Nas masmorras do futebol sudanês: estrangeiros denunciam abusos no Al Hilal
Isaac J. Martín.
Cairo/Cartum, 22 mai (EFE).- Jogadores e profissionais estrangeiros que foram trabalhar no Al Hilal, do Sudão, denunciaram nesta segunda-feira que o clube reteve seus passaportes para impedir que saiam do país, os puniu por reclamações de atraso nos salários e prorrogou contratos unilateralmente.
O goleiro camaronês Maxime Loic Feudjou, de 26 anos, passou de comemorar a felicidade de jogar por sua seleção na Copa do Mundo de 2014 a não receber permissão do Al Hilal, o clube mais importante do Sudão, para deixar o país para ver sua família.
Feudjou, que está há três anos e meio no país, denuncia que o clube reteve seu passaporte, incluiu seu nome em uma lista negra para evitar que ele possa deixar o território sudanês e não está pagando seu salário.
"Desde janeiro não pagam meu salário. Eles estão com meu passaporte e não consigo sair daqui. Não tenho dinheiro e o problema é que eles não fazem nada para consertar isso", revelou ele à Efe por telefone.
O camaronês contou que queria ir até o Cairo para rever a esposa e pagar o tratamento do filho, que está doente, e propôs à equipe sudanesa rescindir o contrato para poder sair.
No sábado, ele teria se reunido com o presidente do Al Hilal, e os dois teriam concordado em "romper o contrato" por US$ 25 mil, mas o jogador ainda não recebeu o dinheiro, que deveria ter sido pago no mesmo dia.
Para um estrangeiro deixar o Sudão, é necessário um visto de saída que só pode ser concedido se a empresa que o contrata der sua aprovação, uma medida que é aplicada para evitar que os trabalhadores com contas pendentes fujam.
Os dirigentes do Al Hilal justificam o ato alegando que é "normal" que os jogadores entreguem seus passaportes, já que "até os sudaneses, e não só os estrangeiros, também entregam".
A mesma situação acontece com outro estrangeiro da equipe, o nigeriano Azeez Shobola: o clube deve a ele dois meses de salário, se nega a entregar seu passaporte, e nenhum diretor estaria atendendo suas ligações.
Shobola foi nesta segunda-feira à Federação Sudanesa e descobriu que o clube ampliou por mais um mês seu contrato, que venceu na semana passada, sem sua permissão, e teve como única resposta da Federação que ele deveria "voltar depois do Ramadã".
Outro jogador estrangeiro que jogou pelo Al Hilal e preferiu não quis se identificar, contou à Efe que viveu o mesmo problema no clube sudanês.
"Eles pegam o passaporte quando você assina o contrato para que você não fuja. E se você reclamar por não receber salário, não te dão seu documento", disse o jogador, que deixou o clube há meses, mas até hoje não recebeu os atrasados.
"O problema é que eles não sabem respeitar os acordos. Eles pagam o salário de acordo com os resultados que você obtém. Se forem eliminados, criam problemas com os estrangeiros, dizendo que são culpados", acrescentou.
E não são só os jogadores que vivem esta situação. O preparador físico brasileiro Rodrigo Andrade, contratado em janeiro, teve o acesso ao passaporte negado pelo clube em março, quando foi pedi-lo para viajar ao Egito para ver sua mulher e filhos.
A situação se transformou em um problema diplomático e acabou sendo resolvida no início de maio, com a rescisão de seu contrato e sua saída do país, graças à intermediação da embaixada brasileira e do Ministério das Relações Exteriores sudanês.
"A prisão à qual fui condenado não tinha nem cercas, nem chave, nem muro. Meu maior castigo foi pagar pelo erro de querer cuidar da minha família", contou.
O embaixador brasileiro em Cartum, José Mauro Couto, confirmou os fatos e disse que o tratamento dado pelo Al Hilal a Andrade foi "uma crueldade".
Rodrigo Andrade está na capital egípcia depois de ter sido obrigado a abrir mão dos últimos salários e ao pagamento da rescisão contratual, uma situação ilegal que ele denunciou à Fifa.
Segundo o preparador físico, ainda no aeroporto no Sudão, fiscais tentaram impedir que ele embarcasse e, quando chegou ao Cairo, descobriu que suas malas tinham sido abertas e que seu material de treino, avaliado em milhares de dólares e que ele havia comprado antes de começar a trabalhar no clube sudanês, fora roubado.
Contatado pela Efe, o Al Hilal negou que tenha retido o passaporte do brasileiro e afirmou que Andrade teria sido demitido devido ao mau desempenho da equipe, além de alegar que todas as declarações dele não eram verdadeiras.
