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Alisson, o goleiro que ainda não sujou o uniforme no Qatar

30/11/2022 10h27

Alguns nem repararam que o goleiro Alisson Becker raspou a barba e depois o bigode. A explicação é simples: as câmeras raramente focam no goleiro brasileiro, que não recebeu um único chute direto a gol em 194 minutos de jogo na Copa do Mundo do Catar.

O goleiro do Liverpool, considerado pela Fifa o melhor da sua posição em 2019, saiu intacto dos duelos do Brasil diante de jogadores perigosos como os sérvios Aleksandar Mitrovic, Dusan Vlahovic e Dusan Tadic e os suíços Granit Xhaka e Breel Embolo.

"Alisson está muito focado no que quer", disse Thiago Silva, capitão de um time cujos jogadores ofensivos costumam atrair os holofotes.

A seleção brasileira venceu a Sérvia por 2 a 0 na estreia, na quinta-feira passada, e a Suíça por 1 a 0 na última segunda-feira, já sem contar com os lesionados Neymar e Danilo.

Ao vencer a Suíça, garantiu a classificação para as oitavas de final, faltando uma rodada para o encerramento do Grupo G, que é completado com Camarões, próximo adversário, na sexta-feira, no estádio Lusail.

Somando as duas seleções europeias, elas deram oito chutes a gol (quatro para cada), mas nenhum na direção do gol de Alisson, que aos 30 anos participa de sua segunda Copa do Mundo depois da Rússia-2018.

Dessa forma, o Brasil, um dos favoritos ao título, se tornou o segundo time a não receber chutes a gol nos dois primeiros jogos de uma Copa do Mundo, segundo medição da Opta feita desde a Copa de 1966. A primeira foi a campeã França em 1998.

"Aprendemos a marcar"

No lado da seleção brasileira não se dá muita importância às estatísticas. O que é valorizado é a consistência da defesa, apoiada por zagueiros como Thiago Silva, Marquinhos e Casemiro, mas também com o sacrifício de atacantes como Raphinha, Richarlison e Vinicius Jr.

"Nossa equipe defende muito bem, isso não é só defender com os zagueiros, os laterais, o meio de campo. Os caras lá da frente estão ajudando. Isso é muito bom, porque quando você não concede chances você mostra sua força também", disse o ex-goleiro Cláudio Taffarel, campeão mundial nos Estados Unidos em 1994.

"Aprendemos há alguns anos que o Brasil não é só show, fazer gol, também aprendemos a marcar", acrescentou o atual treinador de goleiros da Seleção em entrevista coletiva na terça-feira em Doha.

Os pentacampeões foram a seleção com a defesa menos vazada nas eliminatórias sul-americanas (5 gols sofridos em 17 jogos) e o Brasil está entre os três, ao lado de Polônia e Marrocos, que não sofreram gols nesta Copa do Mundo.

Mas, contrariando as expectativas, a falta de destaque de Alisson, que se firmou na posição superando dois goleiros de alto nível, Ederson (do Manchester City) e Weverton (do Palmeiras), tem disparado o alarme em alguns setores da imprensa brasileira.

"Melhor que não participe"

Taffarel foi questionado em entrevista à imprensa sobre o incômodo do camisa 1, um dos líderes do vestiário do Liverpool e do Brasil, por não ter sido testado e pode ser surpreendido em uma fase decisiva.

"Eu vejo o Alisson muito ligado assim e atento ao jogo. Essa é também uma forma de participar, às vezes se comunicando, acompanhando 100% uma jogada", afirmou.

"Sei que o goleiro às vezes fica chateado, quer participar, mas ele está preparado. Para quem está de fora é melhor que ele não participe", brincou. "Em 1994 eu participei muito pouco daquela Copa, a gente também tinha essa força na marcação", disse Taffarel.

Alisson, de um metro e 91 centímetros de altura, e que fez uma rígida preparação para chegar ao Catar no peso ideal, poderá ceder a vaga para Ederson ou Weverton contra os africanos na estratégia de Tite de tentar dar minutos a todos (até agora jogaram 19 de 26).

O escolhido para defender a meta terá pela frente um trabalho árduo, e não só porque Camarões buscará a todo custo a vitória para ter chances de classificação: os desfalques de Neymar e Danilo se somam à ausência do lateral-esquerdo Alex Sandro que com dores no quadril. Com uma defesa tão desfigurada, talvez chegue o momento em que Alisson ou algum de seus companheiros finalmente usem as luvas.

"Com as mudanças no sistema defensivo é muito importante manter essa base sólida", alertou Marquinhos.

raa/psr/aam

© Agence France-Presse

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