Samir Azzimani, o esquiador que treinou no deserto para os Jogos de Inverno
Juan Vargas.
Rabat, 27 jan (EFE).- Quando se fala em um atleta que treina no deserto, o normal é pensar que se trata de um maratonista, ciclista ou mesmo um piloto de rali, mas Samir Azzimani quebra este estereótipo enfrentando as dunas do deserto do Saara como parte de sua preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno.
Azzimani será um dos dois representantes do Marrocos em PyeongChang e quer fazer história, já que será o primeiro atleta a competir no esqui cross-country em uma edição de Jogos Olímpicos após ter participado da modalidade esqui alpino - no caso, na edição de Vancouver, em 2010.
Em entrevista à Agência Efe, este marroquino nascido na França, de 40 anos, contou que seus treinos no deserto foram essenciais para concluir com sucesso a transição entre as duas modalidades, já que o cross-country "exige muito mais leveza e resistência" que o esqui alpino, "mais baseado na explosão".
Nos últimos anos, Azzimani alternou temporadas nos Alpes franceses e suíços com viagens para a região desértica entre Tarfaya e El Aaioun, no Saara Ocidental, onde o atleta faz exercícios nas dunas para fortalecer suas articulações, percorre estradas com esquis equipados com rodas e pratica outros esportes, como atletismo e ciclismo, para melhorar sua resistência e sua capacidade aeróbica.
Um vídeo recente do canal "Olympic Channel", que gravou seus treinamentos no Saara (https://www.youtube.com/watch?v=DvnNJMyxBFw), aumentou sua popularidade, sobretudo no Marrocos, onde ganhou o apelido de 'Couscous Rocket' ("Foguete de Couscous", em tradução livre) de seus amigos em referência à equipe jamaicana de bobsled que competiu nos Jogos de 1988 e inspirou o filme 'Jamaica Abaixo de Zero' (Jon Turteltaub, 1993), chamado de "Rasta Rocket" ("Foguete Rasta", em tradução livre) na versão em francês.
Há quatro anos, Azzimani decidiu, "com o coração dividido", mudar para o esqui cross-country. Uma hérnia atrapalhou seus planos de estar em Sochi em 2014 e, durante o processo de recuperação, concluiu que "não voltaria a alcançar" o nível necessário para tentar uma vaga olímpica no esqui alpino.
Assim que se recuperou, Azzimani começou em sua nova modalidade com o singular desafio de cruzar o Marrocos de norte a sul com esquis com rodinhas - "1700 quilômetros em cinco semanas", contou. Desde então, não olhou mais para trás até conseguir a classificação para PyeongChang na Nova Zelândia, em 7 de setembro.
O marroquino admitiu que o esqui cross-country não estava entre suas preferências quando, aos seis anos, descobriu a neve por acaso, graças a uma viagem organizada pelo serviço social de Colombes, cidade na periferia de Paris onde cresceu.
O esqui logo se transformou em "uma droga" para Azzimani, que afirma que a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Albertville, em 1992, foi o ponto de virada em sua trajetória.
"Quando vi o Marrocos desfilar com orgulho, meu coração ficou apertado. Jurei que um dia faria melhor do que eles", contou.
Albertville recebeu a maior delegação marroquina da história nos Jogos Olímpicos de Inverno, com 12 atletas, mas foi apenas uma miragem, já que o país africano não voltou a ter um representante no megaevento esportivo até 2010, quando o próprio Azzimani participou dos Jogos de Vancouver.
Após não obter sucesso para se classificar para Salt Lake City (2002) e Turim (2006), Azzimani conseguiu a vaga em Vancouver e ficou na 44ª posição no slalom e na 74ª no slalom gigante.
Sua lembrança mais feliz, porém, é de fora da pista de competição.
"Ser porta-bandeira na cerimônia de abertura foi o melhor momento. Realizei meu sonho de criança e, sobretudo, levei a bandeira dos meus antepassados", disse.
Além disso, a ocasião serviu para que ele pudesse melhorar sua relação com a federação marroquina, cujo apoio, segundo Azzimani, nem sempre foi tão sólido quanto o esquiador gostaria. Ele espera colaborar com dirigentes do país para promover "o desenvolvimento econômico dos esportes de inverno no Marrocos".
Azzimani não sabe se será novamente o porta-bandeira marroquino, já que terá um companheiro na delegação em PyeongChang, o esquiador alpino Adam Lamhamedi. O atleta do cross-country, no entanto, tem em mente uma meta esportiva: "dar o máximo para não sentir remorso, evitar ficar em último e terminar com 12 a 15 minutos de diferença para o campeão olímpico".
