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Olimpíada é "desculpa fantástica" para mudar o Rio de Janeiro, afirma prefeito

O  prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, defendeu realização dos Jogos na cidade - Júlia Carneiro/BBC BRASIL
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, defendeu realização dos Jogos na cidade Imagem: Júlia Carneiro/BBC BRASIL

Júlia Dias Carneiro

Da BBC Brasil, no Rio de Janeiro

09/03/2012 08h41

A Olimpíada de 2016 é uma "desculpa fantástica" para promover mudanças no Rio de Janeiro.

Quem afirma é o prefeito da cidade, Eduardo Paes, que chama de "idiotas" os que dizem que as mudanças deveriam acontecer a despeito da competição. "Você precisa de uma meta, uma data, um desafio. É como o atleta", argumenta.

Em entrevista à BBC Brasil, Paes afirmou que "a cidade vai mudar muito" até 2016 e que a maioria das mudanças vai acontecer justamente "porque temos as Olimpíadas", admitindo que, sem o desafio gerados pelos Jogos, seria difícil levar tantos projetos adiante.

Diferentemente de Londres, o Rio de Janeiro não tem uma instituição responsável por cuidar do legado olímpico, mas Paes afirma que a prefeitura conta com um conselho que estimula "permanentemente" a participação da sociedade civil.

Para o prefeito, o principal legado dos Jogos será deixado à população mais pobre da cidade, que será beneficiada pela ampliação da rede de transporte público.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

BBC Brasil - Muitas obras estão acontecendo no Rio em razão dos Jogos Olímpicos. Certas mudanças em andamento, especialmente no sistema de transportes, teriam sido viabilizadas sem a Olimpíada?

Eduardo Paes - Não, não acho. Na candidatura, as pessoas achavam que a nossa fraqueza seriam os problemas que a cidade tem. Mas usamos isso a nosso favor. Chicago, Madri, Tóquio são cidades fantásticas, os caras têm tudo. Foi isso que falamos para os membros do COI (Comitê Olímpico Internacional). Se a Olimpíada é sobre transformar uma cidade, deixar um legado, mudar as vidas das pessoas, então ela tinha que vir para o Rio. O legado é a grande questão das Olimpíadas. A cidade vai mudar muito, e a maioria das coisas vai acontecer porque temos a Olimpíada. Eu uso a Olimpíada para tudo agora. Porque você tem um desafio, um prazo, tem que se superar. É assim que eu uso. O Brasil está vivendo um momento ótimo, especialmente em meio à turbulência financeira. O país está mais igualitário, as instituições estão fortes, a democracia está consolidada. Mas cidades como o Rio ainda precisam de grandes mudanças.

Estive em Paris e Londres em novembro, e quando fui de Paris para Londres fiquei muito impressionado. Em comparação, Paris parecia uma cidade deprimida

Eduardo Paes, prefeito do Rio

BBC Brasil - Mas em Londres os defensores dos Jogos dizem exatamente isso, que a Olimpíada pode trazer grandes transformações, enquanto os céticos questionam por que não promover todas as mudanças sem os Jogos, sem ter que investir tanto nos custos do evento.

Eduardo Paes - Desculpe, mas esses caras são idiotas. É assim: você precisa de uma meta, uma data, um desafio. É como o atleta, que treina muito e sabe que naquele dia ele vai competir. As Olimpíadas são assim, é como um desafio para a cidade. Antes de ter os Jogos, poderíamos fazer tudo, mas não precisávamos fazer. Agora fazemos porque teremos os Jogos, então é uma desculpa fantástica. Também há um legado que não é tangível. Estive em Paris e Londres em novembro, e quando fui de Paris para Londres fiquei muito impressionado. Em comparação, Paris parecia uma cidade deprimida. As coisas estavam acontecendo em Londres. Eu sei que tem a crise financeira e tudo isso, mas isso tem a ver com o grande desafio que a cidade tem em julho e agosto. Acho que a Olimpíada significa uma grande transformação para uma cidade.

BBC Brasil - Em 10 ou 20 anos, qual é o legado que terá sido deixado para o Rio?

Eduardo Paes - Nós temos certeza de onde queremos ir, onde queremos estar. Quando chegarmos a 2016, as mudanças farão do Rio uma melhor cidade para se morar e trabalhar, mais igualitária e mais gentil com sua população. Você vê as favelas. Qual é a razão de alguém ir parar no alto de um morro, em um lugar perigoso, em uma casa horrível e pequena? Isso acontece porque, se ele for viver em uma casa melhor um pouco mais afastada, vai precisar de três ou quatro horas (de transporte) para chegar lá. Então seriam seis horas de ônibus todo dia. Melhor viver mais perto de onde você trabalha. Quando falamos que vamos aumentar (a capacidade do transporte de massa) de 15% da população para 60%, o que estamos dizendo é que haverá uma boa alternativa para que pessoas pobres não precisem morar ao lado do trabalho, elas podem morar um pouco mais longe, em lugares melhores e mais seguros, e chegar rapidamente ao trabalho. É assim que a cidade vai melhorar.

BBC Brasil - Como será a experiência da Olimpíada para a população de renda média ou mesmo a população mais pobre da cidade?

Eduardo Paes - Haverá essas duas semanas de grande festa (durante os Jogos Olímpicos) e o Rio está muito acostumado a isso. Vai ser uma experiência incrível para todo mundo que vier. Mas a maior mudança serão os legados deixados para a população mais pobre da cidade. Quando você fala de transporte, de BRTs (Bus Rapid Transit), um tipo de metrô usando ônibus que vamos fazer aqui, quando você fala de metrô, das favelas que estamos urbanizando... Os atletas do time britânico não vão usar o BRT para chegar às instalações olímpicas, vão usar a infraestrutura oferecida pelos jogos. O que está sendo feito na cidade é principalmente para o carioca médio, o carioca mais pobre.

BBC Brasil - Em Londres foi criado um instituto para cuidar do legado olímpico, algo que já estava na proposta de candidatura da cidade. No Rio, é importante o debate e a participação dos cidadãos, mas não há algo semelhante. Há uma proposta de fazer algo assim?

Eduardo Paes - Os estágios vêm de acordo com o tempo. A gente tem estimulado isso [a participação dos cidadãos] permanentemente. Temos um conselho de legado ligado à Empresa Olímpica Municipal e estamos criando instituições que podem mais do que cuidar do legado. Porque o grande legado é a infraestrutura para a cidade. Não vai ter uma empresa para cuidar do legado, senão vai acabar tendo mais uma empresa para político empregar alguém, mais cargo para político dar. A gente tem que ter permanentemente um olhar atento a tudo que está sendo feito, com esse conselho do legado e com a participação da população civil.

*Com participação de Matthew Pinsent.