Cairo/Cartum, 22 mai (EFE).- Jogadores e profissionais estrangeiros que foram trabalhar no Al Hilal, do Sudão, denunciaram nesta segunda-feira que o clube reteve seus passaportes para impedir que saiam do país, os puniu por reclamações de atraso nos salários e prorrogou contratos unilateralmente.
O goleiro camaronês Maxime Loic Feudjou, de 26 anos, passou de comemorar a felicidade de jogar por sua seleção na Copa do Mundo de 2014 a não receber permissão do Al Hilal, o clube mais importante do Sudão, para deixar o país para ver sua família.
Feudjou, que está há três anos e meio no país, denuncia que o clube reteve seu passaporte, incluiu seu nome em uma lista negra para evitar que ele possa deixar o território sudanês e não está pagando seu salário.
"Desde janeiro não pagam meu salário. Eles estão com meu passaporte e não consigo sair daqui. Não tenho dinheiro e o problema é que eles não fazem nada para consertar isso", revelou ele à Efe por telefone.
O camaronês contou que queria ir até o Cairo para rever a esposa e pagar o tratamento do filho, que está doente, e propôs à equipe sudanesa rescindir o contrato para poder sair.
No sábado, ele teria se reunido com o presidente do Al Hilal, e os dois teriam concordado em "romper o contrato" por US$ 25 mil, mas o jogador ainda não recebeu o dinheiro, que deveria ter sido pago no mesmo dia.
Para um estrangeiro deixar o Sudão, é necessário um visto de saída que só pode ser concedido se a empresa que o contrata der sua aprovação, uma medida que é aplicada para evitar que os trabalhadores com contas pendentes fujam.
Os dirigentes do Al Hilal justificam o ato alegando que é "normal" que os jogadores entreguem seus passaportes, já que "até os sudaneses, e não só os estrangeiros, também entregam".
A mesma situação acontece com outro estrangeiro da equipe, o nigeriano Azeez Shobola: o clube deve a ele dois meses de salário, se nega a entregar seu passaporte, e nenhum diretor estaria atendendo suas ligações.
Shobola foi nesta segunda-feira à Federação Sudanesa e descobriu que o clube ampliou por mais um mês seu contrato, que venceu na semana passada, sem sua permissão, e teve como única resposta da Federação que ele deveria "voltar depois do Ramadã".
Outro jogador estrangeiro que jogou pelo Al Hilal e preferiu não quis se identificar, contou à Efe que viveu o mesmo problema no clube sudanês.
"Eles pegam o passaporte quando você assina o contrato para que você não fuja. E se você reclamar por não receber salário, não te dão seu documento", disse o jogador, que deixou o clube há meses, mas até hoje não recebeu os atrasados.
"O problema é que eles não sabem respeitar os acordos. Eles pagam o salário de acordo com os resultados que você obtém. Se forem eliminados, criam problemas com os estrangeiros, dizendo que são culpados", acrescentou.
E não são só os jogadores que vivem esta situação. O preparador físico brasileiro Rodrigo Andrade, contratado em janeiro, teve o acesso ao passaporte negado pelo clube em março, quando foi pedi-lo para viajar ao Egito para ver sua mulher e filhos.
A situação se transformou em um problema diplomático e acabou sendo resolvida no início de maio, com a rescisão de seu contrato e sua saída do país, graças à intermediação da embaixada brasileira e do Ministério das Relações Exteriores sudanês.
"A prisão à qual fui condenado não tinha nem cercas, nem chave, nem muro. Meu maior castigo foi pagar pelo erro de querer cuidar da minha família", contou.
O embaixador brasileiro em Cartum, José Mauro Couto, confirmou os fatos e disse que o tratamento dado pelo Al Hilal a Andrade foi "uma crueldade".
Rodrigo Andrade está na capital egípcia depois de ter sido obrigado a abrir mão dos últimos salários e ao pagamento da rescisão contratual, uma situação ilegal que ele denunciou à Fifa.
Segundo o preparador físico, ainda no aeroporto no Sudão, fiscais tentaram impedir que ele embarcasse e, quando chegou ao Cairo, descobriu que suas malas tinham sido abertas e que seu material de treino, avaliado em milhares de dólares e que ele havia comprado antes de começar a trabalhar no clube sudanês, fora roubado.
Contatado pela Efe, o Al Hilal negou que tenha retido o passaporte do brasileiro e afirmou que Andrade teria sido demitido devido ao mau desempenho da equipe, além de alegar que todas as declarações dele não eram verdadeiras.
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