Independentemente do resultado, Azzimani fará história com sua singular mudança de disciplina, uma façanha conseguida graças à combinação de treinamentos na neve dos Alpes e nas dunas da Saara. EFE
jvc/rpr/id
(foto)
Rabat, 27 jan (EFE).- Quando se fala em um atleta que treina no deserto, o normal é pensar que se trata de um maratonista, ciclista ou mesmo um piloto de rali, mas Samir Azzimani quebra este estereótipo enfrentando as dunas do deserto do Saara como parte de sua preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno.
Azzimani será um dos dois representantes do Marrocos em PyeongChang e quer fazer história, já que será o primeiro atleta a competir no esqui cross-country em uma edição de Jogos Olímpicos após ter participado da modalidade esqui alpino - no caso, na edição de Vancouver, em 2010.
Em entrevista à Agência Efe, este marroquino nascido na França, de 40 anos, contou que seus treinos no deserto foram essenciais para concluir com sucesso a transição entre as duas modalidades, já que o cross-country "exige muito mais leveza e resistência" que o esqui alpino, "mais baseado na explosão".
Nos últimos anos, Azzimani alternou temporadas nos Alpes franceses e suíços com viagens para a região desértica entre Tarfaya e El Aaioun, no Saara Ocidental, onde o atleta faz exercícios nas dunas para fortalecer suas articulações, percorre estradas com esquis equipados com rodas e pratica outros esportes, como atletismo e ciclismo, para melhorar sua resistência e sua capacidade aeróbica.
Um vídeo recente do canal "Olympic Channel", que gravou seus treinamentos no Saara (https://www.youtube.com/watch?v=DvnNJMyxBFw), aumentou sua popularidade, sobretudo no Marrocos, onde ganhou o apelido de 'Couscous Rocket' ("Foguete de Couscous", em tradução livre) de seus amigos em referência à equipe jamaicana de bobsled que competiu nos Jogos de 1988 e inspirou o filme 'Jamaica Abaixo de Zero' (Jon Turteltaub, 1993), chamado de "Rasta Rocket" ("Foguete Rasta", em tradução livre) na versão em francês.
Há quatro anos, Azzimani decidiu, "com o coração dividido", mudar para o esqui cross-country. Uma hérnia atrapalhou seus planos de estar em Sochi em 2014 e, durante o processo de recuperação, concluiu que "não voltaria a alcançar" o nível necessário para tentar uma vaga olímpica no esqui alpino.
Assim que se recuperou, Azzimani começou em sua nova modalidade com o singular desafio de cruzar o Marrocos de norte a sul com esquis com rodinhas - "1700 quilômetros em cinco semanas", contou. Desde então, não olhou mais para trás até conseguir a classificação para PyeongChang na Nova Zelândia, em 7 de setembro.
O marroquino admitiu que o esqui cross-country não estava entre suas preferências quando, aos seis anos, descobriu a neve por acaso, graças a uma viagem organizada pelo serviço social de Colombes, cidade na periferia de Paris onde cresceu.
O esqui logo se transformou em "uma droga" para Azzimani, que afirma que a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Albertville, em 1992, foi o ponto de virada em sua trajetória.
"Quando vi o Marrocos desfilar com orgulho, meu coração ficou apertado. Jurei que um dia faria melhor do que eles", contou.
Albertville recebeu a maior delegação marroquina da história nos Jogos Olímpicos de Inverno, com 12 atletas, mas foi apenas uma miragem, já que o país africano não voltou a ter um representante no megaevento esportivo até 2010, quando o próprio Azzimani participou dos Jogos de Vancouver.
Após não obter sucesso para se classificar para Salt Lake City (2002) e Turim (2006), Azzimani conseguiu a vaga em Vancouver e ficou na 44ª posição no slalom e na 74ª no slalom gigante.
Sua lembrança mais feliz, porém, é de fora da pista de competição.
"Ser porta-bandeira na cerimônia de abertura foi o melhor momento. Realizei meu sonho de criança e, sobretudo, levei a bandeira dos meus antepassados", disse.
Além disso, a ocasião serviu para que ele pudesse melhorar sua relação com a federação marroquina, cujo apoio, segundo Azzimani, nem sempre foi tão sólido quanto o esquiador gostaria. Ele espera colaborar com dirigentes do país para promover "o desenvolvimento econômico dos esportes de inverno no Marrocos".
Azzimani não sabe se será novamente o porta-bandeira marroquino, já que terá um companheiro na delegação em PyeongChang, o esquiador alpino Adam Lamhamedi. O atleta do cross-country, no entanto, tem em mente uma meta esportiva: "dar o máximo para não sentir remorso, evitar ficar em último e terminar com 12 a 15 minutos de diferença para o campeão olímpico".
Independentemente do resultado, Azzimani fará história com sua singular mudança de disciplina, uma façanha conseguida graças à combinação de treinamentos na neve dos Alpes e nas dunas da Saara. EFE
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