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Momentos Olímpicos: Robert Scheidt relembra medalhas e duelo com rival britânico

Robert Scheidt (e) e um de seus principais adversários na vela, Ben Ainslie - Divulgação e Richard Langdon/Divulgação
Robert Scheidt (e) e um de seus principais adversários na vela, Ben Ainslie Imagem: Divulgação e Richard Langdon/Divulgação

Camilla Costa

Da BBC Brasil, em São Paulo

12/06/2012 10h57

Duas das maiores lembranças do bicampeão olímpico Robert Scheidt envolvem um dos seus principais adversários, o velejador britânico Ben Ainslie. Scheidt, que é 11 vezes campeão mundial de iatismo, ganhou sua primeira medalha de ouro nos Jogos de Atlanta, em 1996, aos 23 anos, em uma disputa emocionante contra Ainslie, que ficou com a prata.

"A minha primeira Olimpíada - a primeira medalha de ouro e a disputa com o Ben Ainsle - foi o momento que mudou minha carreira e a minha vida", disse o brasileiro à BBC Brasil.

VELA BRASILEIRA EM LONDRES

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A rivalidade atingiu outro momento crucial na olimpíada de Sydney, em 2000, quando o resultado se inverteu - Ainslie conseguiu o ouro e o brasileiro ficou com a medalha de prata. Scheidt precisava estar somente entre os 20 primeiros colocados na regata final, mas em uma série de manobras agressivas, o britânico o levou a um erro que causou sua desqualificação.

"Em Sidney, a derrota para o Ben Ainsle foi muito dura e muito frustrante, pelo modo como a medalha de ouro estava muito próxima e escapou", lembrou o atleta. "Mas depois que a Olimpíada passou eu fiquei feliz porque conquistei uma medalha de prata olímpica, que é um sonho de muita gente. As pessoas querem ver o ouro, mas uma medalha de prata ou de bronze olímpica são resultados incríveis".

Apesar da frustração, ele diz também que a derrota em Sydney foi um momento de aprendizado técnico para a próxima etapa de sua carreira. "Aprendi uma grande lição, foi uma regata muito dura e levei essa experiência. Eu não estava preparado para a agressividade da tática que ele apresentou naquele momento".

'Rivalidade incrível'

Em entrevista à BBC Brasil, Ben Ainsle, três vezes campeão olímpico, disse que a primeira derrota para Robert Scheidt também foi um momento de aprendizado. "Me lembro que todas as disputas com Robert foram muito duras. Ele era um velejador e um competidor incrível", disse.

"Na última corrida de 1996 nós dois tínhamos queimado a largada e fomos desqualificados, e isso deu o ouro a Robert e a prata a mim. Na época eu fiquei muito decepcionado, mas isso me deu muita determinação para derrotá-lo em Sydney em 2000".

"Para nós dois (a final em Sydney) foi um momento incrível e um que nós nunca esqueceremos. Acho que eu pensava que sempre iríamos chegar àquela situação (um contra o outro), porque estávamos tão próximos em 1996 e 2000. Talvez tenha sido por isso que treinei para aquela situação usando táticas agressivas e funcionou".

Depois da vitória em 2000, Ainslie chegou a receber e-mails de torcedores brasileiros com insultos e ameaças de morte, mas diz ter somente boas lembranças da disputa com Scheidt.

"Aquelas foram algumas das melhores regatas que já tive em minha carreira - se não as melhores. Algumas das regatas que fiz com ele ou contra ele ficarão em minha memória para sempre, me lembrarei com carinho da competição difícil e da rivalidade incrível."

Consagração

Recuperado da decepção em 2000, Scheidt voltou ao topo do pódio em 2004, em Atenas, quando igualou o recorde de duas medalhas de ouro do atleta Adhemar Ferreira da Silva.

"Em Atenas foi uma consagração. Consegui me superar porque ali o vento era fraco e na (categoria) laser, sempre preferi vento mais forte. Mesmo assim consegui a segunda medalha de ouro, que era um recorde que só o Adhemar Ferreira tinha", disse à BBC Brasil.

"Na minha primeira Olimpíada, em 1996, ele tinha feito o discurso de motivação dos atletas e falou sobre as duas vitórias dele, foi muito emocionante."

Em 2006, o velejador decidiu mudar para a categoria Star, em que usa um barco maior em dupla com Bruno Prada. Apesar do pouco tempo na nova categoria, a dupla conseguiu a medalha de prata em Pequim, em 2008, o que Scheidt se lembra como sendo mais um grande momento em sua participação em Olimpíadas.

"Em Pequim ainda faltava um pouco para nós como dupla, não tínhamos a experiência que temos hoje com o barco", admite. "(A medalha de prata) foi um gostinho especial, porque até o meio da Olimpíada estávamos em 8º lugar. Eu tinha ficado doente pouco tempo antes de começarem os Jogos. Nos primeiros dias eu não estava muito bem e depois conseguimos recuperar".

Nascido em São Paulo, Scheidt começou a velejar aos 9 anos e ganhou seu primeiro título, de campeão sul-americano, aos 11.

Às vésperas de sua quinta Olimpíada, ele diz que, apesar de confiante, se mantém atento aos adversários mais fortes - até mesmo os que surgem na última hora.

"A dupla inglesa atual campeã olímpica é muito forte, mas também temos a dupla da Polônia, a dupla da Suécia, a dupla da Suíça. Em Olimpíada sempre tem uma dupla que está tranquila, veleja bem naquela semana e entra na zona de medalha", diz.