Hortência não esconde de ninguém: seu objetivo era ser melhor do que Paula
Hortência Marcari e Maria Paula são os maiores nomes da história do basquete feminino brasileiro. Juntas, levaram a seleção brasileira a conquistas inimagináveis - a maior delas, o Campeonato Mundial, em 1994.
Mas essa parceria não foi só de vitórias. Tampouco de amizade. A rivalidade entre a Rainha Hortência e Magic Paula marcou a modalidade durante as décadas de 1980 e 90. Quem acompanhou aquele período lembra muito bem: ou você torcia para o time da Hortência ou torcia para o time da Paula.
Para a camisa 4, mais do que vencer, sua meta era ser melhor do que Paula.
A minha grande luta foi sempre ganhar do time da Paula. Isso pra mim foi muito mais do que qualquer coisa. Você tem que ter uma pessoa para te puxar. O que você quer, qual o seu objetivo? O meu objetivo era ser melhor do que ela, era ganhar dela”.
Os jornais e revistas da época alimentavam a rivalidade. As manchetes a seguir são exemplos: “Paula é freguesa de Hortência”; “Duelo sem fim – Elas não podem jogar no mesmo clube e sempre se cruzam nas finais do campeonato. Desta vez Paula dobrou Hortência”; “Briga entre Hortência e Paula ameaça a seleção”.
Hoje, falar de uma sem falar da outra, a história não fica completa.
Amigas íntimas nós nunca fomos e nem vamos ser. Nós somos companheiras. A gente sempre se respeitou e se respeita até hoje. Sempre torci pra ela jogar bem, porque quanto mais ela fazia pontos mais eu tinha que treinar pra fazer mais do que ela. Não vejo minha carreira sem a Paula do meu lado" - Hortência, 57 anos.
Acho que ela foi a grande parceira e a grande concorrente em determinados momentos. Então isso fez a gente crescer. Ela tem uma frase que acho interessante: ‘a Paula foi meu calo bom’. Foram quase 20 anos juntas na seleção, uma parceria de muito sucesso e de muito aprendizado” - Paula, 55 anos.
Rivalidade atrapalhou seleção no começo
As duas começaram muito jovens na seleção. Paula foi convocada pela primeira vez para a equipe adulta aos 14 anos, e Hortência, aos 17.
Com o tempo, carregaram para o ambiente da seleção essa rivalidade. E isso afetava todo o elenco e gerava rachas.
“Eu jogava em Piracicaba, e a Hortência em Sorocaba. Tinham quatro que jogavam comigo e seis que jogavam com ela. Chegava na seleção e ficava ‘ah, sou do time da Hortência’ ou ‘ah, sou do time da Paula’. A gente misturava aquilo tudo, vinha num pacote para a seleção. O ser humano é louco. É a vaidade, o egoísmo”, comenta Paula.
A situação começou a mudar durante uma viagem para o Canadá, quando as duas foram chamadas para defender a seleção do mundo e resolveram se acertar.
“Descobrimos que juntas seríamos muito mais fortes. Com maturidade, experiência e até mesmo a sabedoria de que, se não nos juntássemos, seríamos uma geração talentosa mas sem ganhar nada”, conta Paula.
A medalha das mãos de Fidel
Com Hortência e Paula em harmonia, o Brasil conquistou títulos. Em 91, as brasileiras ganharam de Cuba, em Havana, na final dos Jogos Pan-Americanos. Quem entregou a medalha de ouro foi Fidel Castro.
“O momento mais emocionante com certeza foi a medalha de ouro em Cuba, aquela famosa imagem que todo mundo viu, do Fidel Castro brincando comigo e com a Paula. Foi o mais emocionante porque o Brasil inteiro acompanhou aquilo”, revela Hortência.
A Rainha e a Magic concordam que o título mais marcante da geração delas foi o Mundial de 1994, na Austrália. “Era o quarto Mundial que participávamos, estávamos há 16 anos indo pra Mundiais ficando em 11º, 12º, 9º, 8º... Na cotação das bolsas, estávamos muito longe de chegar entre os três primeiros”, diz Paula.
A final foi contra a China, e a vitória veio sem sustos, por 96 a 87. O grande duelo ocorreu na semifinal, contra os Estados Unidos.
Nós nunca tínhamos vencido uma equipe americana em Mundiais. Foi 110 a 107, um placar de muita pontuação. Ali ficou bem definido que ninguém é imbatível e nada é impossível nessa vida. A gente tem que acreditar, se preparar e fazer as coisas de peito aberto e com paixão”, comenta a camisa 8.
A prata olímpica após a gravidez
Hortência considera a presença nos Jogos de Atlanta como o momento mais difícil de sua carreira. Ela tinha parado de jogar para engravidar de seu primeiro filho, João Victor Oliva, que nasceu em fevereiro daquele ano.
“Tive o meu filho e voltei para jogar uma Olimpíada, e ganhamos uma medalha de prata. Ali foi o momento mais difícil, porque tive menos de cinco meses entre o nascimento do meu filho e estar pronta para jogar uma Olimpíada – não era jogar um Campeonato Paulista ou os Jogos Abertos.”
ESPORTE(ponto final)
As entrevistas com Hortência e Paula foram realizadas pelo ESPORTE(ponto final), um canal produzido a partir de depoimentos de ídolos sobre os grandes momentos do esporte.
A cada semana, novos episódios serão lançados na página especial do ESPORTE(ponto final). E você também pode acompanhar nas mídias sociais: youtube.com/esportepontofinal e facebook.com/esportepontofinal.
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