Escolha polêmica por Rússia e Catar antecipou saída de Blatter
Redação Central, 24 fev (EFE).- A escolha de Rússia e Catar como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente, gerou polêmica, inclusive "colocando em campo" a justiça suíça, levou ao adiamento das definições sobre os Mundiais seguintes e contribuiu de forma decisiva para o desmoronamento de uma estrutura que a Fifa procura superar com as reformas que deverá realizar nesta semana.
O começo do fim aconteceu em 2 de dezembro de 2010, quando o Comitê Executivo anunciou onde as duas próximas Copas acontecerão. As votações, na verdade, não foram nada mais que o fator que levaram à tona um sistema repleto de interesses e exposto a corruptelas, algo que já tinha sido delatado pela imprensa desde antes do pleito.
O que aconteceu é que a própria Fifa, empurrada pelos escândalos que foram revelados pouco a pouco, foi quem abriu um processo que pôs seus membros sob a lupa. Primeiramente, a entidade encomendou um relatório independente, e depois o caso parou na justiça suíça.
O que, em princípio, parecia ser uma "lavagem de roupa suja" da entidade, terminou por envolver muitos dos dirigentes que a sustentavam.
Tudo começa quatro anos antes, em Zurique, quando os 22 componentes do Comitê Executivo se preparam para escolher as sedes de 2018 e 2022. Países africanos e sul-americanos não puderam participar do pleito porque a África do Sul havia recebido a Copa de 2010, e o Brasil viria a receber a de 2014.
As surpresas começaram na primeira votação, que deixou de fora da concorrência uma das favoritas, a Inglaterra, que teve apenas dois votos. Na segunda fase, a Rússia obteve 13 votos, ficou à frente da candidatura ibérica Espanha-Portugal (7) e da Holanda-Bélgica (2) e conquistou o direito de organizar o torneio.
Para a Copa do Mundo de 2022, foram necessárias quatro votações, que descartaram a Austrália, o Japão e a Coreia do Sul. Na última rodada, restaram Estados Unidos e Catar, este último tendo levado a melhor por 14 a 8.
A partir daí, fez-se a polêmica, e a controvérsia se tornou frequente na Fifa. Após a escolha em Zurique, o então primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, viajou à cidade suíça para agradecer a confiança da Fifa em seu país e denunciar o que considera uma concorrência desleal de outras candidaturas.
Blatter justificou a escolha do Catar por uma dívida com o mundo árabe e afirmou que seria uma loucura pensar que sua concessão e a da Rússia fossem uma questão de dinheiro.
Mas as denúncias preliminares - inclusive com gravações ocultas que acusavam membros do Comitê Executivo - e as acusações de compra de votos que surgem após a eleição foram tomando força até se transformar em um clamor.
Em 10 de maio de 2011, o ex-presidente da federação inglesa (FA) David Triesman denunciou na Câmara dos Comuns que o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o então vice-presidente da Fifa Jack Warner, o então presidente da Conmebol, Nicolás Leoz e o tailandês Worawi Makudi se mostraram dispostos a receber propina a troco de votar na Inglaterra para organizar a Copa de 2018.
Duas semanas depois, o Comitê de Ética suspendeu provisoriamente Warner e o então presidente da Confederação Asiática de Futebol, Mohammed Bin Hammam, por possíveis violações do Código de Ética relacionadas com as eleições à presidência da Fifa de 2011, nas quais o catariano seria o único candidato para disputar com Blatter, mas se retirou antes de ser suspenso.
Como resposta, um dia depois, Warner divulgou um e-mail do secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, no qual este sugere que o Catar comprou a Copa de 2022.
Nesse clima de suspeita, Blatter obteve a reeleição no final de maio para um quarto mandato. Ele então propôs que, a partir desse momento, fosse o Congresso (209 pessoas em vez de 22), o responsável por eleger as sedes dos Mundiais, além da criação de um comitê para investigar as denúncias de corrupção.
No começo de 2012, a revista "France Football" publicou que o Catar comprou o Mundial de 2022 e envolve, entre outros, o então presidente da Associação Argentina, Julio Grondona - morto em 30 de julho de 2014-, Leoz e Ricardo Teixeira.
A publicação citava também uma reunião entre o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy e o emir catariano, na qual também esteve presente o presidente suspenso da Uefa, Michel Platini, que votou a favor do Catar e admitiu isso publicamente.
Três meses depois, a Fifa reforçou seu Comitê de Ética com a nomeação do ex-Procurador do Distrito Sul de Nova York Michael J. García, que em agosto de 2012 começou a investigar o processo de licitação das duas Copas.
