Ser mãe ou se manter bem ranking: o dilema que as tenistas não querem ter
Assim como uma empregada ou executiva encontra sua mesa e seu computador exatamente como tinha deixado quando volta de uma licença maternidade, as tenistas de elite querem que todo o esforço de uma carreira profissional não seja perdido por se ausentarem por alguns meses para dar à luz.
Da primeira posição para a ausência no ranking. Assim a americana Serena Williams encontrou sua "escrivaninha" no circuito ao voltar ao circuito seis meses depois do nascimento da primeira filha, Alexis Olympia.
Como a classificação da WTA leva em conta apenas os resultados dos últimos 12 meses, Serena chegou a sair da lista, já que não atuava desde fevereiro do ano passado, quando foi campeã do Aberto da Austrália. Com a classificação para a terceira rodada de Indian Wells, onde perdeu para a irmã, Venus, assumiu o modesto 491º lugar.
As maternidades de duas ex-número 1 do mundo, Serena e a bielorrussa Victoria Azarenka, trouxeram à tona o debate sobre a falta de proteção da WTA às atletas que voltam ao circuito após serem mãe, o que representa a perda de posições no ranking.
O estrito calendário, que obriga os tenistas a percorrerem o mundo para acumular pontos para se classificar para as maiores competições, faz com que a modalidade seja uma das com menor facilidade para que as profissionais possam conciliar a maternidade e carreira.
A opção pelo chamado ranking protegido, baseado na classificação média de um atleta durante os três primeiros meses afastado, seja por lesões ou gestação, serve apenas para no máximo oito torneios após a volta. Isso muitas vezes leva os tenistas a acelerarem o retorno, apesar das dificuldades físicas e psicológicas da profissão.
"Há quatro meses não podia nem andar até a caixa de correio da minha casa", disse Serena ao ser derrotada pela japonesa Naomi Osaka na estreia no WTA Premier de Miami, seu segundo torneio oficial na volta às quadras. Entretanto, ela ressaltou estar confiante de que conseguirá recuperar o nível em que estava antes de se afastar.
Em 2014, o suíço Roger Federer pegou cinco dias depois de ser pai de gêmeos, e o francês Jo-Wilfried Tsonga se ausentou de apenas um torneio no ano passado, justamente em Miami, para ficar perto da mulher, que estava grávida.
A distância dos sacrifícios que homens e mulheres precisam fazer nesses momentos é grande, mas Azarenka, 186ª colocada do ranking, quer que essa pressão sobre elas diminua.
"Meu objetivo é proteger as mulheres que querem formar uma família. Enviei ao Conselho de Jogadoras a minha recomendação sobre mudar a política de maternidade da WTA. Creio que o ranking protegido para as jogadoras que são mães deve ser de pelo menos três anos", afirmou a bielorrussa, que trava uma batalha legal pela guarda do filho, Leo, o que lhe impede de viajar para competir.
A própria Azarenka lembrou que não é habitual que as mulheres tenham filhos durante a carreira, especialmente no tênis. Exceção é o caso da belga Kim Clijsters, outra ex-número 1, que conquistou três dos quatro títulos de Grand Slams de sua galeria após ter dado à luz em 2008.
Os títulos foram possíveis graças aos 'wild card' dados pelos torneios, algo que também beneficiou a americana Lindsay Davenport e agora foram dados a Serena e Azarenka em Miami. A bielorrussa avançou até as semifinais, em que perdeu para Sloane Stephens, também dos Estados Unidos.
Os convites foram dados a elas e tantas outras pela boa fama no mundo todo, mas exclui tenistas que, como lembra a mãe de Leo, "trabalham muito duro e também merecem a própria classificação".
Perguntada a respeito pela Agência Efe, Venus Williams declarou que uma mãe deveria ter todas as oportunidades para estar com os seus filhos. Já a britânica Johanna Konta confirmou que a questão de proteger o ranking começou a ser tratada no Conselho de Jogadoras da WTA em reunião na semana passada.
A associação de tenistas, por sua vez, deixou claro que regularmente revisa as necessidades de transformação. "Estamos vendo mais tenistas que são mães e que escolhem voltar a jogar profissionalmente. A WTA conta com uma série de medidas de apoio", disse a organização.
A romena Simona Halep, que ocupa o topo do ranking, também tem clara aquela que para ela deveria ser a política no circuito. "Em Miami, (Serena) deveria ter sido cabeça de chave número 1. Ela parou para dar à luz, que é a melhor coisa do mundo", destacou.
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