centro de Bagdá, os manifestantes assistiram a partida em grandes telões.
"Fora Irã! Bagdá seguirá sendo livre!", gritavam.
Com uma camisa da seleção, Ahmed, um torcedor de 26 anos, afirmou que a partida "é uma mensagem importante".
Até os veículos Saipa, fabricados no Irã e utilizados pelos taxistas de Bagdá, circulavam com bandeiras iraquianas enquanto os passageiros torciam pela equipe.
"A seleção (do Iraque) mostrou que temos heróis em todos os lados, e não só na praça de Tahrir", indicou Sara, de 25 anos.
Ao longo de sua história futebolística, os dois países se enfrentaram em 21 ocasiões, com 11 vitórias para o Irã, oito para o Iraque, e dois empates.
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