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Treinador vê Spider x Belfort como divisor de águas no MMA: "Brasil parou"

"Essa luta marca muito, não só pelo nocaute, mas por ela ter chamado a atenção de pessoas que não estavam ligadas ao esporte", disse Rogério Camões - Zuffa LLC via Getty Images
"Essa luta marca muito, não só pelo nocaute, mas por ela ter chamado a atenção de pessoas que não estavam ligadas ao esporte", disse Rogério Camões Imagem: Zuffa LLC via Getty Images

Carlos Antunes, no Rio de Janeiro (RJ)

Ag. Fight

05/02/2021 09h00

Se você é um fã de MMA e atualmente tem cerca de 20 anos, é provável que você saiba a importância de Anderson Silva e Vitor Belfort no história do esporte. Porém, é natural que não tenha em sua memória a noção exata da magnitude do que aconteceu há exatos dez anos.

Hoje completa-se uma década que os dois brasileiros se encararam pelo título do peso-médio (84 kg) do UFC, em Las Vegas (EUA) e, naquela noite, o 'Spider' literalmente deu um pontapé para alavancar a modalidade no Brasil.

Denominado como a 'Luta do Século', o combate entre Anderson e Vitor não deixou por menos no quesito imprevisibilidade. No primeiro round, 'Spider' acertou um chute frontal e nocauteou o rival, mantendo seu cinturão e enchendo de orgulho Rogério Camões, treinador do curitibano. Presente como corner do campeão dos médios no evento, o profissional, em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, destacou os novos rumos do MMA brasileiro após o combate.

"Essa luta mudou tudo. Foi um divisor de águas no Brasil pelo nome dos dois. Vitor trabalhou muito para o desenvolvimento do MMA no Brasil. O Anderson, atual campeão, com várias defesas enfrentando o 'Fenômeno'. Daí em frente mudou muita coisa e teve crescimento enorme de fãs. Houve mais investimento, o UFC veio para o Brasil. O Brasil parou. Ela trouxe esse benefício para o Anderson, que ficou muito famoso, para MMA brasileiro e até para o Vitor mesmo. Essa luta marca muito, não só pelo nocaute, mas por ela ter chamado a atenção de pessoas que não estavam ligadas ao esporte", explicou

Além da qualidade técnica dos dois atletas, outro fator que apimentava ainda mais o combate era a questão de Anderson e Vitor já terem treinado juntos. Por isso, 'Spider', primeiramente, se mostrou contrário ao combate, mas cedeu após o UFC casar o duelo. Desde então, o clima entre eles não foi mais o mesmo e teve um clímax na pesagem oficial do show, quando o curitibano usou uma máscara na hora de encarar o rival.

"Rivalidade existiu, mas foi nada fora do normal. O que estava em jogo era o cinturão. O Anderson era o campeão e o Vitor foi tentar tomar o título. Teve um show na pesagem, aquilo ali transformou a luta. O Anderson teve uma presença de espírito grande para fazer aquele show com a máscara e dirigir palavras de desafio pelo Vitor. Até eu me impressionou com aquele personagem e ficou assustador. Deu um clima. O Anderson soube promover a luta e fazer o show. Mas eles não perderam o respeito, não se ofenderam", disse 'Rogerão', antes de exaltar o poder mental de Anderson.

"Ele mexia com a cabeça de todo mundo. O Anderson sempre teve essa capacidade e tem isso na sua personalidade. O que mais ele fazia, além de frustrar os adversários, era não ser previsível. Ninguém sabia o que ele ia fazer na hora que entrasse no octógono. Mesmo os treinadores, ninguém sabia o que ele ia fazer e ficávamos até tensos, mas confiantes. Ele conseguia entrar na cabeça dos rivais de alguma forma", afirmou.

Se a pesagem do UFC 126 trouxe um momento icônico, a luta em si entrou para história, principalmente pela forma como ela terminou, com um chute frontal de Anderson levando Belfort à lona. Camões que conhece 'Spider' desde o início de sua carreira, adiantou que aplicar este golpe era algo rotineiro nos treinamentos do atleta.

"Nos treinos eu vi o Anderson fazer muita gente descer com esse chute antes do Vitor e nem era no rosto. O Anderson sempre tinha esse chute como arma. Mas ele era imprevisível demais, tinha uma capacidade de lutar impressionante, às vezes tirava algo da cartola e surpreendida muita gente. Ele soube aplicar o golpe na hora certa", contou.