Londres 2012: Como os atletas olímpicos lidam com o estresse
Os atletas que se preparam para competir nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 estão prestes a viver momentos que poderão mudar suas vidas para sempre. Muitos terão dificuldade em manter o controle nessa situação.
O ex-número um do tênis de mesa britânico Matthew Syed fala de sua experiência administrando o estresse nesses instantes decisivos e descreve estratégias adotadas por esportistas para lidar melhor com o nervosismo. "Quando participei dos Jogos Olímpicos de Sydney como o número um do tênis de mesa britânico, estava no auge da minha forma física. Mas quando entrei na arena coberta de luzes, mal conseguia bater na bola. Eu simplesmente fiquei petrificado", disse Syed.
'Competência subconsciente'
Com base em princípios da neurociência - o estudo científico do sistema nervoso - o ex-atleta, hoje escritor e comentarista esportivo, faz a seguinte analogia: Normalmente, quando caminhamos, nenhum de nós está conscientemente focado no ato de andar. Nossos pensamentos estão voltados para outras coisas, o trabalho, as compras, a paisagem.
Porém, sugere Syed, imagine o que aconteceria se você estivesse andando por um caminho estreito, com precipícios de três mil metros em cada lado. Nessa situação, é mais provável que passemos a concentrar nossa atenção na caminhada em si. Aí mora o perigo, ele disse.
"Caminhar envolve um conjunto complexo de movimentos e se pensamos muito sobre eles, há muito mais chances de que fiquemos confusos. Aliás, é por isso que nos sentimos estranhos ao caminhar em frente a um grupo de pessoas, como em uma cerimônia de formatura, por exemplo".
"Em vez de usarmos a função subconsciente do cérebro, que é a forma mais eficiente de realizar uma tarefa familiar (como falar, caminhar ou lembrar uma fórmula matemática durante um exame), usamos a função consciente. E é aí que tudo dá errado".
Portanto, de forma a superar o nervosismo paralisador, temos de confiar na nossa competência subconsciente, sugere o ex-atleta. E ele explica que há muito mais chances de que consigamos fazer isso quando nos familiarizamos com a situação que estamos prestes a encarar.
Como disse o ex-treinador da times de rugby Clive Woodward, hoje diretor de performance da equipe britânica nas Olimpíadas: "Você não pode entrar em um ambiente de alta pressão sem saber o que esperar. Você tem de estar a par de tudo".
Estratégias
Além do treinamento em si, atletas olímpicos vão passar tanto tempo quanto possível se habituando ao local da prova - a iluminação, o ambiente, a acústica. Eles também terão estudado seus possíveis adversários e planejado uma rotina para as horas que antecedem as provas. Dessa forma, tudo transcorrerá com ordem e tranquilidade.
Ao tentar se precaver contra situações inesperadas, os atletas diminuem suas probabilidades de sentir estresse. Claro que, mesmo quando estamos bem preparados, ainda podemos nos sentir terrivelmente nervosos, disse Syed. Mas ao menos estaremos mais aptos a lidar com o nervosismo, ele sugere.
Outra estratégia adotada por atletas é lembrar a si próprios de que aquele momento tão decisivo, colocado em perspectiva, não tem importância real. "Em uma competição, me lembro de ouvir um oponente sussurrar para si mesmo: 'É só um jogo de ping pong! Isso pareceu acalmá-lo", disse Syed. "Ele me derrotou por três a um."
Syed admite que a pressão faz parte da vida, e que às vezes é inevitável tropeçar. "Mas desde que lembremos de confiar na nossa competência subconsciente e, quando apropriado, alterar nossos referenciais, estaremos a meio caminho de derrotar a maldição que petrifica", conclui.
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