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Adiado e mais simples, Tóquio-2020 desperdiça chance de ser mais ecológico

Ativistas acusam a organização de desperdiçar oportunidades com o adiamento dos Jogos de Tóquio 2020 - Issei Kato
Ativistas acusam a organização de desperdiçar oportunidades com o adiamento dos Jogos de Tóquio 2020 Imagem: Issei Kato

Tóquio

23/07/2020 13h21

O adiamento dos Jogos de Tóquio 2020 devido à pandemia de coronavírus obriga a organização a fazer um esforço para simplificar o evento. Por conta desse reajuste, será que o evento olímpico conseguirá ser mais sustentável?

O comitê organizador de Tóquio 2020 indicou que a sustentabilidade é "um conceito-chave" nos Jogos, com vários elementos simbólicos, como medalhas feitas de metais reciclados ou o uso de hidrogênio para manter a Chama Olímpica acesa.

Mas ativistas e especialistas ambientais acusam a organização de ter metas ambiciosas e de desperdiçar a oportunidade oferecida com o adiamento do evento.

As políticas olímpicas para comprar produtos da pesca local, madeira, papel e óleo de palma têm "muitas lacunas", disse Masako Konishi, especialista do World Wildlife Fund (WWF), que assessora a organização dos Jogos sobre práticas ambientais adequadas.

Konishi acrescentou que o adiamento deu à organização uma boa oportunidade para elevar os padrões ambientais.

"Mas eles não mudaram nada", disse à AFP, acusando a organização de priorizar os interesses do setor.

O comitê Tóquio-2020 confirmou que os padrões de compra de produtos não estão mudando e, em seu último relatório sobre sustentabilidade nos Jogos, lançado em abril, argumentou que o fornecimento sustentável "continua a ser uma nova iniciativa no Japão".

"O progresso não será feito de uma só vez", acrescentou o relatório.

'Um pouco decepcionante'

Hidemi Tomita, consultora especializada em responsabilidade social e ambiental, acredita que a sustentabilidade ainda está na "infância" do Japão.

O país está começando "muito atrás", mas os esforços feitos por Tóquio-2020 podem ser considerados um "progresso".

Mas, como declarou à AFP, "é um pouco decepcionante". "Eles deveriam ter colocado como principal meta, dando o exemplo e promovendo a inovação" com as empresas japonesas.

Um dos pontos emblemáticos dos esforços sustentáveis de Tóquio-2020 é o uso de madeira das florestas japonesas, com a intenção de reutilizá-las após o evento em outras finalidades.

Mas a organização reconheceu que também está usando madeira da Malásia e da Indonésia, países acusados de desmatamento.

Os organizadores insistem que toda a madeira foi comprada legalmente, mas os ativistas argumentam que não é fácil estabelecer sua trajetória e que há falhas em sua certificação.

Redução da pegada de carbono

Isao Sakaguchi, professor de direito da Universidade de Tóquio, criticou a forma como o peixe será comprado para os cardápios olímpicos. "Pescadores e políticos no Japão estão preocupados com o fato de que, se Tóquio-2020 adotar os mesmos códigos de Londres (2012) e Rio (2016), não haverá frutos do mar japoneses nos Jogos", revelou à AFP.

O resultado é que a organização aceita padrões que incluem não certificação e verificação, explicou.

O legado dessa decisão será "inexistente, até negativo".

A organização luta contra as críticas. "Pode causar uma boa impressão ao introduzir padrões ambientais internacionais apenas para os Jogos", disse Yuki Arata, chefe do programa ambiental dos Jogos.

"Poderá uma pequena ou média empresa japonesa continuar a respeitar isso depois dos Jogos? Talvez não", acrescentou.

No entanto, deve haver alguma maneira de o adiamento tornar os Jogos mais ecológicos.

O relatório mais recente de Tóquio-2020 sobre esse aspecto, publicado em abril, mostra que um terço da pegada de carbono total dos Jogos estaria ligada aos espectadores e às emissões produzidas por seus voos.

Uma redução de participantes ajudaria a diminuir a pegada.