García encontrou dificuldades. Não pôde falar com pessoas convocadas pela justiça nem pedir documentos a provedores de serviço da internet. Além disso, a Rússia não permite sua entrada no país.
O investigador então entregou um relatório de 350 páginas em setembro de 2014, mas o presidente do órgão de decisão do Comitê de Ética, o alemão Hans-Joachim Eckert, anunciou que o documento não seria divulgado por razões legais. Isso levou García a renunciar da função que exercia.
Antes, em 13 de novembro de 2014, Eckert expôs suas conclusões em 42 páginas nas quais concluiu que não houve irregularidades nos processos das candidaturas a 2018 e 2022, mas algumas condutas suspeitas de pessoas individuais.
Cinco dias depois, a Fifa apresentou uma denúncia penal no judiciário suíço relacionada com a "possível conduta dolosa de pessoas individualmente em relação com a concessão dos direitos de organização dos Mundiais de 2018 e 2022". Além disso, pediu que fossem investigadas as transferências internacionais de ativos com conexões na Suíça.
Passou-se um ano e meio desde então. A justiça suíça, que estimou que o processo pode se prolongar até seis anos, já encontrou mais de 120 transações suspeitas relacionadas com a definição das sedes, e o próprio FBI também se interessou pelo processo, em conexão com a investigação pela corrupção dos dirigentes da Fifa.
O próprio Blatter está convencido de que sua queda foi provocada pelos Estados Unidos, que não foram eleitos para organizar o Mundial novamente, e pela França, que mudou seu voto a favor do Catar e rompeu o acordo que existia para que russos e americanos ficassem com organização dos torneios.
"Eu queria dar os Mundiais para as duas superpotências: Estados Unidos e Rússia. Teria trazido algo de paz ao mundo", disse o dirigente suíço ao jornal "The Times" na semana passada.
Por isso, Blatter, que já acusou Angela Merkel e Franz Beckenbauer de manobrar a favor do Catar, está convencido de que foi a mudança de voto da França, encorajada por Nicolas Sarkozy, o que derrubou seus planos e o colocou em apuros.
"Quando nos detiveram na Suíça, perguntei a Platini se ele sabia por que nos levavam. Me disse que não. Me disse que Sarkozy lhe pediu para não votar nos EUA para a Copa de 2022 e que votasse no Catar. Lá, soube que haveria problemas. Tentei resolver a situação, mas faltavam dez dias para a votação", relatou o suíço.
O começo do fim aconteceu em 2 de dezembro de 2010, quando o Comitê Executivo anunciou onde as duas próximas Copas acontecerão. As votações, na verdade, não foram nada mais que o fator que levaram à tona um sistema repleto de interesses e exposto a corruptelas, algo que já tinha sido delatado pela imprensa desde antes do pleito.
O que aconteceu é que a própria Fifa, empurrada pelos escândalos que foram revelados pouco a pouco, foi quem abriu um processo que pôs seus membros sob a lupa. Primeiramente, a entidade encomendou um relatório independente, e depois o caso parou na justiça suíça.
O que, em princípio, parecia ser uma "lavagem de roupa suja" da entidade, terminou por envolver muitos dos dirigentes que a sustentavam.
Tudo começa quatro anos antes, em Zurique, quando os 22 componentes do Comitê Executivo se preparam para escolher as sedes de 2018 e 2022. Países africanos e sul-americanos não puderam participar do pleito porque a África do Sul havia recebido a Copa de 2010, e o Brasil viria a receber a de 2014.
As surpresas começaram na primeira votação, que deixou de fora da concorrência uma das favoritas, a Inglaterra, que teve apenas dois votos. Na segunda fase, a Rússia obteve 13 votos, ficou à frente da candidatura ibérica Espanha-Portugal (7) e da Holanda-Bélgica (2) e conquistou o direito de organizar o torneio.
Para a Copa do Mundo de 2022, foram necessárias quatro votações, que descartaram a Austrália, o Japão e a Coreia do Sul. Na última rodada, restaram Estados Unidos e Catar, este último tendo levado a melhor por 14 a 8.
A partir daí, fez-se a polêmica, e a controvérsia se tornou frequente na Fifa. Após a escolha em Zurique, o então primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, viajou à cidade suíça para agradecer a confiança da Fifa em seu país e denunciar o que considera uma concorrência desleal de outras candidaturas.
Blatter justificou a escolha do Catar por uma dívida com o mundo árabe e afirmou que seria uma loucura pensar que sua concessão e a da Rússia fossem uma questão de dinheiro.
