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Frappart, Back e Díaz põem fim a quase um século sem arbitragem feminina na Copa do Mundo

01/12/2022 20h00

A árbitra francesa Stéphanie Frappart e suas auxiliares no jogo entre Alemanha e Costa Rica, a brasileira Neuza Back e a mexicana Karen Díaz Medina, colocaram fim nesta quinta-feira a 92 anos sem um trio de arbitragem feminino em uma Copa do Mundo masculina.

As três atuaram juntas na vitória dos alemães sobre os costa-riquenhos por 4 a 2 no estádio Al-Bayt, pelo Grupo E do Mundial do Catar, país especialmente questionado pelos direitos da mulher desde que foi designado como sede do torneio.

Desde a primeira Copa do Mundo, em 1930, no Uruguai, todos os árbitros tinham sido homens, até a incursão nesta quinta-feira de Frappart, Back e Díaz, com a hondurenha Said Martínez como quarta árbitra e a americana Kathryn Nesbitt no VAR. 

A equipe de arbitragem não teve maiores inconvenientes em um eletrizante jogo que selou a eliminação da Alemanha na fase de grupos pela segunda vez consecutiva.

O maior desafio do trio foi uma aparente falha técnica na escuta com o VAR, o que atrasou em alguns minutos a validação do quarto gol dos alemães, marcado por  Niclas Füllkrug (89) e no qual Back tinha assinalado impedimento de forma errada.

A arbitragem também mostrou pulso firme foi quando o meia alemão Kai Havertz (73) se desentendeu com o zagueiro costa-riquenho Kendall Waston depois do segundo gol da Alemanha.

- A última barreira -

Frappart, de 38 anos, rompeu a última barreira que faltava em sua carreira no futebol, iniciada em 1996.

A juíza, que foi jogadora do AS Herblay da França, se apaixonou pela arbitragem aos 13 anos. Passou cinco anos apitando na segunda divisão francesa antes de se tornar uma pioneira da igualdade no ramo.

Ela foi a primeira mulher a apitar na elite do futebol masculino da França (2019) e na Liga dos Campeões da Europa (2020). Além disso, foi nomeada para apitar a Supercopa da Europa e a Eurocopa (2021).

"É uma grande evolução, um reconhecimento das minhas qualidades e competência. Esta é minha linha de conduta desde o início. Fui escolhida pela minha competência, não pelo meu gênero", disse Frappart em um encontro com a imprensa antes da última Euro.

- Inspiração no irmão -

Uma das auxiliares no jogo de hoje foi a brasileira Neuza Back, de 38 anos, que em 2020 fez parte da primeiro trio de arbitragem feminino a atuar no Mundial de Clubes ao lado da também brasileira Edina Alves e da argentina Mariana Almeida.

Nascida no município de Saudades (SC), Back se interessou pela arbitragem inspirada por seu irmão, o juiz André Back.

Ela integrou o primeiro quarteto feminino em um jogo de Copa Libertadores (2021), e tem mais de 100 jogos na Série A do Campeonato Brasileiro.

"O sonho de todo árbitro quando começa o curso de arbitragem é estar em um Mundial. Para mim não era diferente", disse a brasileira em uma entrevista à TV Globo em agosto.

- Vencer a oposição familiar -

A outra auxiliar, a mexicana Karen Díaz, chegou ao topo da arbitragem do esporte mais popular do mundo depois de uma década como assistente de linha, contra a vontade de sua família.

Sem que seus pais soubessem, começou a atuar em torneios de várzea para financiar seus estudos em engenharia agroindustrial. O que começou como uma fonte alternativa de renda se transformou rapidamente em um projeto de vida.

"O que é isso? Você vai morrer de fome!", disse sua mãe quando descobriu ela tinha optado pela carreira de árbitra, lembrou Díaz em uma entrevista com o jornal El País da Espanha, em 2017. 

Nascida há 38 anos na cidade de Aguascalientes, ela começou a se dedicar a uma profissão pouco lucrativa, segundo ela, ao invés de exercer sua carreira universitária.

Estreou como profissional em 2009 e na primeira divisão mexicana em 2016, onde quatro anos depois se tornou a primeira mulher a apitar uma final. Participou de vários torneios internacionais de clubes e seleções da Concacaf, tanto femininos como masculinos.

"A arbitragem é uma paixão que te desafia todos os dias tanto física como mentalmente", disse em uma entrevista com a Concacaf antes do começo do Mundial. "Creio que todas as mulheres do mundo gostam de desafios e todo dia há um jogo para apitar".

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© Agence France-Presse