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De Menem a Fidel Castro: a vida política 'agitada' de Diego Maradona

Maradona foi amigo e apoiador do líder cubano Fidel Castro até a morte - EPA
Maradona foi amigo e apoiador do líder cubano Fidel Castro até a morte Imagem: EPA

25/11/2020 18h26

O argentino Diego Maradona, que morreu hoje aos 60 anos após sofrer uma parada cardíaca em casa, era polêmico dentro e fora dos gramados, especialmente quanto ao seu posicionamento político.

Durante sua vida, o ex-jogador e técnico apoiou personalidades de campos ideológicos distintos.

De um lado, fez campanha para o neoliberal Carlos Menem, que viria a se tornar presidente argentino.

Mas foi, sem dúvida, sua simpatia pelas ideologias de esquerda, especificamente sua longa amizade com o líder cubano Fidel Castro, que ganhou os holofotes da mídia.

"Diego é um grande amigo e muito nobre também. Também não há dúvida de que ele é um atleta maravilhoso e manteve uma amizade com Cuba sem ganho material dele mesmo", disse Castro certa vez sobre o argentino.

O encanto por Castro era tanto que Maradona tatuou o rosto do líder cubano em sua perna esquerda e o de seu compatriota argentino Che Guevara, outro expoente da Revolução Cubana, em seu braço direito.

Maradona também dedicou a Castro, entre outras pessoas, sua autobiografia, "Yo soy El Diego" ("Eu sou Diego", em tradução livre).

"A Fidel Castro e, por meio dele, a todo o povo cubano ", escreveu ele, em seu livro de memórias.

Castro também foi um dos convidados mais notórios do programa que Maradona conduziu na TV argentina, do qual Pelé também participou.

O argentino também era conhecido por apoiar abertamente o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.

Em 2005, viajou à Venezuela para se encontrar com Chávez, que o recebeu no Palácio Miraflores, sede do governo.

Após o encontro, Maradona afirmou que tinha vindo encontrar um "grande homem", mas em vez disso encontrou um "gigante".

"Acredito em Chávez, eu sou chavista. Tudo que Fidel faz, tudo que Chávez faz, para mim é o melhor", disse.

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Maradona tatuou rosto de Fidel Castro em sua perna
Imagem: Reuters

A amizade entre os dois franqueou a Maradona o posto de convidado de honra de Chávez no jogo de abertura da Copa América de 2007, realizada na Venezuela.

Em seu país natal, a Argentina, Maradona também apoiou os governos de Néstor Kirchner e de sua mulher, Cristina. Em 2010, participou, inclusive, do funeral de Estado do primeiro.

Também era apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a comemorar sua soltura no Instagram.

"Hoje se fez justiça", disse o argentino em novembro de 2019.

No Twitter, Lula lamentou a morte de Maradona.

"Diego Armando Maradona foi um gigante do futebol, da Argentina e de todo o mundo, um talento e uma personalidade única. A sua genialidade e paixão no campo, a sua intensidade na vida e seu compromisso com a soberania latino-americana marcaram nossa época", escreveu Lula.

"No campo, foi um dos maiores adversários, talvez o maior, que a seleção brasileira já enfrentou. Fora da rivalidade esportiva, foi um grande amigo do Brasil. Só posso agradecer toda sua solidariedade com as causas populares e com o povo brasileiro. Maradona jamais será esquecido", acrescentou.

Contra o imperialismo

Maradona também se dizia contra o imperialismo.

Na Cúpula das Américas de 2005, realizada em Mar del Plata, na Argentina, o argentino protestou contra a presença de George W. Bush no país, vestindo uma camiseta com a frase "STOP BUSH" (com o "s" em "Bush" sendo substituído por uma suástica, o símbolo nazista) e se referindo a Bush como "lixo humano".

Em agosto de 2007, Maradona foi mais longe, fazendo uma aparição no programa semanal de televisão de Chávez, Alo Presidente, dizendo: "Odeio tudo que vem dos Estados Unidos. Odeio com todas as minhas forças".

No entanto, em dezembro do ano seguinte, o argentino adotou uma atitude mais pró-EUA ao expressar admiração pelo sucessor de Bush, o então presidente eleito Barack Obama.

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Maradona apoiava Cristina Kirchner
Imagem: Reuters

Na época, Maradona disse ter "grandes expectativas" em relação a ele.

Em dezembro de 2007, Maradona apresentou uma camisa autografada com uma mensagem de apoio ao povo do Irã. O item está exposto no museu do Ministério das Relações Exteriores iraniano.

Já em abril de 2013, Maradona visitou o túmulo de Chávez e pediu aos venezuelanos que elegessem seu sucessor designado, Nicolás Maduro, para continuar o legado do líder socialista.

O argentino chegou a participar do comício final da campanha de Maduro em Caracas, assinando bolas de futebol e chutando-as para a multidão, e presenteou Maduro com uma camisa da Argentina.

Durante as eleições presidenciais de 2018, novo apoio a Maduro: Maradona participou e dançou no comício da campanha eleitoral.

Durante a crise presidencial venezuelana de 2019, a Federação Mexicana de Futebol o multou por violar seu código de ética e dedicar a vitória do time que comandava, Dorados de Sinaloa, a Nicolás Maduro.

Na mesma entrevista a jornalistas em que prestou a homenagem a Maduro, Maradona criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Igreja Católica

Não sobrou nem mesmo para o papa.

Uma de suas histórias mais famosas foi justamente por causa de uma crítica aberta contra o Vaticano, quando João Paulo 2º era o Papa. "Entrei e vi o teto dourado. E pensei comigo mesmo: como pode ser um filho da p... morar com um teto dourado e depois ir para países pobres e beijar os meninos com a barriga assim. Parei de acreditar, porque estava vendo", disse em sua autobiografia.

Muitos anos depois, quando o argentino Francisco foi nomeado papa, Maradona reconquistou sua confiança na Igreja.

"De agora em diante sou o capitão do time de Francisco", disse.