Momentos olímpicos: Sonho de medalha de Maria Lenk foi destruído pela guerra
A nadadora brasileira Maria Lenk fez história em 1932 ao se tornar a primeira mulher sul-americana a participar de uma olimpíada, em Los Angeles, mas a Segunda Guerra Mundial roubou da atleta a sua melhor chance de conseguir uma medalha para seu país.
"Sua maior frustração foi o cancelamento dos Jogos Olímpicos de 1940. Ela havia acabado de bater dois recordes mundiais. Depois de ter participado (de olimpíadas) em 1932 e 1936, ela estava madura e no auge de sua carreira. Tinha muita chance de trazer a medalha de ouro para o Brasil", disse à BBC Brasil o cineasta Iberê Carvalho, diretor do documentário Maria Lenk: A Essência do Espírito Olímpico, em fase de finalização.
O interesse pela água começou na década de 1920, nas então limpas águas do rio Tietê, em São Paulo, onde, aos dez anos de idade, Lenk - filha de imigrantes alemães - aprendeu a nadar. "Maria nasceu gêmea e sua irmãzinha, Herta, morreu com dois anos de idade. Seu pai, Paul Lenk, ficou apavorado quando Maria pegou uma pneumonia e decidiu ensiná-la a nadar no rio Tietê para fortalecer sua saúde. Desde então, Maria viveu boa parte de sua vida dentro d'água", disse Carvalho.
Preconceitos
Para seguir a bem-sucedida carreira, Lenk teve de enfrentar preconceitos em uma época na qual o esporte feminino não era "bem visto". "No momento em que a menina se tornava moça e começava a namorar, a primeira coisa que o namorado fazia era proibir ela de nadar", afirmou Lenk em entrevista à pesquisadora Ludmila Mourão Boccardo, em 1998.
Mas dentro da comunidade alemã no Brasil, a nadadora dizia que havia muito incentivo à prática de esportes. Aos 17 anos, ela se destacou em campeonatos interestaduais e foi convidada a participar da olimpíada de 1932.
O resultado não foi dos melhores: sua melhor colocação foi um oitavo lugar nos 200 metros nado peito, mas Lenk disse que foi em Los Angeles que ela aprendeu o que era treinamento, observando "as grandes campeãs". Em 1936, em Berlim, mais um resultado decepcionante para Lenk, que não passou das semifinais. Ainda assim, a atleta brasileira conseguiu destaque como a primeira mulher a nadar no estilo borboleta.
Em 1939, no auge de sua forma, ela bateu dois recordes mundiais (400 metros nado peito, com tempo de 6m15s80 e 200 metros nado peito, com tempo de 2m59s), enquanto se preparava para os jogos que nunca aconteceriam.
Compensação
Em sua autobiografia "Braçadas e Abraços", Lenk diz que a frustração só foi vencida em 1942, quando em um torneio de "boa vizinhança", ela venceu todas as disputas realizadas, superou diversos recordes americanos e decidiu encerrar sua carreira esportiva.
"Apesar de não ter concretizado seu maior sonho, o de vencer a medalha de ouro nas Olimpíadas de 40, pois a guerra riscou-os do calendário, sentiu-se compensada. Nos EUA, mais precisamente em Los Angeles, em 1932, havia sofrido as agruras da derrota. Agora, dez anos depois, reabilitou-se, conseguiu a revanche para si e a natação brasileira. Podia, agora, afastar-se tranquila das competições. Havia cumprido sua missão", diz o livro.
Após o fim da carreira de atleta, Lenk se casou e teve filhos, mas continuou perto das piscinas e do esporte. "Maria foi uma pioneira acima de tudo. Escreveu e publicou seis livros sobre desporto e gestão esportiva, foi co-fundadora da Escola Nacional de Educação Física e Desportos da então Universidade do Brasil (hoje, UFRJ). Enfim, ela teve um papel muito importante da construção de pensamento esportivo no Brasil", disse Iberê Carvalho.
Ela também continuou batendo recordes mundiais, em diversas faixas etárias da categoria masters. Lenk morreu em 2007, aos 92 anos de idade, após se sentir mal enquanto treinava na piscina do clube do Flamengo, no Rio de Janeiro, para disputar a prova dos 1500 metros do Campeonato Brasileiro de Masters.
Além de integrar o Hall da Fama da Federação Internacional de Esportes Aquáticos, o parque aquático construído especialmente para os Jogos Pan-Americanos do Rio leva seu nome, assim como a principal competição de natação do país, antigo Troféu Brasil, hoje Troféu Maria Lenk.
Até hoje, ela foi a única mulher brasileira a bater recordes mundiais de natação.
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