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'Não sabemos o que fazer', diz jogador brasileiro que vive na Ucrânia

Talles Brener de Paula joga no time Rukh Vynnyky, da Ucrânia - Divulgação
Talles Brener de Paula joga no time Rukh Vynnyky, da Ucrânia Imagem: Divulgação

Josué Seixas - De Maceió para a BBC News Brasil

24/02/2022 13h12

O jogador Talles Brener de Paula, do Rukh Vynnyky, é um dos brasileiros presos na Ucrânia após a invasão da Rússia, iniciada na quinta-feira (24/2). Além dele, jogadores do Shakhtar Donetsk e do Dínamo de Kiev estão em um hotel na capital. A embaixada brasileira ainda não entrou em contato com o atleta.

Talles, assim como os outros brasileiros, diz que tem dificuldade para sair do país. Em Lviv, no oeste do país, Talles está em seu apartamento, acompanhado da namorada, e aguarda um posicionamento do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que tome uma atitude definitiva quanto à sua permanência na cidade.

"Nós estamos bem. Hoje, cancelaram os treinamentos, mas ainda não sabemos o que fazer e não temos o que fazer. Eu fui ao supermercado hoje cedo, para ter coisas em casa, e está muito cheio. Muito movimento de carro, muito trânsito. Agora deu uma parada, mas pela manhã tínhamos muitos carros na rua", diz à BBC News Brasil.

Segundo o jogador, o clube pediu para que ele ficasse em casa e aguardasse. No entanto, essa é uma decisão difícil, já que as movimentações externas vêm acontecendo muito rápido. Mais cedo, Lviv recebeu alerta de bombardeios e isso causou apreensão.

"A nossa solução é ir para a Polônia, que fica há seis horas de distância de carro. Estamos preparando algumas coisas, porque não dá para sair e ir para a Polônia de vez sem saber como fica nossa situação. Aqui está mais tranquilo do que em Kiev, eu imagino. Compramos os mantimentos e vamos esperar. Eu não tenho carro aqui, então, teria que correr atrás para alugar um ou pegar um com o clube", afirma Talles.

Assim como jogadores de outros clubes da Ucrânia, à exemplo do Shakthar Donetski, o Rukh Vynnyky fazia um período de preparação na Turquia até a semana passada. Eles voltaram à Ucrânia no último domingo (20/2) e as atividades teriam sequência com normalidade, apesar da iminência da invasão.

Embora a embaixada não tenha entrado em contato, segundo o jogador, o embaixador brasileiro em Kiev, Norton Rapesta, disse à BBC News Brasil que os brasileiros que estão em regiões afetadas pelo conflito na Ucrânia serão evacuados.

"Nós vamos evacuar os brasileiros. Jogadores de futebol. Todo mundo", afirmou o embaixador por telefone.

Jogadores fazem apelo em hotel

Na manhã de quinta, jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk e do Dínamo de Kiev, dois dos maiores clubes da Ucrânia, gravaram um vídeo pedindo socorro para deixar o país. Além dos jogadores, estão familiares, como mulheres e filhos, no mesmo hotel.

"Estamos todos reunidos aqui, com nossas famílias. [...] A gente está aqui pedindo a ajuda de vocês para promover esse vídeo devido à falta de combustível que existe na cidade, fronteira fechada, espaço aéreo fechado. A gente não tem como sair. A gente pede muito apoio ao governo do Brasil, que possa nos ajudar", diz um dos jogadores.

"A gente realmente não tem o que fazer. As informações não chegam até nós, a não ser as do Brasil. A gente faz um apelo para vocês, até por causa das crianças. Cada um saiu correndo da sua casa correndo para o hotel, cada um com uma peça de roupa. Não sabemos se vai ter comida", complementou uma das esposas.

Um dos jogadores que está no hotel, que preferiu não se identificar por questões de segurança, afirmou que acordou às 3h da manhã com barulhos de bombas em Kiev. Segundo ele, não havia grande alarme sobre a possibilidade de invasão.

O clube, inclusive, afirmava que não haveria invasão e que, se houvesse, seria somente na região de fronteira. Agora, os jogadores cobram dos clubes um posicionamento e uma solução para sair do país.

A Embaixada do Brasil em Kiev anunciou que permanece aberta e "dedicada, com prioridade, desde o agravamento das tensões, à proteção dos cerca de 500 cidadãos brasileiros na Ucrânia".

"Solicita-se aos cidadãos brasileiros em território ucraniano, em particular aos que se encontrem no leste do país e outras regiões em condições de conflito, que mantenham contato diário com a Embaixada. Caso necessitem de auxílio para deixar a Ucrânia, devem seguir as orientações da Embaixada e, no caso dos residentes no leste, deslocar-se para Kiev assim que as condições de segurança o permitam", informou o Ministério das Relações Exteriores.

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