Topo

Inimigos políticos, Irã e EUA disputam vaga nas oitavas

28/11/2022 10h21

Vinte e quatro anos depois do primeiro duelo em uma Copa do Mundo, Irã e Estados Unidos protagonizam na terça-feira (29) um confronto com uma vaga nas oitavas de final da Copa do Catar-2022 em jogo. 

As décadas de inimizade entre os dois governos, que romperam relações diplomáticas após a Revolução Islâmica no Irã em 1979, serão o pano de fundo de um confronto esportivo de alta tensão no estádio Al Thumama, em Doha. 

Os Estados Unidos, terceiro do Grupo B com 2 pontos, precisam da vitória para avançar às oitavas de final.

Para o Irã, segundo do grupo com 3 pontos, pode bastar um empate, dependendo do resultado da partida entre Inglaterra e País de Gales. 

Os Estados Unidos, a segunda seleção mais jovem do torneio, estão ansiosos para dar um salto nesta Copa do Mundo que aumentará o interesse e o entusiasmo de seu país pelo evento que co-organizará em 2026. 

Com a geração mais promissora de jogadores de sua história, a seleção americana mostrou-se competitiva em seus dois empates contra Gales e Inglaterra, mas ainda não conseguiu uma vitória para marca a memória dos torcedores. 

O técnico Gregg Berhalter tem se esforçado para dissipar qualquer conotação não futebolística do jogo contra o Irã. 

"A partida será muito disputada pelo fato de que as duas equipes querem passar à fase seguinte, não por questões políticas ou de relações entre os nossos países", declarou Berhalter. 

"Somos jogadores de futebol e vamos competir e eles vão competir", previu.

A mensagem de Berhalter, porém, foi atropelada pela própria Federação de Futebol dos Estados Unidos (US Soccer), que causou grande polêmica ao postar uma versão modificada da bandeira nacional iraniana em suas redes sociais. 

Os porta-vozes da US Soccer justificaram o gesto como "solidariedade com as mulheres do Irã", um país abalado por manifestações contra o governo provocadas pela morte de uma jovem presa por supostamente descumprir quebrar o rígido código de vestimenta para mulheres. 

A postagem, que posteriormente foi removida, irritou a Federação do Irã, que apresentou uma queixa formal à FIFA.

- O precedente de 1998 -

Irã e Estados Unidos já viveram um duelo memorável na Copa do Mundo na França-1998, com uma vitória por 2 a 1 para os iranianos no Stade Gerland, em Lyon.

O jogo também foi cercado por tensões externas. As autoridades do Irã rejeitaram o protocolo da Fifa que determinava que seus jogadores caminhassem em direção aos rivais para cumprimentá-los antes do apito inicial. Os jogadores iranianos, porém, surpreenderam ao presentear os americanos com rosas brancas como símbolo da paz e posar ao lado deles para uma foto conjunta.

O técnico do Irã, Jalal Talebi, e o zagueiro Mohammad Khakpour reconheceram mais tarde o impacto emocional que o jogo teve sobre eles, visto em alguns setores como uma batalha contra os representantes do "Grande Satã". 

"Imagine ouvir por seis meses, repetidamente, que seria o jogo mais importante da nossa história, o que realmente foi", disse Talebi em uma entrevista em 2018.

Khakpour acrescentou: "Fui contatado pessoalmente por pessoas que perderam filhos na guerra Irã-Iraque. Pais, mães, me ligaram e disseram: 'Este jogo realmente importa para nós. Você tem que ganhar essa partida'".

Já o técnico dos Estados Unidos em 1998, Steve Sampson, lamentou posteriormente não ter usado as tensões políticas como motivação. 

"A FIFA, a US Soccer e o comitê organizador da França nos pediram para falar sobre futebol, não sobre política. E eu concordei", disse Sampson à revista Time. 

"Em retrospecto, eu teria feito diferente. O trabalho de um treinador é usar todas e cada uma das ferramentas disponíveis para preparar seu time", disse ele. 

A 48 horas do jogo em Doha, os jogadores americanos não compartilhavam dessa ideia e garantiram que já têm motivação suficiente para enfrentar os iranianos. 

"O lado emocional de ter que vencer para chegar à próxima fase é o suficiente", disse o zagueiro Tim Ream. "Não acho que temos que nos preocupar com mais nada (...) Se isso não for suficiente, acho que temos problemas".

rcw/gbv/dr/mr

© Agence France-Presse