Londres 2012: Adolescente afegã luta contra preconceito para boxear na Olimpíada
Há pouco mais de uma década, o estádio Ghazi, em Cabul, era usado pelo regime do Talebã para castigar em público as mulheres que não respeitassem as normas religiosas impostas pelo grupo. Algumas eram executadas ali.
No mesmo estádio Ghazi, um grupo tenta hoje mudar o olhar da sociedade afegã sobre as mulheres, trinando duro para tentar a classificação à Olimpíada de Londres em uma modalidade raramente associada ao sexo feminino.
O boxe feminino faz sua estreia nos Jogos Olímpicos neste ano, e as irmãs afegãs Sadaf Rahimi, de 17 anos, e Shabnan Rahimi, de 19, estão entre as favoritas para conseguir um lugar na competição.
Shabnan ganhou sua primeira medalha de ouro em um torneio em outubro do ano passado no Tadjiquistão, com a participação de cinco países. Sadaf ficou com a prata.
Elas vêm treinando 12 horas ao dia em um ginásio sem janelas e com luzes amareladas.
“Os exercícios e as práticas que eles nos dão são muito bons”, diz Sadaf, limpando o suor da testa. “Eles nos preparam de uma maneira que, dentro do ringue, não temos medo dos oponentes”, explica.
“Espero promover minha carreira como boxeadora e chegar ao nível máximo. Quero ganhar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos”, afirma.
Oposição considerável
Sadaf compete na categoria peso-leve, a mais competitiva do primeiro torneio feminino da categoria nos Jogos.
Ela compete com uma camiseta de manga comprida, calças de ginástica e um lenço amarrado na cabeça.
Ela usa ainda maquiagem leve e uma pulseira nas cores verde, vermelho e branco, com a inscrição ‘Eu Amo o Afeganistão’, que pode ser vista toda vez que ela solta seu jab de direita.
Sadaf conta que sua família apoia plenamente ela e a irmã no que fazem, mas que elas enfrentam uma oposição considerável no conservador Afeganistão.
“Um homem com uma longa barba foi até o escritório do Comitê Olímpico Afegão e disse ao treinador: ‘Você não pode treinar garotas’”, conta. “Eles até ligaram para meu pai para ameaçá-lo, perguntando por que ele tinha deixado suas filhas treinar boxe. Eles disseram a eles que nós deveríamos ficar em casa. Mas meu pai está contente com o fato de eu treinar boxe”, diz.
Ela conta que sonhava em ser boxeadora desde criança, quando conheceu o esporte através de um primo que era lutador.
Mike Tyson
Sadaf vem treinando boxe há quatro anos no ginásio do estádio Ghazi, localizado em uma parte destruída de Cabul.
Sua promissora carreira esportiva a levou a ser escolhida pelas autoridades esportivas locais para um período de treinamento na Universidade de Cardiff, no País de Gales, onde tem acesso a equipamentos de último tipo e treinadores profissionais.
“Ela é uma pessoa inteligente, o que faz dela uma boxeadora inteligente. Estou muito satisfeita com o que ela está fazendo. As pessoas no Afeganistão já deveriam estar orgulhosas com o que ela já conseguiu”, diz uma das treinadoras em Cardiff, Christy Halbert.
Sadaf, cujo ídolo esportivo é o ex-campeão dos peso-pesados Mike Tyson, admite que está trilhando um caminho que nenhuma outra afegã trilhou antes.
Muitas garotas no Afeganistão já estão casadas aos 17 anos. Mas Sadaf, que espera um dia se formar em direito, tem outras aspirações.
“Eu preciso progredir no esporte, não posso casar cedo. As garotas afegãs deveriam dizer ao mundo que podem progredir, que as mulheres também podem progredir”, diz.
Um total de 36 boxeadoras competirão em Londres, 24 das quais serão classificadas no Campeonato Mundial que será disputado em maio, na China.
Sadaf se prepara para a competição, mas ainda que não consiga se classificar por essa via, ainda poderia receber um dos 12 convites para realizar seu sonho.
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