Neymar vai a julgamento em Barcelona e é liberado mais cedo por cansaço
A apenas um mês da Copa do Mundo do Qatar, o astro brasileiro Neymar disputa a partir de hoje uma "partida" incômoda em Barcelona, onde começou o julgamento pelas irregularidades em sua polêmica contratação pelo clube catalão há quase uma década.
O jogador do PSG, que saiu do Barça em 2017 em uma contratação milionária do clube francês, chegou ao tribunal ao lado dos pais, também processados no caso. Eles ficaram no banco de réus. Mais tarde, segundo a imprensa espanhola, a defesa de Neymar solicitou ao tribunal que o atleta fosse liberado da sessão porque a partida de ontem entre PSG e Olympique de Marselha terminou às 23h (horário local) e o jogador ainda passou pelo controle antidoping, o que fez ele dormir muito tarde.
Os juízes atenderam ao pedido. "O Sr. Da Santos Silva Jr. estava marcando um gol e eu já estava na cama", disse o presidente do tribunal, o juiz José Manuel del Amo, que acrescentou que o jogador poderia deixar o local "porque estava fazendo os deveres de sua profissão".
Neymar e a mãe dele, Nadine, saíram por volta das 12h (7h30 de Brasília), enquanto Neymar pai foi embora uma hora mais tarde. O jornal El Diario publicou que não se sabe o motivo dos pais do jogador também terem sido liberados antes do término da sessão.
A extensa saga judicial provocada pela transferência de Neymar em 2013 dos Santos para o Barcelona tem um novo capítulo em um tribunal da cidade espanhola, com o início do julgamento da ação apresentada há sete anos pelo grupo DIS, fundo que possuía parte dos direitos econômicos do atleta quando ele era um promissor atacante do clube paulista.
Neymar, que a partir de 20 de novembro vai liderar a seleção do Brasil no Mundial do Qatar, é acusado do crime de corrupção empresarial pelo Ministério Público, que pede dois anos de prisão e o pagamento de multa de 10 milhões de euros.
Ao lado do jogador do PSG também são processados seus pais, os ex-presidentes do FC Barcelona Sandro Rosell —para quem o MP solicita cinco anos de prisão por corrupção e fraude— e Josep Maria Bartomeu, assim como o ex-presidente do Santos Odílio Rodrigues Filho.
Os outros acusados são três pessoas jurídicas: FC Barcelona, Santos FC e a empresa fundada pelos pais de Neymar para administrar sua carreira.
Todos foram convocados para a primeira das sete audiências do julgamento, que deve prosseguir até 31 de outubro.
De acordo com o cronograma inicial, o depoimento de Neymar está previsto para esta sexta-feira (21 de outubro) ou para a próxima sexta-feira (28), como as outras pessoas físicas acusadas. Mas o documento não indica se ele prestará depoimento de maneira presencial.
"Sei que estamos no meio do Campeonato Francês e no meio da Liga dos Campeões, olhei o calendário e sei que, quando houver jogos, tentaremos encontrar a melhor e mais viável solução", acrescentou o juiz José Manuel del Amo.
Pré-acordo secreto
Antes acontecerá outro depoimento muito aguardado, quando o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, testemunhará amanhã por videoconferência para explicar, a pedido da DIS, como o pré-acordo assinado em segredo entre o Barça e o jogador em 2011 influenciou o mercado.
O FC Barcelona anunciou em um primeiro momento que a contratação de Neymar custou 57,1 milhões de euros (40 milhões para a família e 17,1 para o Santos), mas a justiça espanhola calculou que a operação custou ao menos 83 milhões de euros.
Para o DIS - fundo de investimento esportivo que pertencia ao grupo brasileiro de supermercados Sonda -, o Barça, Neymar e mais tarde o Santos se aliaram para ocultar o valor real da operação por meio de outros contratos dos quais ficou de fora.
A empresa, que adquiriu 40% dos direitos econômicos do jogador em 2009, recebeu 6,8 milhões de euros dos 17,1 pagos oficialmente ao clube brasileiro.
"Neymar Júnior, com a conivência de seus pais e do FC Barcelona, e seus dirigentes no momento, e do Santos FC (...) fraudou os legítimos interesses econômicos do DIS", afirmou Paulo Nasser, advogado do empresa, que denuncia que os direitos do jogador "não foram vendidos para a maior proposta".
Por considerar-se duplamente prejudicado, tanto por não ter recebido sua parte da transferência real quanto pelo contrato de exclusividade assinado por Neymar e o Barça —que impediu outros clubes de disputar a contratação do atacante—, o fundo DIS pede a restituição dos 35 milhões de euros que calcula ter perdido.
Como acusação particular, o grupo pede ainda cinco anos de prisão para o jogador, Rosell e Bartomeu, além de multas milionárias.
Os advogados de Neymar argumentam, no entanto, que o cliente não cometeu nenhum crime, já que os 40 milhões de euros corresponderam a um "bônus de contratação legal e habitual no mercado do futebol", e questionam se a Espanha tem a competência legal para o caso.
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