O ouro de Rogério Sampaio: alegria da vitória e dor pelo suicídio do irmão
Em 1972, Rogério Sampaio era um menino de quatro anos na cidade de Santos e estreou no judô por indicação de um pediatra. 20 anos depois, ele viveria o seu maior momento no esporte: a conquista do ouro na Olimpíada de Barcelona.
Essa história teve um personagem importante. Ricardo Sampaio Cardoso foi a inspiração para o irmão quatro anos mais novo ingressar na modalidade.
“Minha mãe conta que eu fiquei meio em dúvida se fazia judô ou não. Ela conseguiu convencer o meu irmão a iniciar no judô para me incentivar, e nós começamos juntos”, revela Rogério.
Ricardo teve uma carreira vitoriosa. Foi bicampeão brasileiro, campeão sul-americano e campeão pan-americano. Mas entrou em depressão e se suicidou - foi encontrado morto, sufocado por uma faixa preta, em seu apartamento em Santos, em abril de 1991.
Ele era uma referência muito grande pra mim, um ídolo. Perder essa referência foi muito difícil. Essa ruptura de convivência, que era sempre muito intensa, foi de uma hora pra outra. Diariamente ele estava nos meus pensamentos”.
Intensificar os treinamentos foi a maneira encontrada para superar a perda do irmão. E em agosto de 92, há 25 anos, Rogério Sampaio estava em Barcelona para representar o judô brasileiro na categoria meio-leve (até 65 kg).
A conquista do ouro
O brasileiro não figurava entre os favoritos, mas ganhou as três primeiras lutas realizadas no palácio Blaugrana por "ippon" (o golpe perfeito ou a imobilização por 30 segundos).
O combate mais difícil ocorreria na semifinal, contra o então campeão mundial, o alemão Udo Quellmalz. "Sabia que aquela seria a luta mais difícil dos Jogos Olímpicos. Mas não sabia que seria a luta mais difícil da minha vida. E foi".
Antes de subir no tatame para o duelo que poderia colocá-lo na final, Rogério teve uma hora e meia de reflexão, na área de aquecimento dos atletas. E pensou no irmão.
Eu não me lembro de um outro momento da minha vida em que os pensamentos foram tão intensos, e tão fortes, e tantos ao mesmo tempo”.
O triunfo sobre o alemão já garantia a medalha de prata, e a disputa pelo ouro seria contra o húngaro Jozsef Czak. O brasileiro sabia que era melhor do que o seu oponente final. E, naquele 1º de agosto de 1992, atingiu o seu auge. Era a sexta medalha olímpica da história do judô brasileiro e a segunda de ouro - Aurélio Miguel foi o primeiro brasileiro a subir ao lugar mais alto do pódio, em 88.
Eu comparo aquela alegria que senti ao nascimento dos meus filhos. É uma coisa que não cabe dentro de você. Ao mesmo tempo, tinha um sentimento de tristeza muito grande, porque, talvez, a pessoa mais importante para comemorar comigo não estava lá. Era o meu irmão".
Sem dinheiro e de kimono emprestado
Rogério Sampaio diz que, antes de embarcar para a Espanha, prestes a completar 25 anos, sua situação financeira não era das melhores. Ele recorda uma viagem a São Paulo para um treinamento no clube Pinheiros. Seu carro era velho, quebrou e teve de voltar para Santos de guincho. Ficou na garagem por um tempo, porque ele não tinha dinheiro para o conserto.
"Os kimonos que eu tinha estavam todos velhos e rasgados. Eu queria ter um kimono legal para lutar na Olimpíada, e um aluno me emprestou um novo”.
Às vésperas da competição, Rogério realizou um treinamento contra cerca de 30 alunos. Isso mesmo! Ele, sozinho, lutou contra 30 judocas. A atividade, que durou 1h17min, está gravada em VHS até hoje. O objetivo era chegar ao limite físico e emocional. Ao término, exausto, o judoca começou a chorar.
Pensava nisso tudo e falava ‘caramba’... Mas ao mesmo tempo, com todo o sacrifício do treinamento, com todas as dificuldades, ainda assim disputar os Jogos Olímpicos valia muito a pena e era a realização de um sonho."
ESPORTE(ponto final)
A entrevista com Rogério Sampaio foi realizada pelo ESPORTE(ponto final), um canal produzido a partir de depoimentos de ídolos sobre os grandes momentos do esporte.
A cada semana, novos episódios serão lançados na página especial do ESPORTE(ponto final). E você também pode acompanhar nas mídias sociais: youtube.com/esportepontofinal e facebook.com/esportepontofinal.
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