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A decisão do Campeonato Italiano de combater racismo com imagens de macacos

 Luigi De Siervo, diretor executivo da Série A do Campeonato Italiano, apresenta campanha contra o racismo que foi criticada pelo uso da imagem de macacos - Divulgação/Lega Serie A
Luigi De Siervo, diretor executivo da Série A do Campeonato Italiano, apresenta campanha contra o racismo que foi criticada pelo uso da imagem de macacos Imagem: Divulgação/Lega Serie A

17/12/2019 08h53

A Série A do campeonato italiano usou imagens de macacos em uma campanha contra o racismo, menos de três semanas depois de os clubes terem se comprometido a combater o "grave problema" que permeia o futebol no país.

Os cartazes da campanha "Não ao racismo" - que serão exibidos na sede da Liga Italiana, em Milão - retratam três macacos com rostos pintados.

"Mais uma vez o futebol italiano deixa o mundo sem palavras. É difícil imaginar no que a Série A estava pensando, quem eles consultaram?", afirmou a organização Fare Network, que luta contra a discriminação no futebol europeu.

"Em um país em que as autoridades fracassam em lidar com o racismo semana após semana, a Série A lançou uma campanha que parece uma piada de mau gosto."

"Essas criações são uma afronta; vão ser contraproducentes e continuam a desumanizar os afrodescendentes."

"Chegou a hora dos clubes progressistas da Liga fazerem ouvir sua voz", completou.

A Kick It Out, organização que luta pela igualdade e inclusão do futebol, também classificou a iniciativa como contraproducente:

"O uso de macacos pela Série A em sua campanha contra o racismo é completamente inadequado, mina qualquer intenção positiva e será contraproducente."

"Esperamos que a liga avalie e substitua as imagens da campanha".

Sequência de casos de racismo

A campanha foi lançada após uma série de episódios racistas protagonizados nos estádios do país.

Em novembro, o atacante Mario Balotelli, do Brescia, ouviu insultos racistas da arquibancada - e chamou os torcedores que o ofenderam de "mente pequena" e "imbecis".

Em setembro, o jogador Romelu Lukaku, da Inter de Milão, também foi alvo de racismo - logo depois que o belga marcou um gol de pênalti contra o Cagliari, os torcedores do time adversário começaram a imitar sons de macaco. Ao comentar o episódio, ele afirmou que o futebol estava dando um passo atrás.

Mais tarde, o clube da Sardenha foi absolvido da acusação de entoar cânticos racistas, levando o presidente da organização antidiscriminatória Fare Network a dizer que as autoridades italianas de futebol e seus sistemas disciplinares para combater o racismo "não eram adequados para o propósito".

No início deste mês, o jornal italiano Corriere dello Sport foi criticado pela manchete "Black Friday", ao lado de fotos do zagueiro Chris Smalling, da Roma, e do atacante, Lukaku, da Inter, antes de uma partida entre os dois times.

O especialista em futebol europeu James Horncastle criticou a Série A pelos cartazes.

"A questão é como a Liga não consegue ver como isso é uma colaboração carregada e equivocada para uma iniciativa contra o racismo", afirma.

"Se você se perguntava por que um grupo seleto de clubes da Série A está combatendo o racismo com as próprias mãos, a fé na liga é sub-zero."

'Somos todos macacos'

Em entrevista coletiva na segunda-feira, o autor dos cartazes, o artista plástico Simone Fugazzotto, que sempre usa macacos em seu trabalho, explicou o conceito por trás do uso dos animais:

"Para um artista, não há nada mais importante do que tentar mudar a percepção das coisas por meio de seu próprio trabalho."

"Decidi retratar macacos para falar sobre racismo porque eles são a metáfora dos seres humanos. No ano passado, eu estava no estádio para ver Inter x Napoli [partida em que o zagueiro Kalidou Koulibaly, do Napoli, foi alvo de ofensas raciais] e me senti humilhado, todo mundo estava gritando 'macaco' para o Koulibaly, um jogador que eu respeito."

"Eu sempre pintei macacos nos últimos cinco a seis anos. Então pensei em fazer esse trabalho para ensinar que somos todos macacos. Fiz o macaco ocidental com olhos azuis; o macaco asiático com olhos amendoados; e o macaco negro posicionado no centro, de onde vem tudo. O macaco se torna a fagulha para ensinar a todos que não há diferença, não há homem ou macaco, somos todos iguais. Somos todos macacos", acrescentou.

O diretor-executivo da Série A, Luigi de Siervo, afirmou, por sua vez, que a Liga está comprometida a combater "todas as formas de preconceito".

"O compromisso da Liga contra todas as formas de preconceito é forte e concreto, sabemos que o racismo é um problema endêmico e muito complexo, que abordaremos em três níveis diferentes; o cultural, por meio de obras como as de Simone; o esportivo, com uma série de iniciativas em conjunto com clubes e jogadores, e o repressivo, em colaboração com a polícia."