O nepalês Min Bahadur Sherchan, de 78 anos, tem vivido dias de verdadeira felicidade desde que foi incluído no "Guinness", o livro dos recordes, como o alpinista mais velho a chegar ao topo do Everest, a montanha mais alta do planeta.
"Eu achava que o recorde deveria também ser de um nepalês. Afinal de contas, os xerpas nepaleses têm o recorde de serem os mais jovens, os mais rápidos e os que mais vezes escalaram o Everest", disse Sherchan em entrevista à Agência Efe em Katmandu.
O nepalês conseguiu a façanha em maio de 2008, quando tinha 76 anos, mas só foi incluído no "Guinness" há poucos dias por não ter seguido o procedimento burocrático apropriado para aparecer na lista.
"No ano passado enviamos um certificado do Governo, mas pelo visto eu também tinha que demonstrar os fatos com a documentação correspondente", explicou.
Entre os documentos enviados ao "Guinness" há declarações de testemunhas, sua certidão de nascimento e até notícias publicadas pela imprensa local.
No livro "Guinness" de 2009 aparece como a pessoa mais velha a chegar ao pico do Everest (8.848 metros) o alpinista japonês Yiuchiro Miura, que conseguiu o feito com 75 anos apenas um dia depois de Sherchan.
Há meio século Sherchan tinha o sonho conseguir um recorde em alpinismo.
Em 1960, o cume de Dhaulagiri, o sétimo mais alto do mundo, ainda não tinha sido alcançado. Após sete tentativas fracassadas de vários grupos de montanhistas, uma expedição suíça e austríaca finalmente conseguiu, junto a dois xerpas nepaleses, chegar ao topo.
O fato frustrou Sherchan, ex-soldado, que esperava que a expedição fracassasse para, assim, chegar ao cume em uma jornada no ano seguinte.
"Então perdi toda a esperança de conseguir um recorde de alpinismo", afirmou.
Mais de 40 anos depois, ficou sabendo que o alpinista japonês estava preparando sua alta ao Everest para estabelecer um recorde e a esperança de aparecer no livro do recorde reapareceu.
Então, ele começou a se preparar. Em 2004, com 72 anos, caminhou durante 20 dias por mais de mil quilômetros do leste a oeste do Nepal e, aos 73, fez 300 quilômetros de norte a sul em nove dias, uma caminhada mais difícil devido ao terreno complicado.
O alpinista ainda fez uma revisão médica e foi informado de que teria problemas de saúde se subisse acima dos 3 mil metros.
"Não podia acreditar. Mas isso me deu ainda mais determinação", resumiu o alpinista, que contrariou os médicos ao subir, com 74 anos, ao pico de Naykhanga (5.844 metros).
O outro desafio era o financiamento. O Governo nepalês não aceitou oferecer dinheiro, mas conseguiu que cidadãos sul-coreanos dessem uma ajuda de US$ 50 mil.
As autoridades advertiram também que ele não poderia subir o Everest se antes não tivesse chegado a um pico de pelo menos 6 mil metros. Ademais, as companhias de seguros se negavam a ter como cliente um septuagenário.
Como se não lhe bastassem os problemas que já tinha, mesmo após receber a permissão o alpinista não pôde iniciar a escalada. Ele não poderia liderar a expedição e, então, encontrou um xerpa experiente que, doente, não pôde acompanhá-lo na jornada.
Então, conseguiu encontrar um outro guia e, embora precisasse de outra permissão para ele, os oficiais nepaleses decidiram fazer vista grossa e deixá-lo subir.
Em 25 de maio de 2008, com 76 anos e 340 dias, Sherchan chegou ao topo do mundo e realizou seu sonho.
"Naquele momento, me senti mais alto que a montanha", afirmou.
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