Mas as denúncias preliminares - inclusive com gravações ocultas que acusavam membros do Comitê Executivo - e as acusações de compra de votos que surgem após a eleição foram tomando força até se transformar em um clamor.
Em 10 de maio de 2011, o ex-presidente da federação inglesa (FA) David Triesman denunciou na Câmara dos Comuns que o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o então vice-presidente da Fifa Jack Warner, o então presidente da Conmebol, Nicolás Leoz e o tailandês Worawi Makudi se mostraram dispostos a receber propina a troco de votar na Inglaterra para organizar a Copa de 2018.
Duas semanas depois, o Comitê de Ética suspendeu provisoriamente Warner e o então presidente da Confederação Asiática de Futebol, Mohammed Bin Hammam, por possíveis violações do Código de Ética relacionadas com as eleições à presidência da Fifa de 2011, nas quais o catariano seria o único candidato para disputar com Blatter, mas se retirou antes de ser suspenso.
Como resposta, um dia depois, Warner divulgou um e-mail do secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, no qual este sugere que o Catar comprou a Copa de 2022.
Nesse clima de suspeita, Blatter obteve a reeleição no final de maio para um quarto mandato. Ele então propôs que, a partir desse momento, fosse o Congresso (209 pessoas em vez de 22), o responsável por eleger as sedes dos Mundiais, além da criação de um comitê para investigar as denúncias de corrupção.
No começo de 2012, a revista "France Football" publicou que o Catar comprou o Mundial de 2022 e envolve, entre outros, o então presidente da Associação Argentina, Julio Grondona - morto em 30 de julho de 2014-, Leoz e Ricardo Teixeira.
A publicação citava também uma reunião entre o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy e o emir catariano, na qual também esteve presente o presidente suspenso da Uefa, Michel Platini, que votou a favor do Catar e admitiu isso publicamente.
Três meses depois, a Fifa reforçou seu Comitê de Ética com a nomeação do ex-Procurador do Distrito Sul de Nova York Michael J. García, que em agosto de 2012 começou a investigar o processo de licitação das duas Copas.
García encontrou dificuldades. Não pôde falar com pessoas convocadas pela justiça nem pedir documentos a provedores de serviço da internet. Além disso, a Rússia não permite sua entrada no país.
O investigador então entregou um relatório de 350 páginas em setembro de 2014, mas o presidente do órgão de decisão do Comitê de Ética, o alemão Hans-Joachim Eckert, anunciou que o documento não seria divulgado por razões legais. Isso levou García a renunciar da função que exercia.
Antes, em 13 de novembro de 2014, Eckert expôs suas conclusões em 42 páginas nas quais concluiu que não houve irregularidades nos processos das candidaturas a 2018 e 2022, mas algumas condutas suspeitas de pessoas individuais.
Cinco dias depois, a Fifa apresentou uma denúncia penal no judiciário suíço relacionada com a "possível conduta dolosa de pessoas individualmente em relação com a concessão dos direitos de organização dos Mundiais de 2018 e 2022". Além disso, pediu que fossem investigadas as transferências internacionais de ativos com conexões na Suíça.
Passou-se um ano e meio desde então. A justiça suíça, que estimou que o processo pode se prolongar até seis anos, já encontrou mais de 120 transações suspeitas relacionadas com a definição das sedes, e o próprio FBI também se interessou pelo processo, em conexão com a investigação pela corrupção dos dirigentes da Fifa.
O próprio Blatter está convencido de que sua queda foi provocada pelos Estados Unidos, que não foram eleitos para organizar o Mundial novamente, e pela França, que mudou seu voto a favor do Catar e rompeu o acordo que existia para que russos e americanos ficassem com organização dos torneios.
"Eu queria dar os Mundiais para as duas superpotências: Estados Unidos e Rússia. Teria trazido algo de paz ao mundo", disse o dirigente suíço ao jornal "The Times" na semana passada.
Por isso, Blatter, que já acusou Angela Merkel e Franz Beckenbauer de manobrar a favor do Catar, está convencido de que foi a mudança de voto da França, encorajada por Nicolas Sarkozy, o que derrubou seus planos e o colocou em apuros.
"Quando nos detiveram na Suíça, perguntei a Platini se ele sabia por que nos levavam. Me disse que não. Me disse que Sarkozy lhe pediu para não votar nos EUA para a Copa de 2022 e que votasse no Catar. Lá, soube que haveria problemas. Tentei resolver a situação, mas faltavam dez dias para a votação", relatou o suíço.
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