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Formiga revela orgulho por estar entre desbravadoras do futebol feminino

02/03/2021 18h58

Antonio Torres del Cerro.

Paris, 2 mar (EFE).- Ícone do futebol feminino brasileiro, com o recorde de participações em Copas do Mundo, com sete, a meia Formiga, do Paris Saint-Germain, Formiga admitiu, em entrevista à Agência Efe, que se orgulha de ter aberto o caminho para diferentes gerações de jogadoras.

"Minhas maiores conquistas foram romper o terrível preconceito que sofri na minha casa e a de ver que o futebol feminino hoje está melhorando no Brasil. Posso dizer que minha luta não foi em vão", garantiu a veterana, que completa 43 anos de idade nesta quarta-feira.

Miraildes Maciel Mota, que ganhou o apelido de Formiga pelo incansável trabalho dentro de campo, é uma das bandeiras do futebol feminino mundial, dona do recorde de participações em Copas do Mundo - inclusive superando todos os homens que disputaram o torneio -, tendo jogado em 1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015 e 2019.

A meia ainda se prepara para disputar pela sétima vez os Jogos Olímpicos, de que foi medalha de prata em 2004 e 2008. Além disso, disputou o torneio de futebol feminino do evento poliesportivo em campo em 1996, 2000, 2012 e 2016.

Com 200 partidas disputadas pela seleção brasileira, a pequenina jogadora, de 1,62 metro e 55 quilos, foi testemunha privilegiada da evolução da modalidade para mulheres nos últimos 25 anos. Apesar disso, admitiu que ainda ouve que mulheres não podem jogar futebol.

"O que digo a essas pessoas? Não digo nada, continuo jogando e demonstro que sei jogar melhor do que elas. Muitos deles não chutaram uma bola na vida, e a única coisa que fazem é mandar a mulher ou a filha lavar roupa, fazer comida", respondeu a meia.

Na infância, diante da falta de modelos femininos, Formiga acompanhava atentamente o futebol masculino. Hoje, ela conta que o capitão do tetracampeonato mundial do Brasil, Dunga, era seu ídolo.

"Era de muita luta, fantástico. Me inspirei na conduta dele, na maneira com que se cuidava, com que treinava", disse.

INFÂNCIA AGUERRIDA.

Nascida em 3 de março de 1978, em Salvador, na Bahia, Formiga deixou a casa dos pais aos 12 anos, para ir em busca de um sonho, em caminho que admite ter sido cheio de obstáculos, já que era a única menina, em meio a outros quatro irmãos.

"Eles não gostavam de me ver jogando com outros meninos, nem conseguia jogar com as meninas, porque elas tinham medo de jogar bola com os meninos. Os vizinhos diziam que éramos 'marimachos', que não servíamos para nada", relembrou.

"Meus irmãos me davam chutes, socos e, ainda por cima, se eu contasse para minha mãe, no dia seguinte era o dobro", completou Formiga.

O pai de jogadora morreu quando ela tinha apenas oito meses, e a mãe trabalhava incansavelmente em uma fábrica de medicamentos, conforme conta a meia.

"Ela teve que criar cinco filhas sozinha. Foi uma guerreira, aprendi com ela essa vontade de vencer", afirma.

Segundo Formiga, tudo isso a fez amadurecer, e a luta a faz sentir mais "dor" pelo pouco respeito dado às pioneiras do futebol feminino no país.

"Há falta de reconhecimento de outras jogadoras, que tanto fizeram, que se doaram tanto, como Cristiane ou Marta. É uma pena que o país não as reconheça", garantiu a meia.

SEGREDO DA LONGEVIDADE.

"'Qual é o segredo da longevidade da Formiga?' Claro que a genética ajuda, mas acho que uma atleta de alto nível tem que se cuidar de todas as maneiras possíveis. Tento descansar bastante, não sou de comer muito, um pouco de tudo, sem muitas restrições, mas sem sair das instruções dos nutricionistas", conta a veterana.

Há quase quatro anos na França, defendendo o Paris Saint-Germain, Formiga deixou escapar que não se priva pontualmente de comer os tradicionais croissants locais.

"Em um mês, eu poso comer duas ou três vezes, em um dia de folga", contou.

Recordista em participações em Copas do Mundo, seja entre mulheres ou homens, Formiga apostou nas seleções de França, Itália e, principalmente, a espanhola, como potências para o futuro.

"Vejo o estilo da Espanha, com a bola no chão, com toque, com paciência, parecido com o do Japão. Acho muito bonito, como ver o Barcelona jogando", disse a brasileira, em referência ao auge da equipe masculina do clube catalão.