De ousados a recatados, laterais brasileiros mostram uma nova cara no Catar
Os brasileiros patentearam os laterais-atacantes: subir e voltar. Cafu, Jorginho, Roberto Carlos, Nelinho ou Júnior foram em algum momento um atacante a mais em campo. Mas no Catar, o trabalho dos marcadores avançados tem sido muito mais discreto.
Os laterais da seleção de Tite não tiveram participação direta em nenhum dos sete gols marcados nas quatro partidas disputadas até agora no Mundial.
Nem mesmo na goleada contra a Coreia do Sul (4-1), na segunda-feira, que garantiu a vaga nas quartas de final, em que enfrenta a Croácia de Luka Modric na sexta-feira, no estádio Education City às 18h locais (12h de Brasília).
Seu trabalho tem se concentrado em proteger as costas de pontas afiados como Vinicius Jr (dois gols e duas assistências) e Raphinha (uma assistência). E em que Neymar (um gol marcado), Richarlison (três gols) e Lucas Paquetá (um gol) joguem com mais liberdade.
"Os nossos laterais não são Junior nem Jorginho porque eles têm mais uma função de construção", afirmou o técnico Tite no final do jogo contra os sul-coreanos, referindo-se a dois dos maiores expoentes do clássico lateral-atacante brasileiro.
Os jogadores comandados por Tite cumprem funções diferentes que cumpriam no passado, quando formavam duplas com o ponta de seu setor para atacar seus adversários com superioridade numérica e voltavam a proteger seu lado na defesa.
"As gerações mudam, mas as referências permanecem", disse o lateral-esquerdo Alex Telles, afastado do Mundial devido a uma lesão no joelho direito.
- A derrota que mudou tudo -
A mudança radical começou após a derrota para a Argentina na final da Copa América de 2021, no Maracanã, na reta final das eliminatórias sul-americanas.
Após o duro golpe, Tite convocou novos nomes que renovaram o ataque, então muito dependente de Neymar. Assim se consolidaram Vini Jr, Raphinha, Rodrygo e Antony.
Antes da Copa do Mundo, Tite mudou seu esquema tático: Paquetá, normalmente escalado na esquerda, caiu para a primeira linha de meio-campistas junto com Casemiro, geralmente acompanhado de um meia misto como Fred ou Douglas Luiz.
O espaço deixado por Paquetá foi ocupado por um atacante: geralmente Vinicius Jr ou Antony.
A mudança tirou funções ofensivas de Danilo, Dani Alves, Alex Sandro e Alex Telles, os laterais natos, e de Éder Militão, zagueiro que já atuou como lateral-direito.
"Temos jogadores (nessa posição) que podem ter um papel mais marcante, como Danilo. Jogadores com mais força e saída de bola como Militão. Temos opções diferentes", disse Tite.
Agora, quando o Brasil está com a bola, um dos dois laterais fica atrás para formar uma linha de três com os dois zagueiros centrais e o outro acompanha Casemiro.
Dessa forma, o Brasil dá liberdade a cinco atletas no ataque, começando por Neymar, com dois laterais clássicos, um camisa 9 como referência na área (Richarlison) e outro meio-campista ajudando na criação (Paquetá).
Além de proteger a baliza, o lateral que joga ao lado de Casemiro costuma assumir funções de criação ou circulação da bola.
"Para ter esses jogadores (no ataque), ter o compromisso de se posicionar em campo na ação sem bola, assim como ter jogadores atrás que também dê esse suporte", explicou o técnico.
- Equilíbrio é tudo -
A mudança de paradigma é fruto da busca incansável de Tite por um time equilibrado, posição que no Brasil tem provocado críticas de quem o considera um expoente do futebol defensivo.
"Se o equilíbrio fugir em algum momento, a possibilidade de perder é maior", afirma o técnico de 61 anos.
Nas eliminatórias, que liderou invicto com campanha recorde (45 pontos em 17 jogos), teve o ataque mais positivo (40 gols) e a defesa menos vazada (5 gols sofridos).
Na fase de grupos no Catar, com Neymar ausente nos últimos dois jogos devido à lesão, a seleção teve seu pior desempenho ofensivo (três gols) desde o Mundial da Argentina-1978, onde só marcou dois nessa etapa do torneio.
Mas o Brasil sofreu apenas um gol em três jogos e nos dois primeiros Alisson não recebeu um chute a gol, um desempenho defensivo louvável visto que o time perdeu seus laterais titulares, Danilo (contra a Sérvia) e Alex Sandro (contra a Suíça) por lesão. E terminou como líder do Grupo G. Danilo se recuperou para o jogo contra a Coreia do Sul, mas jogou na esquerda e Militão na direita.
Tite aguarda a volta de Alex Sandro contra os croatas, vice-campeões da Copa da Rússia-2018 e ansiosos para ofuscar os transformados herdeiros de Cafu e Roberto Carlos, dupla de laterais do pentacampeonato de 2002.
"Modric dispensa comentários. Tem também o Brozovic, Perisic, Kovacic... Conheço bem esses jogadores. São fortes e acostumados a grandes partidas", disse Danilo. Vai ser um jogo muito difícil".
raa/psr/mcd/aam
© Agence France-Presse
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